Diário da tua ausência

Diário da tua ausência Margarida Rebelo Pinto




Resenhas - Diário da tua ausência


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Ewerton 14/05/2012

Trechos - Diário da tua ausência
(...) espero por ti porque sei esperar, porque nos genes ou na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar por ti. E eu gosto de ouvir essa voz a embalar-me de noite antes de, tantas e tantas vezes, te encontrar nos meus sonhos, e a acalentar-me de manhã, quando um novo dia chega e me faz pensar o quào longa e inglória pode ser a minha esperança (pg. 19).

As pessoas ficam juntas pelas razões erradas; para esquecer outras pessoas, para mudar de vida, porque acham que chegou a altura de fazer o que todos esperam que se faça; casar e ter filhos. Raramente ficam juntas de uma forma livre e totalmente sincera. Raramente se unem de uma forma pura e verdadeira, por amor (pg. 22).

Nunca se falou tanto e tão abertamente de amor e casamento e no entanto nunca um e outro foram tão banalizados. A sociedade de consumo transformou um e outro em produtos acessíveis e os tempos modernos vendem-nos como se viessem juntos na mesma embalagem. A ideia do amor como sinônimo de casamento, e este, um passaporte para a felicidade, tornou-se uma indústria para a música, a literatura e o cinema (pg. 23).

Trocas de palavras que são diagnósticos de graves doenças; o que fica por dizer é muito pior do que se disse, mas há um medo tão grande de enfrentar a verdade que se deixa subentendido que é demasiado duro para ser dito (pg. 25).

O maio obstáculo da alegria é muitas vezes a ambição a alegrias maiores (pg. 26).

O medo, essa força misteriosa que nos rouba a alegria e o sonho, devia vir no dicionário como antônio de vontade. O medo é como um terreno minado; nunca o atravessamos mesmo que do outro lado estejam todos os nossos desejos. Ou talvez ele fosse minado por outra grande ilusão da sociedade moderna; talvez procurasse de tal forma a perfeição que nada lhe chegava para ser feliz (pg. 27).

Somos o nosso passado e ignorá-lo ou escondê-lo é uma forma de covardia (pg. 27).

A minha imaginação fértil reconstrói vezes sem conta a tua imagem abençoada cuja recordação gosto de incentar para meu deleite e consolo nos dias em que a tua ausência se torna mais pesada no meu coração (pg. 32).

Porque o amor é mesmo isto; olhamos para o objeto amado no pedestal onde nós o colocamos, como um sonho impossível, uma nucem que quase consegue tocar, uma imagem à qual queremos ascender, uma miragem na qual desejamos mergulhar para sempre (pg. 37).

Apaixonamo-nos para nos podermos elevar do mundo como ele é, dos seus cinismos e da sua brutalidade inevitável (pg. 37).

O amor serve para voar por cima das coisas más (pg. 37).

Se calhar sou doida, sofro da mais antiga enfermidade do ser humano e que ainda nenhum cientista se lembrou de diagnosticar, estudar e classificar como uma patologia: não sei viver sem amor (pg. 41).

Preciso de amar e ser amada para viver sem me deixar engolir pela realidade, sem se sentir que estou a lutar para me manter à tona (pg. 41).

A vida sem amor é para mim uma questão de sobrevivência, um deserto imenso e assustador, um vazio do tamanho do buraco negro. Porque antes de tudo e depois de tudo esta o amor (pg. 41).

(...) tudo acaba, tudo passa, tudo se desfaz, se desfigura, se dissipa, se enterra ou se transforma, mas o amor nunca acaba, porque é impossível viver sem amor. Mesmo que só existam palavras, o amor vive-se na mesma (pg.41-42).

Tento ocupar-me com tudo o que a vida me vai dando, mas há dias em que o vazio é mais forte, em que as palavras não saem dos dedos para me acompanhar na solidão do meu trabalho, e no qual só elas me podem acompanhar. Há dias em que me sinto cansada, vazia, esgotada, sem nada para dar. Nesses dias, enrosco-me numa manta como um bicho, desligo o computador e vejo televisão, tentando alhear-me da minhs própria tristeza, esperando que o dia seguinte me traga a energia que preciso para trabalhar (pg. 42).

Gosto de acreditar que tenho o dom de tornar realidade as minhas ficções (pg. 43).

Somos nós, com os nossos passos, que vamos fazendo o nosso próprio caminho. Há quem corra demasiado depressa e perca a alma no trajeto, há quem mude de ideias e arrisque um atalho, há quem não saiba escolher a melhor direção quando chega a uma encruzilhada, há quem deixe pedras pelo caminho para não se perder, se precisar de voltar para trás (pg. 43).

Sei que há uma força estranha que me faz correr para ti, embora nunca, em nenhuma circustância, corra a~rás de ti, porque não posso, não me é permitido interfirir no teu destino e mudar o curso da tua vida. Isso, terás que ser tu a fazê-lo, por ti e para ti, se assim o entenderes (pg. 44).

O amor cega-nos com toda a sua luz e força. Sabemos que estamos cegos, só nunca sabemos o quanto essa cegueira nos pode afastar da realidade (pg. 45).

(...) eu precisava de ouvir a tua voz e tu a minha, tínhamos uma sede imensa de nos conhecermos melhor, de nos apoiarmos e nos entendermos, de sentirmos que tudo o que tínhamos intuído era verdade e se confirmava: a familiaridade, a proximidade sem esforço, a confiança um no outro, a capacidade para sonhar juntos uma coisa que nenhum de nós sabia o que seria, mas em que ambos acreditávamos como se vivêssemos outra vez o nosso primeiro amor (pg. 45).
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