Do que estamos falando quando falamos de estupro

Do que estamos falando quando falamos de estupro Sohaila Abdulali




Resenhas -


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Paloma 13/11/2021

Nossas vozes importam!
Não serei capaz de fazer uma resenha a altura da magnitude desse livro. Colocarei então, alguns trechos que constitui a narrativa extremamente impactante e necessária:

"O estupro drena a luz. Como os incrivelmente pavorosos dementadores de J.K. Rowling, ele suga a alegria. E, além de drenar a luz da vida das vítimas tende a drenar à luz de uma conversa sensata. As discussões sobre estupro são muitas vezes irracionais, quando não totalmente bizarras. É o único crime diante do qual as pessoas reagem querendo aprisionar as vítimas. É o único crime que é tão ruim que se supõe que as vítimas serão irreparavelmente destruídas por ele, mas ao mesmo tempo não tão ruim que os homens que o cometem devem ser tratados como outros criminosos."

_______

"Como fizemos para nos transformarmos numa espécie tão repleta de estupros? Quando foi que nos permitimos ficar assim? Às vezes acho que consideramos os maus hábitos à mesa uma quebra de protocolo mais grave do que forçar um objeto qualquer pelo orifício do corpo de outra pessoa."

_______

"O Guia Abdulali para salvar a vida de uma sobrevivente de estupro;

Eu digo 'ela', mas as orientações se aplicam igualmente a todos os gêneros.

? Mostre-se horrorizada, mas não caia da cadeira, a ponto de obrigar a outra pessoa a cuidar de você.

? Acredite nela. Nada de perguntar 'E se...', ou discordar, ou duvidar. Simplesmente acredite nela.

? Deixe que ela tome a iniciativa. Se ela quiser falar, tudo bem. Se ela quiser ficar calada, tudo bem também. Se ela quiser chorar, a mesma coisa. Se ela quiser fazer piada, tudo certo. Se ela quiser tirar coisas na parede, sem problemas.

? Pergunte o que ela quer. Você não precisa adivinhar.

? Incentive-a a procurar ajuda ? médica, legal, física e mental. Mas não force isso.

? Não fique querendo saber detalhes, mas deixe-a saber que você está disponível para ouvir, se ela quiser explicar melhor.

? Não questione os julgamentos que ela fizer.

? Deixe que ela formule o que está dizendo do jeito que quiser, com as palavras que escolher.

? Não tente entender ou analisar. Simplesmente esteja disponível.

? Lembre-se de que essa é a mesma pessoa que você conheceu antes de saber que ela havia sido estuprada. Trate-a do mesmo jeito. Algo terrível aconteceu a ela, mas é a mesma pessoa. Talvez ela também precise ser lembrada disso.

? E, por fim, mas não menos importante, não poderia dar um conselho melhor (...):
não seja babaca."

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"Prevenção de estupro para iniciantes.

(...)

? Fique em casa; evite estranhos.
? Saia; evite a família.
? Mostre-se feroz.
? Mostre-se dócil.
? Seja assertiva.
? Seja delicada.
? Sorria.
? Não sorria.
? Seja amistosa.
? Não seja amistosa.
? Seja forte.
? Seja serena.
? Seja jovem.
? Seja velha.
? Tranque sua vagina.
? Tranque seus filhos.
? Tranque seus pensamentos.
? Desarme-se.
? Desapareça.
? Morra."

________

"E aqui estamos nós no século XXI, rodeados de milagres dos quais somos os autores. Descobrimos como ver um ao outro em telinhas que a gente carrega no bolso. Descobrimos como fazer o coração de alguém de 17 anos de idade bater no peito de outra pessoa de 60. (...) Como mapear galáxias que nem conseguimos enxergar. Como espécie, somos impressionantes. Então, por que é tão difícil descobrir onde é que você deve e onde não deve pôr o seu pênis? Ou compreender que ninguém pede para ser estuprado?"

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"Meninos e meninas recebem mensagens completamente diferentes a respeito do sexo. Incentiva-se a suposição de que o sexo é um prazer para os meninos, enquanto as meninas aprendem bem cedo que perder a virgindade é uma coisa dolorida. Alimentamos a ideia de que o sexo é desconfortável para as meninas, e criamos garotas que acham que não merecem ter prazer, e meninos que, na melhor das hipóteses, não estão nem aí para o prazer das suas parceiras, e na pior delas, são abertamente abusadores."

