Jow 13/06/2011Uma crítica ao fenômeno que entendemos por Fé."Como assim, "temer a Deus"? [...]
Como é que eu devo ter medo do que é só amor?
Perceba a cumplicidade entre espinho e flor
Quem não julga o desigual, nada vai discriminar
Se tudo é divino, tudo em Deus tem seu lugar. "
Verdade Oculta – Jorge Vercillo
Das coisas que mais me chateavam na minha infância, uma delas era ouvir um adulto me dizer: “Não faça isso, Deus Castiga!” Como pode, alguém que transborda amor, pode castigar aquilo que deveras acreditamos, Ele mesmo criou.
Este foi um questionamento que levei durante toda a minha adolescência e só vim encontrar uma resposta satisfatória, depois de uma homilia mais que espirituosa de um padre Italiano chamado Adone Favrin (do qual, tenho imenso carinho e respeito), um verdadeiro Teólogo e sacerdote e que na sua imensa sabedoria disse: “Deus não castiga ninguém! O que nos acontece é apenas um reflexo dos nossos próprios atos e escolhas. Colocamos a culpa em Deus para aliviar a nossa culpa, para reprimir a mente dos fracos, e para justificar aquilo que é injustificável. “
Acredito que Saramago compartilhe do pensamento do meu amigo padre. Saramago, um ateu por natureza, assim o foi, por não aceitar as facetas que o homem dá ao seu próprio Deus. Se Deus é divino, como pode que as suas atitudes sejam devassas, julgadores, macabras e assassinas? “In Nomine Dei” é uma peça teatral com um cunho poético/teológico marcante, que expressa constantemente a revolta de um homem que não consegue aceitar o modo pelo qual, outros homem manuseiam a palavra de Deus. Um homem que questiona o porque da subjulgação, dos flagelos corporais, da intolerância, da opressão e das guerras, que os homens querem justificar como “A Vontade de Deus.”
Para Saramago, não importa a religião. Os atos incompreensíveis que são “justificados” por uma frase retirada de um Livro Sagrado e que é distorcida, a aceitação de uma atitude radical, não merece ser tido como uma Vontade de Deus. Procurar as faltas religiosas e exaltar os seus “acertos” são maneiras abusivas e anti-teleológicas. Os “homens de Deus” ultimamente procuram mais a guerra que a paz, e buscam como o próprio Saramago mesmo diz: “Um modo ‘divino’ que justifique a maldade que há em seus corações”.
Concordo com Saramago, e vi nessa sua obra a manifestação de um homem que não é um descrente em Deus, apenas naquele que tem as rédeas de sua palavra nas mãos. E é triste ver, que esse mundão de Deus, está rumando não para a paz e para o respeito, mas sim, para a Escatologia mesquinha e intolerante, tudo isso “In Nomine Dei”...