Thalissa.Betineli 19/03/2021minha estanteOlá, Priscila, boa noite.
Não costumo me importar com críticas, afinal, ninguém tem o poder de agradar a todos, então, respeito sua opinião sobre o desenvolvimento referente a atitudes dos personagens . Achá-los infantis é sua opinião pessoal, assim como se acredita que a trama é arrastada ou sem tantas reviravoltas. Assim como teve gente que adorou, se emocionou e se envolveu, tudo bem você não ter se sentido desse modo.
Contudo, aqui precisamos pontuar duas coisas: de que forma errada você acredita que trabalhei o Transtorno Obsessivo-Compulsivo de Camira? Pergunto pois fiz estudo sobre a doença e, em momento algum, busquei romantizar, agilizar o processo ou torná-lo banal. Quando tratamos de uma doença psicológica em livros, precisamos ter responsabilidade, pois há leitores que se identificam e estão passando por isso. Por que digo isso? Porque recebi feedback de leitoras com TOC, conheci outras, e antes mesmo de escrever, tive algo muito importante para poder levar para o papel: experiência. Convivi e conheço pessoas com TOC, que passaram por situações semelhantes em questão de manias, além de resistir ao tratamento. Também tive o parecer de algumas psicólogas que leram o livro e gostaram de como a doença foi levada. De que forma você pode dizer que abordei errado? É a sua luta? Seu conhecimento de causa? Pois se for, espero de coração que me aponte exatamente os erros para que eu os corrija, se eles foram feitos de forma irresponsável. Se você só está se baseando em sua opinião, repense se por acaso não está banalizando a doença.
A resistência por tratamento não acontece apenas com o TOC, mas com muitas outras. Por que expus a do TOC? Porque uma grande parte da sociedade vê o transtorno como uma simples mania, que não precisa de tratamento, que é uma frescura ou a pessoa faz porque quer. Que não sofre por isso. Exatamente por conta do quanto é difícil você aceitar que possui sim um transtorno, aceitar os remédios - que não são tão bons na fase da adaptação! -, e ter sempre o acompanhamento médico, quis abordar com Camira. Não é porque ela é mulher adulta, que ela precisa ter controle emocional, tomar somente atitudes certas e aceitar tratamento porque é a mocinha de um livro. Retrato a realidade de muitas pessoas que foram "empurrando" seus transtornos por vergonha, por medo e porque a sociedade, em sua maioria, julga e banaliza doenças psicológicas. O livro não foi desenvolvido para ter grandes reviravoltas, mas para pontuar sobre o sofrimento de quem convive e tem o TOC.
Sobre seu pai tratar Camira como uma menina... Acredito que não tenha percebido que ali também havia outro problema: dependência emocional. Pode não conhecer, mas também estudei e conheço pessoas adultas, que são tratadas como "menininhas" por seus pais, como se nunca tivessem crescido. Além de tudo, Nelson é abusivo, possui diversos problemas também, e não foi criado um enredo ao redor dessa relação apenas por criar. Cada relacionamento neste livro teve sua importância e motivo. Outra vez, é muito fácil vermos de fora um relacionamento familiar abusivo e dependente e apontar o dedo de que não estão certos. Só que, muitas vezes não paramos para pensar que quem está passando por isso, não vê. Violência doméstica não é vista de forma tão rápida!
De forma geral, se o seu estilo de leitura não é com livros que abordem transtornos de forma mais crua e real, acredito mesmo que Inabalável não é para você. Antes de desmerecer a luta da doença, pesquise sobre ela, converse com pessoas que passaram por experiências semelhantes e repense se, sua opinião baseada em uma visão distante, é coerente com as batalhas do cotidiano.
No mais, espero uma boa leitura para você.
Thalissa Betineli.