Michelly 16/11/2023O lado obscuro da ciência alimentar: muito além do "Danoninho vale por um bifinho"Este é um livro excelente. Aprecio as teses da autora e o esforço que ela faz em questionar certezas que foram implantadas em nós pela indústria. Há algum tempo, venho explorando uma literatura relacionada à saúde alimentar para analisar algumas das teses mais difundidas no imaginário popular. Muitas dessas teses sempre envolvem o argumento de que o processado X é benéfico para o sintoma X, Y, Z. Como resultado, o alimento in natura, essencial desde tempos imemoriais, muitas vezes é disfarçado como o lobo mau, sendo cada vez mais esquecido e substituído por veneno em caixa (de plástico ainda por cima).
Não é preciso mencionar as consequências de uma ciência que, aliada à indústria, tende a sucumbir ao discurso publicitário. Quanto mais polêmica a inverdade, maior a probabilidade de a mídia lucrar com base nos cliques, transformando-a em um fato popular de tanto ser comentado por aí. Estamos ou não estamos em apuros? A saúde está em frangalhos, e o clima está fora de controle.
E ainda existem profissionais e pesquisadores de renome, não apenas nos EUA, mas também no Brasil, que persistem em se alinhar em prol da desinformação por uma taxa gordinha, também muitas vezes magrinha, viu? Eu sabia que havia um patrocínio da indústria alimentícia por trás da desinformação para favorecer produtos ricos em gordura saturada, sal, conservantes diversos e outras formas criativas de veneno. No entanto, me surpreendeu um pouco que essas pesquisas publicitárias ocupassem um lugar de destaque em revistas científicas de renome mundial.
Além disso, grandes pesquisadores, com currículos impressionantes e financiados por essas indústrias, não só realizam propaganda científica a favor delas, mas também ocupam cargos de liderança em grandes organizações alimentares, responsáveis, sobretudo, pela formação popular. Isso me leva a pensar — obrigada Marion Nestle — que o processo de destruição dos pobres e marginalizados, e não só deles, está progredindo muito bem, obrigada. Dessa vez, porém, munido da arma mais poderosa que temos: a ciência.