Daniely2 05/04/2024
O bálsamo catártico que eu precisava
Sou uma pessoa muito reativa e influenciável, cujo o humor infelizmente depende muito de acontecimentos e das pessoas ao meu redor. E como eu venho enfrentando problemas familiares constantes já há alguns anos, costumo ter picos de emoções incontroláveis, as vezes irrepreensíveis, que no passado já me fazer pensar e fazer besteiras. Sempre tive dificuldades em conter essas minhas emoções reativas. Descobri com esse livro que sempre que é assim, uma bela catarse se faz necessária em muitos momentos na minha vida.
Aqui a catarse se construiu ao poucos. De início o título me chamou atenção na biblioteca, porque é a expressão literal dos meus pensamentos quando essas ditas emoções fortes me acometem, o grande desejo de ir pra algum lugar muito distance e longe de pessoas que me trazem esses problemas. Foi desse jeito que eu escolhi esse livro aleatoriamente.
Eu acredito firmemente no poder do vibe. Do instinto. Porque era um livro que eu precisava. Tem todos os ingredientes que me fazem me identificar com uma história: protagonista com problemas familiares, questões com abandono, problemas de confiança nos outros, dificuldades em fazer amizade, solidão, artes e natureza.
Há também a questão do thriller que vêm com um crime no meio da história. Porém para mim esse não é o ponto forte da história. Apesar de ser o motivo do final surpreende e que gera debates.
Para mim, o ponto forte do livro foi presenciar a protagonista aos poucos conseguindo manejar suas turbulências emocionais internas completamente sozinha. Sua jornada nesse crescimento interno solitário, somente com a ajuda da natureza e da arte, me deu um certo alívio mental. É de extrema importância sabermos lidar com as nossas emoções sozinhos, não porque a vida é injusta, é só porque ela é desse jeito. Crua, imparcial, como a natureza é, e assim como a Kya aprendeu desde muito cedo. Na natureza não existem o justo e o injusto, o privilegiado e a vítima, só a sobrevivência. As vezes estar só sobrevivendo pode ser ruim. Porém se mesmo assim você conseguir ver a beleza mesmo nas coisas tristes qualquer persepctiva muda.
A Kya sofria muito sim pelos inúmeros abandonos, foi uma vida pesada, porém ela nunca se viu necessariamente como vítima. Ao aprender a lidar com os sentimentos emocionais reativos com a natureza, observando-a e vendo-a não como um mero ambiente mas como uma companhia real, com todos os seus elementos fazendo parte dela como uma família.
Assim ela conseguia não se ver como vítima e cair em pensamentos ruins e comportamentos autodestrutivos. De uma certa forma a solidão apesar de fazê-la sentir dor, também a salvou de ser depressiva e ter o mesmo destino do pai. Ou podemos dizer que ela conseguiu transformar a semente da solidão plantada pelas pessoas ao seu redor em uma gigantesca árvore da solitude. A qual rendeu para ela belos frutos.
Saber lidar com o que a vida nos traz é uma arte. Viver é uma arte. E se conectar com a essência da vida é se conectar com a natureza, pois do pó viemos e do pó retornaremos. A natureza pode ser crua, imparcial, mas quem decide se nos sentimos atacados, injustiçados, somos nós.