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"Sim, pergunte, e tente perceber sinais, e guarde seu pau dentro da calça até ter muita, mas muita certeza; no entanto, no final das contas, você tem que se importar. Tem que se importar com as vontades e os sentimentos da outra pessoa."
Juliana Rodrigues 18/11/2021minha estante
Nossa, mas que forte!

Obrigada por compartilhar, vou procurar para ler também.


Paloma 18/11/2021minha estante
Não vai se arrepender, Ju! ?




Guynaciria 02/06/2019

Vocês sabem aquele tipo de leitura que acaba sendo um soco no estomago? Pois é, ao escrever "Do Que Estamos Falando Quando Falamos de Estupro", Sohaila Abdulali conseguiu esse tipo de reação de seus leitores.

Sohaila é uma mulher indiana, que foi violentada aos 17 anos de idade por um grupo de 4 homens drogados, que renderam ela e seu amigo, os fazendo cativos por algumas horas enquanto praticavam o mais vil dos atos.

Sohaila usou sua voz para garantir a sua sobrevivência e a de seu amigo. Ela teve o apoio de sua família e assim conseguiu trabalhar seu trauma, superando a dor física e emocional da qual foi vítima. 

Essa mulher incrível, dedicou a sua vida a estudar e lutar contra a violência sexual, ainda aos 17 anos ela escreveu um artigo que foi publicado em uma revista feminista indiana, 30 anos depois esse artigo foi resgatado e tomou o mundo, viralizando nos mais diversos meios de comunicação. 

A autora decidiu escrever um livro que aborda esse tema polêmico e que geralmente e posto de lado nos debates acadêmicos e mesmo nas conversas em família, mas ela viu a necessidade de não nos calarmos mais diante de tamanha atrocidade.

 Esse livro é o resultado da inquietação que acompanhou Sohaila  ao longo das décadas, aqui ela apresentada alguns casos reais, pensamentos, movimentos que existem em prol das vítimas e no combate ao estupro, além de trazer alguns dados estatísticos,  leis e processos que ocorreram em alguns países.

A autora também fala sobre o processo de cura, dos traumas que sempre vão fazer parte da vida das sobreviventes, como é o caso da culpa que elas sentem por terem sido abusadas, como se de alguma forma elas fossem as culpadas pelo ocorrido. 

Esse livro é importante e extremamente necessário. Recomendo à leitura. 
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Gramatura Alta 23/06/2019

http://gettub.com.br/2019/06/23/do-que-estamos-falando-quando-falamos-de-estupro/
DO QUE ESTAMOS FALANDO QUANDO FALAMOS DE ESTUPRO é um lançamento da editora Vestígio, escrito por Sohaila Abdulali, pesquisadora e sobrevivente de um estupro coletivo que sofreu aos 17 anos, que trata de uma realidade tão polêmica e velada: a cultura do estupro!

No primeiro capítulo, intitulado “Quem sou eu para falar?“, a autora conta sua história e como sofreu um estupro coletivo pouco tempo após se mudar para os Estados Unidos com a família . E, por incrível que pareça, ela fala sobre isso de modo tão simples, que nos causa estranhamento. Como assim ela quase morreu após ser violentada por quatro homens e fala como se não fosse nada demais? Esse foi meu primeiro pensamento, mas, aos poucos, compreendemos suas ideias e sua história de superação.

Claro que ela passou por momentos terríveis, mas o estupro não a define como mulher e não altera seu valor. O mais interessante é que, ao longo do livro, o foco não é mantido na violência sofrida pelas vítimas, e sim no que acontece com essa pessoa depois: o trauma, o apoio (ou falta dele) de pessoas próximas, modos de enfrentamento…

Após a eleição presidencial dos Estados Unidos que elegeu Donald Trump, muitas mulheres com histórico de violência reagiram fortemente à ideia de serem representadas por um homem que disse publicamente: “Agarre-as pela buceta“. E por que essa revolta? Mais uma vez em suas vidas, alguém que deveria protegê-las e representa-las, usava do poder para abusar delas. Apesar da triste eleição de um candidato extremamente machista, isso colaborou com o projeto #MeToo, criado em 2016 nas redes sociais para denunciar assédios, e essa hashtag é compartilhada por homens e mulheres que já sofreram algum tipo de agressão sexual.

