Math 23/10/2020
BELO E PROFUNDO
Trabalhei com Nirlando Beirão. Sem dúvidas um lorde, um homem com um olhar diferente sobre o mundo, que captava detalhes ínfimos e os diagnosticava como absolutamente significantes. Um ohar de artista.
No universo jornalístico em que tantos egos se esbarram, Nirlando era um refúgio, tão grande quanto os maiores, mas lidando de modo especial com todos, sem restrições. Era um Bon Vivant ao modo antigo, o que demonstra sua sabedoria para além das canalhices, etiquetas e discursos enfadonhos dos que se dizem grandes e merecedores, sem que realmente o sejam, ele foi, e viveu.
Maravilhoso perceber que, após anos sonhando com a escrita de um livro, este homem o concebeu com as últimas forças que tinha, no final de sua trajetória, escrevendo com apenas os dedos de uma mão. No lançamento da obra sequer essa mão ele podia mover, o pessoal da editora carimbava o livro com a assinatura deste grande homem, que lá permanecia a olhar tantos amigos e entes queridos, com "Meus começos e meu fim" ali, na bancada, como a dizer ao mundo: "Blefas? Dobro a aposta".
O livro é suave, fluído e agradável como só um homem que viveu da escrita consegue fazer. Uma inspiração, essencialmente na honestidade de cada relato. Aquilo sobre o que ele não queria falar ele não falou. No mais, fez-se transparente. E se no começo no livro Nirlando apresenta-se como alguém extremamente duro consigo mesmo, no final o livro transforma-se, torna-se doce, e aceita, tudo.
Bukowski dizia: "You can't beat death, but you can beat death in life, sometimes".
Para mim não existem melhores palavras para definir este livro: Nirlando venceu a morte, em vida.