notmuchcompany 22/09/2020
Levei cinco meses para ler, mas aguentei firme. Não é de todo mal, mas tem pequenos problemas que prejudicam o conjunto:
O primeiro seria a narrativa apressada. Não só no ritmo afobado que parece que a narradora quer enfiar coisas na nossa mente a 300km/h, mas porque abusa bastante do sumário narrativo e muitas passagens poderiam ser mais mostradas ao invés de contadas.
Outras pessoas já comentaram e eu concordo: não há diversidade alguma. As personagens são "lindas", "deslumbrantes", brancas, magras, loiras, esportistas natas, com olhos claros e é dada muita ênfase a isso. Demais.
Não bastasse isso, elas têm vozes superficiais que soam exatamente as mesmas. Tanto que em inúmeros momentos é impossível saber quem está falando o quê sem a ajuda de tag verbs. Elas têm o mesmo vocabulário, as mesmas expressões, o mesmo jeito de falar. Na última parte do texto, a narradora usa "cadafalso" e dali duas ou três personagens usam a mesma palavra.
E há inverossimilhanças nos comportamentos. Sim, sei que elas passaram por inúmeras mudanças, amadureceram, viveram... Mas, de alguma forma, muitas ações parecem repentinas e descabíveis. Não é uma impressão favorável.
Os vícios de linguagem da narradora também cansam. "Fulana é assim, já sabemos disso". Atalhos. Ok.
A história é boa, e a autora faz uso de boas técnicas, mas parece que faltou estrutura e planejamento. Há elementos que surgem do nada e conferem um pouco de deus ex machina, algo que pode ser encarado como apelativo, uma saída fácil.
Uma coisa que me incomodou demaaaaais: a premissa é sobre Rafaela, a sinopse é sobre ela e a relação com a Ali, mas ela perde bonito o papel de protagonista. A irmã, Arantxa, invade muito do tempo - em uma história paralela que poderia ter virado um livro próprio. Aí a outra irmã, Lara, tem pouquíssimo destaque, e só mais ao fim.
Os personagens masculinos, então...
O enredo se arrasta de forma exaustiva. Chegou um ponto em que eu só pensava que já deveria ter terminado. E olha que gosto de longas narrativas. Muita tensão desnecessária foi criada só pra conferir teor dramático, textura. Mas não acho que foi bem sucedido.
E por fim, mas algo que tá se tornando quase uma marca registrada de auto-publicações: falta de revisão. Gente. Básico. Revisão e leitura crítica, vale a pena investir (lançando a campanha, haha). Pontuação, síntaxe, parágrafos, estruturação das frases... Quando a gramática falha, muita coisa falha junto. Juro que quase desisti quando já na primeira página vi as aplicações errôneas da vírgula. Dá um cansaço, sério mesmo.
Mas como disse no início, aguentei firme. Foi meu primeiro contato com a autora e sou total a favor do benefício da dúvida.
Também como eu disse, não é de todo mal, há uma boa história por trás. A mensagem é interessante, as cenas de sexo são boas, envolventes, e a arte do livro é muito lindinha. Os detalhes sobre os locais, os esportes, as comidas, foram muito bem executados. Há imersão.
Infelizmente, foi tudo conduzido de uma forma que deixou passar muito do potencial e lamento, porque a autora teria muito mais força no mercado se prestasse atenção nisso.