Confesso que, para mim, a violência sexual é o pior dos crimes, me causa náuseas ver no noticiário incontáveis mulheres sendo machucadas por familiares, maridos, estranhos… E por quê? Por raiva da crueldade do estuprador, seu desprezo com os sentimentos da vítima; eles seguem suas vidas normalmente e não dão a mínima. O estupro é o único crime que causa tanta revolta na sociedade ao ponto das pessoas acharem que os homens devam ser castigados de maneira cruel e torturante e que a prisão não é suficiente. Sempre me indignou ouvir opiniões que culpavam as vítimas por sua vestimenta, por estarem fora de casa à noite, por beberem numa balada ou por estarem em local indevido, por exemplo; se alguém é roubado na rua, ninguém culpa o pobre coitado que perdeu o celular e o relógio caro, mas quando se trata de uma mulher violentada, eles julgam e tratam-na como se ela tivesse merecido. Culpar a vítima vai contra todo o conceito de colocar a responsabilidade no agressor!

Agressões sexuais de profissionais do sexo são bastante comuns, por serem vistas como promíscuas e não merecedoras de respeito, já que são pagas para fazer “coisas sujas“, o que é uma ideia extremamente preconceituosa da sociedade do século XXI.

Outro extremo, são os casos de mulheres violentadas pelos próprios maridos, e pior ainda, homens que se casam com a pessoa que estupraram a fim de não serem penalizados, o que é muito comum no Kuwait. Uma vítima enfrenta tantas dificuldades para seguir sua vida após o trauma, imagine ter que viver sob o mesmo teto que seu estuprador…

A narrativa evidencia a forma como as vítimas se sentem após a violência, principalmente quanto a forma que são desacreditadas por profissionais pagos para ajuda-las. Um dos fatores que colaboram para que essas pessoas escondam o ocorrido, é a ideia de vitimização que muitos têm, como se a mulher quisesse apenas chamar atenção e fingir fragilidade; elas enfrentam grande descrédito, escárnio ou até excitação sexual. Mas quando você conta a alguém a sua história para denunciar seu estuprador, você reassume o controle, deixando de ser “somente” a vítima. Assim, consegue apoio físico e psicológico para se recuperar e seguir em frente!

Segundo Abdulali, a mulher não tem nenhuma obrigação, após o evento, a não ser sobreviver a ele… Mas esse relato vai contra a impunidade e pode trazer uma mudança real. Porém, existem duas vertentes: se você denuncia, é uma vítima indefesa que deseja compaixão; e caso você se mostre forte, significa que não foi tão ruim assim, então, para quê falar sobre isso e arruinar a vida daquele pobre homem?

Muitas vezes nos questionamos sobre o motivo do silêncio dessas pessoas após o crime. Por que não denunciam? Todos possuem algum trauma, alguma situação difícil de expor por diversos motivos; a escritora expressou de forma tão clara isso nesse parágrafo que acho primordial compartilhar: “Por que calamos? A resposta fácil é ‘por vergonha’, e com frequência a razão é essa mesmo. Acabamos achando que a falha foi nossa, por estarmos disponíveis ou vulneráveis, ou pela ingenuidade de não ter percebido a tempo. Em todo o mundo, nos culpamos, incapazes de considerar que foi outro ser humano que cometeu o crime. É mais fácil sentir-se envergonhada do que aceitar que alguém violou nossa intimidade da maneira mais perversa, e que não fomos capazes de fazer nada.“. Ler esse trecho me doeu, pois verbaliza de forma direta o que tantas pessoas enfrentam diariamente.

Como podemos ajudar uma vítima? Oferecendo apoio incondicional, sem julgamentos e rejeições. Dessa forma, o indivíduo não se sentirá culpado, terá com quem conversar abertamente, além de se sentir aceito por alguém que ama. Existem pessoas maravilhosas nesse mundo, e várias delas se sensibilizam com as vítimas e oferecem ajuda a fim de melhorar suas vidas. Ajude seu próximo e tenha empatia! Seja uma pessoa incrível!

A escrita de Sohaila é leve e descontraída, mas não se deixe enganar. Os temas abordados são pesados e merecem reflexão, principalmente por serem a realidade atual e porque o estupro é perturbador. A leitura é bem tranquila devido ao tipo de narrativa, porém é permeada por fatos asquerosos que geram incômodo e aflição; nos faz pensar sobre a crueldade do ser humano, até onde ele é capaz de chegar para conseguir o que quer.

