Paulo1584 29/04/2021O Poeta e a Musa.Moça quase-viva enrodilhada numa amoreira quase-morta, de Evandro Affonso Ferreira, pela editora Nós, é uma obra sensacional que brinca com a relação entre o Poeta e a Musa.
Há um tempo, por meio do belíssimo Os piores dias da minha vida foram todos, conheci a escrita de Evandro, poesia que exala em meio a prosa.
Evandro consegue, por meio de um trabalho lindo com a linguagem, aqui no Moça quase-viva..., transcender a relação entre Poeta e Musa, nos colocando como observadores da necessidade da poesia. Ambos, Poeta e Musa, precisam que haja poesia. Ambos anseiam por poesia.
Na primeira parte, nosso narrador, um homem de 73 anos, converte-se em um de 37, nessa inversão que possibilita a sua libido efervescente e uma "lírica" carregada de erotismo, enquanto convoca sua musa, para reclamar a poesia nos versos do seu corpo. Nessa dificuldade, ele se encontra no subsolo, em meio ao desalento e a solidão.
Na segunda parte, a narradora passa a ser a própria Musa, quem convoca seu Poeta, "Vem! Poeta, vem!", ela o chama. A Musa se encontra no mistério. Ela vê o Poeta e sua situação, mas parece não ouvi-lo. Nós, angustiados nesse entremeio, queremos uní-los, em volta de uma amoreira, cuja cor do fruto é a mesma do sangue...
É uma escrita muito poética, como já se deu por visto, e ao mesmo tempo, consegue nos falar nas entrelinhas, nas respostas que não podemos ler, em ambas as partes.