Mugano 07/01/2024minha estanteSugiro fortemente que troque a palavra "preconceito" para críticas, visto que os pensamentos dela em seu embasamento histórico - e argumentação bem estruturada - simplesmente apontam a questão social ao que você chama de preconceito. Se você não refletir nesse ponto, sempre que comentar sobre a Djamila você automaticamente vai dizer "ela tem preconceito com homem branco que acredita em meritocracia etc", em vez de discutir o que ela de fato problematiza: a relação histórica e opressora do grupo social de homens brancos e elitistas em função dos outros grupos - ditos oprimidos. Reforço: se você não refletir sobre isso e amadurecer suas próprias ideias, você não vai conseguir manter uma crítica construtiva a respeito.
"Enfim, é o feminismo no seu estado puro."
Se você buscar - de maneira neutra, crítica e sem influência de uma opinião sem fundamentos sobre o tema - a definição do que é o feminismo, dos propósitos do movimento, de como tem influenciado positivamente a sociedade como um todo, você vai perceber que sua frase não tem lógica nem coerência. Esse mesmo livro da Djamila já deixa claro essa ideia, mas se você não compreendeu, sugiro um da bell hooks: O feminismo é para todos. Sim, nada de formar uma opinião com achismo ou com pessoas com o mesmo pensamento que você. Seja engajado o bastante para entender o tema direto da fonte.
"Diz ela para os negros negligenciaram a norma culta colonial da escrita e fala."
Incorreto. O que ela diz é que deve-se haver uma inclusão geográfica para que pessoas em sua linguagem regional não sofram preconceito linguístico aos pensarem suas ideias, o que acontece bastante na sociedade elitista. É simples isso, não tem muito o que explicar.
"...é preciso que essas pessoas estejam capacitadas para os cargos que pretendem."
Clássico argumento de quem acredita em meritocracia. Sugiro que compreenda a diferença entre "igualdade" e "equidade". Depois, sugiro que compare questões geográficas de brancos com negros, e se possível, com negras, ou seja, a rotina social de cada indivíduo é necessariamente a mesma em todos os aspectos? "Obviamente que não", você poderia dizer, e pra isso vc se embasaria de que cada pessoa é uma pessoa diferente, e a que tiver mais ambição merece ganhar. E é aqui que você excluiria todas as questões sociais que para você seriam inerentes. Sugiro que reflita sobre essas questões, também não é algo difícil de fazer. É difícil de sentir (talvez impossível), mas de fazer ou de entender, não é difícil não.
"...não porque escreveu algo de novo ou interessante, mas porque divulgou o trabalho de outros, muito provavelmente, só por causa da cor de sua pele e suas convicções políticas."
Bom, você leu 2 livros dela e ainda não compreendeu como um pensador atua na sociedade. O livro está recheado de citações de outras autoras e a Djamila reforça seus pensamentos em cima de um construção argumentativa já estruturada, reforçando pontos e criticando outros (sim, você deve ter notado ela criticar uma citação da Spivak, por exemplo, começando com uma argumentativa de outras autoras e reforçando - completando - o argumento com suas próprias ideias. É bem básico isso, para falar a verdade. Se ajuda, tem uma citação do físico Isaac Newton: "Se enxerguei longe é porque estava sob ombros de gigantes." Reflita sobre).
Assim, tem muitas coisas pra você analisar, sabe. Refletir e tals. É difícil isso porque é tão confortável você falar das suas ideias que você está convictamente firme de que estão corretas. Mas se você de fato quiser ter ideias boas (inclusive ideias próprias e com fundamentos), sugiro que faça essas reflexões e depois de um tempo releia a obra, ou então leia outras obras que abordam seriamente do feminismo para entender melhor. Isso se chama "desconstrução" e é bem interessante você se ver livre do que de fato um dia foi uma cultura de ódio e puramente cega.
Espero que minhas palavras tenham chegado bem em você - e espero uma próxima resenha sua, beleza?