Essa obra é tão valiosa, preenchida por informações muito importantes e provocadora de reflexões valiosas! Todo mundo deveria ler e pensar um pouco sobre o mundo ao seu redor e a cultura do estupro. E para finalizar esta resenha, deixo um trecho do livro: “Como espécie, somos impressionantes. Então, por que é tão difícil descobrir onde é que você deve e onde não deve pôr o seu pênis? Ou compreender que ninguém pede para ser estuprado?“.

site: http://gettub.com.br/2019/06/23/do-que-estamos-falando-quando-falamos-de-estupro/
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Emily.fonseca 25/06/2019

chocante
Do Que Estamos Falando Quando Falamos De Estupro é o novo lançamento da editora Vestígio, onde trata de temas como a cultura do estupro, assédios, e conta com diversos relatos de vítimas. Sohaila Abdulali é a escritora e narradora do livro, estuprada aos 17 anos por três homens fica indignada com o silêncio que o tema "estupro" trás, assim resolve falar sobre ele.
Sohaila Abdulali, nasceu na Índia, onde as "regras" sobre a pureza e honra das mulheres é um fator importante, aos dezessete anos enquanto passeava com seu amigo no alto de uma montanha, os dois foram abordados por três "homens" que agrediram o rapaz e estupraram Sohaila. Porém a autora teve todo o apoio de sua família, ao contrário do que teve com os policiais da cidade, que a fizeram escrever que não foi estuprada, apenas para não mancharem sua reputação. Indignada Sohaila usa sua voz para falar sobre o assunto, escrevendo uma matéria que teve pouca repercussão, desde esse dia o tema "estupro" criou vez na sua casa, e assim ela começou a ajudar várias vítimas do mesmo.
O livro possui diversos capítulos que irão relatar não só o que a autora viveu, como falar sobre o tema de fato, usando discursos de outras vítimas para fundamentá-lo
No primeiro capítulo Sohaila intitula de "Quem sou eu para falar?" e fala com uma tranquilidade sobre o que aconteceu com ela, como se não fosse nada demais, fiquei um tanto abismada, e cheguei a pensar que ela iria "naturalizar" o estupro, como se fosse algo normal. Mas não, a autora trás o estupro como algo cruel, horrível e salienta sempre que a culpada nunca será a vítima, mas ao falar com tranquilidade, ela quer passar que as mulheres não devem ser rotuladas por terem sido estupradas, e muito menos devem ficar caladas, pois é preciso acabar com a cultura do estupro.
Apesar de assuntos como estupro terem ganhado uma grande evidência nas últimas décadas, ainda há algumas pessoas que culpam a vítima, sempre desconfiam que ela está falando a verdade, existe muita burocracia para registra B.O. Além de ter seu corpo violado, sua privacidade negada e suas vontades ignoradas, a vítima tem que ouvir discursos sobre o porquê estava naquele local, porque não estava em casa. Sobre qual roupa estava usando ou se havia bebido, como se o fato de ela ser estuprada fosse única exclusivamente sua culpa. Este é um assunto que me indigna muito, pois é algo cruel, e ao mesmo tempo que estamos avançando, continuamos parados no mesmo lugar.
A autora também traz relatos de estupro sobre profissionais do sexo, como se pelo simples fato de os homens estarem pagando, criam acesso livre ao corpo da mulher, sem se importar com as vontades dela. Outra vertente relatada no livro são as agressões sexuais ocorridas dentro do lar. "Ela é minha mulher" é uma das desculpas mais usadas, mas quando a mulher assina para se casar, ela não está dando liberdade e entrada 24 horas para seu corpo.
Algo que me deixou chocada é a realidade do Kuwait, estes tempos estava lendo um livro de fantasia, onde uma menina foi estuprada, e a pena para o agressor seria a morte, a menos que ele se casasse com a vítima, pois assim a honra dela seria mantida e ele absolvido, juro pra vocês que pensei que isso só poderia ser ficção, fiquei apavorada quando li isso em um livro ficcional, imaginem a minha cara quando descobri que isso é a realidade do Kuwait?
Deste modo o livro vai trazer diversos relatos de vítimas, de como aconteceu com elas e o que fizeram para sobreviver. Se falaram sobre ou guardaram para si, para quebrar o rótulo de “ah, mas você pediu" ela traz relatos de crianças que foram abusadas por parentes, por estranhos, algo chocante, dolorido, mas necessário ser falado.
Assim, Do Que Estamos Falando Quando Falamos De Estupro é um livro composto por temas pesados, relatos doloridos, mas com uma narrativa leve e rápida, o que faz o leitor compreender melhor o tema, descobrir estatísticas alarmantes.
A editora Vestígio acertou em cheio ao trazer esse lançamento para o Brasil, principalmente na realidade que estamos vivendo agora, e esta leitura se torna crucial a todos.


