Lutas Camponesas no Nordeste

Lutas Camponesas no Nordeste Manuel Correia de Andrade




Resenhas - Lutas camponesas no Nordeste


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Iandrah 28/03/2013

ANDRADE, M. C. de. Lutas camponesas no Nordeste. São Paulo: Editora Ática, 1986. Por Iandra Oliveira Brito*.
Manuel Correia de Oliveira Andrade, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife (1945) e licenciado em Geografia e História pela Universidade Católica de Pernambuco (1947). Escritor, historiador, geógrafo, advogado e professor, Andrade também foi Foi coordenador dos cursos de Mestrado em Economia e em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco e Diretor do Centro de Estudos de História Brasileira (CEHIBRA) da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Amante da leitura e Autor de mais de 100 e livros e 250 artigos publicados, dentre suas obras de grande destaque podemos citar “A terra e o homem do nordeste”, "O planejamento regional e o problema agrário no Brasil" e "Nordeste: espaço e tempo" dentre muitas outras.
Em se tratando de “Lutas camponesas no nordeste”, Andrade coloca em evidencia a figura do camponês que em sua configuração encontra-se certa complexidade, uma vez que não é expressão clara da dicotomia característica do modo capitalista de produção (assalariado X burguês), e diferente do agricultor familiar, traz consigo um histórico de luta e resistência, se conservando não-capitalista mas, contraditoriamente acaba contribuindo com a reprodução desse modo de produção. Contudo, o autor analisa o camponês subdividindo-os entre aqueles que passaram por um processo de expropriação e passaram a viver da venda da sua mão de obra, e ainda, os que mesmo sendo detentores de uma porção da terra e utensílios de trabalho, no período de suspensão de suas atividades, prestam serviços sem vínculos empregatícios em grandes e médias propriedades de outros donos.
A análise do autor se dá através de um contexto histórico que envolve expropriações, disputas por território, conflitos, sangue. Desde a época da colonização, se estendendo durante toda a história do Brasil, embora para Andrade o termo campesinato tenha repercutido no Brasil apenas em meados do século XX com o surgimento das lutas de ligas camponesas.
Partindo de um constructo histórico que envolve os sistemas de povoamento estabelecidos ainda no Brasil – colônia, pelos Sistemas de Capitanias Hereditárias, Sesmarias e afins, ocasionou a divisão desigual de terras ainda presente na estrutura fundiária atual nordestina e brasileira como um todo, que, juntamente com outros processos que atuaram fortemente na expropriação (pecuária, modernização da agricultura, criação de gado, etc.), incitou os camponeses a se organizarem e à lutarem pela Reforma Agrária, formando o Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Com a união do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e dos Sindicatos Rurais, sugiram as Ligas Camponesas que passaram a ter forte influencia no nordeste e em posteriormente no Brasil através de suas conquistas. Fora vítimas de grandes perseguições por parte dos latifundiários, vários militantes do movimento foram assassinados defendendo seus ideais e lutando pela reforma grária. Choques de ideologias fizeram com que o PCB e as ligas camponesas se separassem e cada uma passou a defender seus interesses separadamente. Neste contexto, a igreja Católica que em outro momento aparecia como repressora e controladora de movimentos de reivindicação social, passa a atuar em defesa da causa dos camponeses organizando os Sindicatos Cristãos que mais tarde foram reconhecidos pelo Ministério do Trabalho.
As Ligas Camponesas, assim como os demais movimentos de cunho comunista foram enfraquecidos com a ditadura implantada com o Golpe de 1964, readquirindo força somente em 1970, nessa mesma década os Movimentos Sindicais ressurgiam e através das constantes lutas, greves e incessantes reinvindicações por melhores salários e condições de trabalho, os trabalhadores tem se mobilizado cada vez mais, e assim, conseguido alcançar alguns dos objetivos propostos. Contudo, a expropriação ainda é um problema, só que agora promovido pelas em presas estatais que desapropriam principalmente posseiros de terras beneficiadas por infra-estrutura para a irrigação. Vale ressaltar que ainda hoje, essas expropriações acontecem por meio de intimidação e violência.
Andrade desenvolve uma interessante discussão nesse livro e busca nas bases históricas que influenciaram diretamente nos processos de construção e desenvolvimento da figura do camponês, dos quais sempre fizeram parte as lutas travadas pelo direito à propriedade da terra e melhores condições de trabalho tanto no Nordeste quanto em todo o território brasileiro.

*Discente do IV semestre do curso de Geografia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB.
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