Paloma 13/11/2021Nossas vozes importam!Não serei capaz de fazer uma resenha a altura da magnitude desse livro. Colocarei então, alguns trechos que constitui a narrativa extremamente impactante e necessária:
"O estupro drena a luz. Como os incrivelmente pavorosos dementadores de J.K. Rowling, ele suga a alegria. E, além de drenar a luz da vida das vítimas tende a drenar à luz de uma conversa sensata. As discussões sobre estupro são muitas vezes irracionais, quando não totalmente bizarras. É o único crime diante do qual as pessoas reagem querendo aprisionar as vítimas. É o único crime que é tão ruim que se supõe que as vítimas serão irreparavelmente destruídas por ele, mas ao mesmo tempo não tão ruim que os homens que o cometem devem ser tratados como outros criminosos."
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"Como fizemos para nos transformarmos numa espécie tão repleta de estupros? Quando foi que nos permitimos ficar assim? Às vezes acho que consideramos os maus hábitos à mesa uma quebra de protocolo mais grave do que forçar um objeto qualquer pelo orifício do corpo de outra pessoa."
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"O Guia Abdulali para salvar a vida de uma sobrevivente de estupro;
Eu digo 'ela', mas as orientações se aplicam igualmente a todos os gêneros.
? Mostre-se horrorizada, mas não caia da cadeira, a ponto de obrigar a outra pessoa a cuidar de você.
? Acredite nela. Nada de perguntar 'E se...', ou discordar, ou duvidar. Simplesmente acredite nela.
? Deixe que ela tome a iniciativa. Se ela quiser falar, tudo bem. Se ela quiser ficar calada, tudo bem também. Se ela quiser chorar, a mesma coisa. Se ela quiser fazer piada, tudo certo. Se ela quiser tirar coisas na parede, sem problemas.
? Pergunte o que ela quer. Você não precisa adivinhar.
? Incentive-a a procurar ajuda ? médica, legal, física e mental. Mas não force isso.
? Não fique querendo saber detalhes, mas deixe-a saber que você está disponível para ouvir, se ela quiser explicar melhor.
? Não questione os julgamentos que ela fizer.
? Deixe que ela formule o que está dizendo do jeito que quiser, com as palavras que escolher.
? Não tente entender ou analisar. Simplesmente esteja disponível.
? Lembre-se de que essa é a mesma pessoa que você conheceu antes de saber que ela havia sido estuprada. Trate-a do mesmo jeito. Algo terrível aconteceu a ela, mas é a mesma pessoa. Talvez ela também precise ser lembrada disso.
? E, por fim, mas não menos importante, não poderia dar um conselho melhor (...):
não seja babaca."
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"Prevenção de estupro para iniciantes.
(...)
? Fique em casa; evite estranhos.
? Saia; evite a família.
? Mostre-se feroz.
? Mostre-se dócil.
? Seja assertiva.
? Seja delicada.
? Sorria.
? Não sorria.
? Seja amistosa.
? Não seja amistosa.
? Seja forte.
? Seja serena.
? Seja jovem.
? Seja velha.
? Tranque sua vagina.
? Tranque seus filhos.
? Tranque seus pensamentos.
? Desarme-se.
? Desapareça.
? Morra."
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"E aqui estamos nós no século XXI, rodeados de milagres dos quais somos os autores. Descobrimos como ver um ao outro em telinhas que a gente carrega no bolso. Descobrimos como fazer o coração de alguém de 17 anos de idade bater no peito de outra pessoa de 60. (...) Como mapear galáxias que nem conseguimos enxergar. Como espécie, somos impressionantes. Então, por que é tão difícil descobrir onde é que você deve e onde não deve pôr o seu pênis? Ou compreender que ninguém pede para ser estuprado?"
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"Meninos e meninas recebem mensagens completamente diferentes a respeito do sexo. Incentiva-se a suposição de que o sexo é um prazer para os meninos, enquanto as meninas aprendem bem cedo que perder a virgindade é uma coisa dolorida. Alimentamos a ideia de que o sexo é desconfortável para as meninas, e criamos garotas que acham que não merecem ter prazer, e meninos que, na melhor das hipóteses, não estão nem aí para o prazer das suas parceiras, e na pior delas, são abertamente abusadores."
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"Sim, pergunte, e tente perceber sinais, e guarde seu pau dentro da calça até ter muita, mas muita certeza; no entanto, no final das contas, você tem que se importar. Tem que se importar com as vontades e os sentimentos da outra pessoa."