site: https://livrosrabiscando.blogspot.com.br
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Riva 01/10/2019

Livro visceral... livro que te faz pensar e ficar revoltada, pensar e a ficar mais revoltada, pensar e ficar ainda mais revoltada.
Não há uma única justificativa válida para o estupro. Não, não há!
É uma ?cultura? na qual em 99,999999% dos casos a vítima é a única culpada e duplamente penalizada (com o ato em si e com o ?julgamento? da sociedade).
Só há uma maneira de acabar com essa ?cultura?, que é conversando abertamente com seus filhos (filhas e filhos).
Com as filhas para que elas tenham a consciência de que o seu ?não? tem que ser ouvido; e que, se infelizmente não for, que terão todo o apoio para lidar com o fato dentro de casa.
Com os filhos, para que eles parem de subjugar a mulher (gays, trans e qualquer outro tipo de sexo) e entendam que o respeito é essencial em tudo na vida, e também no momento do sexo!
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Ana 15/12/2019

Quando julgamos e avaliamos crimes, de forma geral, nós ― quando eu digo "nós", me refiro à sociedade como um todo ― sempre condenamos o agressor, afinal, foi uma escolha dele. Porém, caso vocês nunca tenham reparado, essa premissa não é válida quando um homem estupra uma mulher. Obviamente é um crime, também foi escolha do agressor, mas todo mundo sempre arranja um jeito de culpabilizar a vítima: "ah, mas andando sozinha a essa hora da noite, queria o quê?", "usando essa roupa curta também, tava pedindo", "se não tivesse bêbada, não teria acontecido".

Esse tipo de argumento está associado à cultura do estupro que, segundo o movimento HeForShe Brasil, "é um termo usado para abordar as maneiras em que a sociedade culpa as vítimas de assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento dos homens. Ou seja: quando, em uma sociedade, a violência sexual é normalizada por meio da culpabilização da vítima, isso significa que existe uma cultura do estupro." Tudo isso é consequência da neutralização e normalização de comportamentos e atos machistas, sexistas e misóginos, que atiçam todo tipo de violência contra a mulher.

Qualquer argumento sobre comportamento ou conduta da vítima tira o foco de que há um agressor, que agiu por escolha e contra a vontade da mulher em uma situação em que ela estava vulnerável. Ora, nenhum argumento ― repito, nenhum ―, deveria justificar, muito menos normalizar, um crime tão bárbaro quanto o estupro. Não são as mulheres que devem "se dar ao respeito", são os homens que TÊM que parar de estuprar.

No Brasil, segundo o 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, só em 2017 foram registrados cerca 60 mil casos de estupro, levando em consideração que apenas 8% dos casos são denunciados aqui no nosso país. Está aí mais uma consequência da cultura do estupro, já que a vítima sente medo e tem vergonha de denunciar. Eis uma triste realidade: esse número altíssimo de casos registrados e também as subnotificações só afirmam que o Brasil não apenas tolera quanto incentiva a cultura do estupro.

É por causa de todas as informações anteriores que julgo Do Que Estamos Falando Quando Falamos de Estupro, de Sohaila Abdulali, um livro extremamente necessário. A autora, que sobreviveu a um estupro coletivo aos 17 anos de idade em Bombaim, fala de forma muito simples sobre a necessidade de combater a violência sexual e a cultura do estupro. A obra é cheia de exemplos que confirmam tudo o que ela afirma, exemplos tão absurdos que têm a capacidade de deixar o leitor, na falta de uma expressão melhor, deveras indignado.

Por exemplo, vocês sabiam que na Índia, Gana, Jordânia e diversos outros lugares, a partir do momento em que uma mulher se casa com um homem, ela automaticamente transfere os direitos sobre o seu corpo ao marido. A lei afirma que o casamento significa acesso pleno, a mulher não precisa dar consentimento. Ou seja, estupro marital, que é uma realidade em qualquer país, não é minimamente considerado. Se seguir a vida já é difícil após um estupro, imaginem vocês continuar morando no mesmo teto que seu abusador.

