Flávia Menezes 15/02/2022
O BRINCAR COM CASINHAS DE BONECAS NUNCA MAIS SERÁ O MESMO.
?Pequenas Realidades?, de Tabitha King, foi primeiramente publicado em 1981, e republicado pela Darkside, pelo selo DarkLove, em 2019, em uma edição de capa dura belíssima, com páginas com margens cor de rosa simplesmente encantadora, sem perder o caráter do terror.
Esse é o meu primeiro contato com a escrita da Sra. King, e me abri inteiramente a essa história, deixando de lado qualquer comparação com a escrita do marido, deixando de lado o fato de saber que ela é a primeira leitora de todas as histórias escritas por Stephen King, e a principal responsável por resgatar Carrie do lixo, e transformá-la no grande sucesso que ela se tornou.
Logo nas primeiras páginas, nos deparamos com uma escrita mais detalhista, sóbria, mais fria, e com uma variedade de personagens que requer mais atenção para não nos perdemos. Não senti muita pressa em tentar entender em para onde a história iria seguir, afinal, a sensação inicial é entender um pouco a complexidade da personalidade dos personagens desenvolvidos por Tabitha. E no começo da história, confesso que a narrativa mais austera, e os personagens mais carregados, até me causaram certa curiosidade, e me prenderam. Mas essa atração inicial por toda essa estranheza, não se manteve por muito tempo.
Conforme a leitura avança, o ritmo se torna cada vez mais lento, o que surpreende, pois essa é uma regra que todo escritor conhece bem: descrições desaceleram a leitura. E como os personagens, em sua grande maioria, possuem essa essência muito carregada, fica difícil sentir empatia e se conectar com eles.
Confesso que isso é algo que me bloqueia, pela história trazer personagens com excesso de frustração, dificuldade de mostrar afetividade, e de ausência de expressão de emoções e sentimentos. Isso dificulta, porque eles estão muito distantes do meu mundo real. E confesso que chego ao final sem me conectar e me sentir atraída por nenhum personagem dessa história.
Referente a trama, ela traz um lado sombrio muito inteligente. E muito embora eu tenha chegado ao final um pouco ansiosa para terminar logo essa leitura, não há como negar a genialidade da autora. Claro que alguns momentos são excessivamente chocantes, e isso quebra um pouco a beleza da cena. Mas, enfim. Para mim, é um terror clássico, que traz por trás dessa estranheza toda desse universo disfuncional da paixão pelas casas de bonecas, questões como as frustrações por relações que não deram certo, as obsessões por controle, as inseguranças, escolhas erradas, as relações tóxicas e as infâncias problemáticas.
Apesar de não ter sido uma leitura tão fácil, e não tão atraente, foi interessante conhecer a escrita da mulher que opina em muitos dos livros que eu tanto amo. E foi mais interessante ainda perceber como o Stephen King é muito mais romântico do que a esposa. Em como a escrita dela é muito mais sóbria, muito mais prática e mais racional, do que do King. Quem diria, hein? Eu, certamente que não!