Fran Ferreira 24/04/2021Eu nunca ouvi falar nesse livro, até que ele chegou em minhas mãos do nada, o engraçado foi eu ter trocado a minha próxima leitura por ele, me deu um "faniquito" em ler que não sei explicar. Foi o primeiro livro que li sobre feminismo, neste caso, incluindo o racismo.
Foi uma experiência de leitura bem diferente, acredito pelo fato de não saber o que esperar ajudou a prestar mais atenção. Considero uma leitura que não foi "escolhida" por acaso, e sim uma forma de me ligar de fato e ler os livros que tenho parado aqui a tempos.
O livro explica o Lugar de Fala de uma forma fluida, fácil de entender, que você lê rápido, (mesmo já sendo um livro bem pequeno em tamanho).
A forma como DJalma exemplificou me ajudou a visualizar o que ela queria passar, a forma como as mulheres lidavam com a situação.
Esse livro me deu uns bons "tapas na cara", mais uma vez me dei conta o quão é fácil ficarmos em uma "bolha" e nem prestarmos atenção em como alguém pode ser outra a forma de luta das pessoas, como de fato a história se originou e com, dar os créditos pra quem realmente é dona (o) deles.
Lugar de Fala pra mim é muito auto explicativo, traz pontos exatos sem enrolação, vai direto ao ponto mas sem agressividade, porém, te dá um choque de realidade que te faz pensar sim, "acordar".
Foi uma leitura bem proveitosa, cheia de post-its, levo dela um bom aprendizado e uma vontade mais clara de conhecer mais sobre o feminismo e sobre a própria coleção feminismo plurais, já anotei uns artigos e livros pra ler, são tantas e tantas histórias, experiências, momentos diferentes vividos que quero aprender mais.
Eu vou ousar em dizer que está é uma leitura que deveria estar nas escolas (se não estiver), me deu a sensação de que na minha época escolar, o que aprendi foi bem superficial e que dá sim para o assunto sobre racismo ser aprofundado, então recomendo com toda certeza esse livro pra quem me perguntar.
O livro trás no fim notas explicativas que ajudam a ter um norte a mais sobre a citações do livro e o melhor, onde você pode encontrá-las.
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Abaixo colocarei alguns trechos que marquei: .
"E o risco que assumimos aqui é o ato de falar com todas a implicações. Exatamente porque temos sido falados, infantilizados (infans é aquele que não tem fala própria, é a criança que se fala na terceira pessoa, porque falada pelos adultos) que neste trabalho assumimos nossa própria fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa." (Lélia Gonzalez - Racismo e sexismo na cultura brasileira)
- Segundo Lélia Gonzalez: "o racismo se constituiu "como a 'ciência' da superioridade eurocristã (branca e patriarcal)." "Essa reflexão de Lélia Gonzalez nos dá uma pista sobre quem pode falar ou não, quais vozes são legitimadas e quais não são." pág. 24
- "Gonzalez evidenciou as diferentes trajetórias e estratégias de resistência dessas mulheres e defendeu um feminismo afrolatinoamericano, colocando em evidência o legado de luta, a partilha de caminhos de enfrentamento ao racismo e sexismo já percorridos. Assim, mais do que compartilhar experiências baseadas na escravidão, racismo e colonialismo, essas mulheres partilham processo de resistência". pág. 25
- "Em "Intelectuais Negras", bell hooks fala sobre o quanto as mulheres negras foram construídas ligadas ao corpo e não ao pensar, em um contexto racista". pág. 27
- "Em "O Segundo Sexo", Bevoir argumenta sobe o fato de que, quando indivíduos são mantidos em situação de inferioridade, eles de fato são inferiores, ela nos alerta sobre como precisamos entender o alcance da palavra ser. Segundo a filósofa, o problema é dar um valor substancial à palavra ser quando ela tem o sentido dinâmico hegeliano. Ou seja, "ser é ter-se tornado , é ter sido tal qual se manifesta. Sim, as mulheres, em seu conjunto são hoje inferiores aos homens, isto é, sua situação oferece-lhes possibilidades menores". pág. 42
- "Há pessoas que dizem que o importante é a causa, ou uma possível "voz de ninguém", como se não fossemos corporificados, marcados e deslegitimados pela norma colonizadora. Mas, comumente. só fala na voz de ninguém quem sempre teve voz e nunca precisou reivindicar sua humanidade. Não à toa iniciamos esse livro com uma citação de Lélia Gonzalez: "o lixo vai falar, e numa boa"". pág. 89/90