Sohaila Abdulali está no seu lugar de fala não só pelo sofrimento que foi submetida, mas também por ser mulher. A abordagem da autora, ainda que simples e natural ― o que pode, inclusive, causar certo estranhamento ―, é um alerta sobre a forma que enxergamos o estupro. Abdulali conversa sobre tudo, desde como a vítima é encarada na sociedade até como os agressores são tratados nos tribunais (se é que eles chegam até lá, não é mesmo?).

Do Que Estamos Falando Quando Falamos de Estupro é o tipo de livro que mexe com a gente, que causa revolta, que abre os nossos olhos. Me fez entender que não devemos aceitar o silêncio que ronda o estupro. Precisamos ter voz, precisamos escutar. Esse livro é só primeiro passo para entender essa tal cultura a que estamos inserido, porque nós precisamos transformá-la.

site: http://www.roendolivros.com.br
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Simone de Cássia 10/02/2020

Difícil falar sobre esse livro pela força com que ele atinge a gente. Mas por outro lado é fácil falar sobre ele porque é tudo que a gente precisa pra criar uma nova cultura, um novo jeito de ver. Ele é sobre respeito e sobre a falta dele também; é sobre dor e sobre superação, sobre silêncio e sobre coragem. A cada página somos envolvidos, instigados, questionados. É um convite à reflexão. Não dá pra falar, é pra sentir.
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Ju Furtado 26/02/2020

Um assunto urgente!
A primeira coisa que você precisa saber sobre o livro é que ele trata de uma história real vivenciada pela autora. Então é preciso respeitar a construção da obra, suas possíveis repetições, argumentos e defesas. Mas é um grande livro, doloroso, necessário.
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Gabrielle 18/03/2020

Um livro mais que necessário
Esse livro chamou minha atenção à primeira vista na livraria da cidade. Apesar do desejo de possuir tal livro, não tive coragem de me sentar e começar a folhea-lo, talvez por prever o peso de todo o conteúdo. Comprei no dia seguinte e comecei a devorar cada capítulo. Chorando, sentindo raiva, esperança, ódio. Experimentei um mix de sentimentos e finalizei a leitura com a certeza de que essa leitura se faz necessária para nos conscientizarmos sobre a cultura do estupro e como acabar com ela.
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Andréia 06/04/2020

Que livro necessário!!!
"Do que estamos falando quando falamos de estupro"  é um livro que choca desde o primeiro capítulo. Nele, a autora Sohaila Abdulali relata o estupro coletivo que sofreu quando tinha 17 anos e, ao contrário de muitas, ela decidiu romper a barreira do silêncio e enviar sua história para ser publicada em uma revista feminina.Neste livro, Sohaila Abdulali enfatiza a importância das vítimas não se calarem diante da violência sofrida. Para ela, a partir do momento em que a vítima fala, ela deixa de ser apenas uma vítima e passa a reassumir algum controle.
A autora destaca ainda questões como o estupro de mulheres pelos próprios maridos e as profissionais do sexo que na maioria das vezes, pelo fato de estarem recebendo dinheiro por sexo, são taxadas como merecedoras de tal violência.

?Ser uma profissional do sexo não significa que você merece ser estuprada. Ser uma esposa também não.?

Do que Estamos Falando Quando Falamos de Estupro é uma obra que aborda um tema polêmico que deve ser amplamente discutido.
Através dessa leitura, somos levados a repensar as nossas atitudes diante das vítimas, a questionar uma infinidade de regras e preceitos que vigoram em determinadas sociedades e religiões e acima de tudo enxergar a vítima com mais empatia e menos julgamentos. 
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Thaís | @analiseliteraria 21/05/2020

Precisamos falar sobre isso...
Quem é estuprada? Quando estamos dispostos a chamar o ato de estupro? Quando é que a vítima deixa de ser digna de empatia? Quando bebeu demais, quando já fez sexo com um número específico de pessoas no passado, quando não é uma pessoa legal? Esses são os questionamentos propostos por Sohaila Abdulali, no livro Do que estamos falando quando falamos de estupro. Aos 17 anos, Sohaila sofreu um estupro coletivo em Bombaim, na índia. Depois disso, começou a pesquisar o assunto ativamente e trouxe nesse livro relatos de outras vítimas de violência sexual.⁣⁣⁣
⁣⁣⁣Você sabe o que é consentimento? Dizer sim e dizer não? Talvez não seja tão simples assim. O livro traz uma construção completa sobre a implicação do consentimento no estupro, que vai te fazer repensar se você sabe mesmo o que isso significa. Se uma mulher alcoolizada ou se sentindo coagida diz sim, então ela consentiu? O que ela está consentindo? Quando ela pode consentir? ⁣⁣⁣
⁣⁣⁣Como o poder se impõe em um estupro? Na ocasião e nos motivos? Sohaila Abdulali vai além e explica como o poder corrompe em quem as pessoas acreditam, de quem é a responsabilidade, quem é punido e por quê.⁣⁣⁣
⁣⁣⁣Uma simples consulta ao dentista ou ao médico pode afetar uma sobrevivente de estupro? A autora mostra como isso é possível. Por possuir nuances parecidas com o que ocorre no abuso sexual, isso pode acontecer, aqui você vai descobrir como. É importante tentar descobrir o que pode agravar a dor do outro.⁣⁣⁣
⁣⁣⁣Devo ou não conversar com crianças sobre violência sexual? Sohaila Abdulali traz o depoimento de um jovem estuprado pelo professor na sala de leitura da escola, ele não sabia o que era estupro, então não podia dizer que foi estuprado quando chegou em casa.⁣⁣
⁣⁣Esses são alguns pontos, dentre tantos outros, que Sohaila Abdulali levanta para discutir um tema que as pessoa evitam falar, mas que precisa ser posto em discussão. Sem dúvidas, uma das coisas mais difíceis que eu li esse ano, a autora, até pela vivência, soube levantar uma discussão muito coerente com a publicação desse livro.

site: @analiseliteraria
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Heloisa 27/05/2020

Livro denso, complexo, com uma temática bastante delicada e infelizmente pouco debatida da maneira que deveria ser. É preciso estômago para falar de Estupro, por quem vivenciou ou não. Guerreiras(os) são as pessoas que passam por isso e ainda sim decidem se erguer e construir uma vida feliz que sabem que merecem ter.
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Juliana 07/06/2020

Um livro que eu não recomendo a ninguém.
Começando pelo um erro grave que já se encontra nas páginas iniciais do livro: não há definição de estupro. A autora parte da premissa de que há a necessidade de escrever um livro sobre um tema que ela preguiçosamente não se dá o trabalho de definir e impor contorno. O livro está cheio de contradições no fluxo de consciência no qual é descrito. Com várias referências a cultura pop e ao movimento #metoo deveria ser fácil construir um livro como uma narrativa linear onde os depoimentos que ela obtém são usados para exemplificar os argumentos principais dela, mas o fato é: não há argumento principal assim como há a sensação de não haver cuidado editorial com o material em questão - capítulos inteiros poderiam ter sido excluídos. Mas a autoras ( ou os editores) acharam que essas contradições poderiam ter sido superados com a introdução na qual ela diz que haverão contradições no livro.
A gota d'água para mim foi a autora descrever a situação de uma menina em situação de prostituição aos 12 anos como "trabalhadora sexual". Um desserviço ao movimento feminista em forma de livro.
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Jéssica Hannusch 27/06/2020

Necessário!
"Não somos perfeitas, e podemos tomar más decisões. Mas os únicos responsáveis pela agressão sexual são aqueles que escolhem cometê-la."

"Do que estamos falando quando falamos em estupro" é um daqueles livros extremamente necessários. A autora trata da temática de forma sutil, respeitosa e crítica ao mesmo tempo, nos fazendo refletir sobre como a vítima é vista e tratada em nossa sociedade. Leitura fundamental e mais que recomendada!

"O que faz de alguém uma "boa" moça? Em geral, ser boa moça significa ser dócil, passiva, aceitar seu fardo sem questionar. Então, nesse caso, espero que venha uma nova geração composta só de moças más, que ouçam apenas a si mesmas e sigam o que diz seu coração. E que levantem e montem em cima de seus amantes com total desinibição."
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bookscourt_ 08/08/2020

Precisamos falar sobre estupro.
Esse livro ao mesmo tempo que é chocante é extremamente repleto de ensinamentos.
Como lidar, como falar, como a sociedade precisa discutir o tema...
É leitura obrigatória, seja você homem ou mulher.
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