Nana Barcellos | @cantocultzineo 20/05/2019
Crenças e Criaturas é um relançamento da Ler Editoral, e faz parte da série Sombras do Mundo. A nova edição está sendo lançada junto com a continuação, A Origem do Mal.
O romance sobrenatural de Daniella Rosa inicia no ano de 2013, em Nova York. Alany Green está prestes a chegar a maioridade e, apesar de ser completamente contra comemorações, resolve ceder aos amigos e sair para comemorar em um bar. Desde da morte de seu pai, ela não se permite a momentos alegres e relaxados. Até aquela noite. No bar, Alany se encanta pela voz de um atraente cantor chamado Santiago. Eles passam a noite trocando olhares e intrigados um com outro. Quem não fica nada feliz com essa aproximação é uma das amigas dela, Carol, que mais parece um cão de guarda da garota, com tanta proteção.
Ignorando os alertas da amiga, Alany se deixa levar e engata uma conversa animada com Santiago. Porém, ela não imaginaria que ao conhecê-lo se encontraria em meio de várias revelações sobre seu misterioso dom e propósito. Alany pode enxergar a energia das pessoas, ler suas cores e sentimentos. Ela pode interpretar as intenções. De acordo com ela, uma pessoa estar com um sentimento negativo exaltado, não significa que ela seja malvada. Por anos, Carol a ensinou a construir uma barreira para se proteger da conexão e amenizar sua força.
Naquela noite, Alany precisou deixar o bar sem se despedir. E, ainda encantada por Santiago, decide reencontrá-lo no dia seguinte. Mas ele desapareceu, e ninguém parece saber seu paradeiro, levando Alany embarcar em uma busca por vários bares e cafés da cidade. É quando uma figura das sombras decide se revelar a ela. O misterioso Antoni tenta convencê-la a aceitar seu dom e de que um confronto está prestes a começar. Antoni revela coisas de seu passado e lhe mostra as criaturas do mundo oculto. Inicialmente, Alany não consegue crer que possa existir tal seres - denominados celsus - perambulando no nosso mundo. Não, até testemunhar o grande perigo que corre.
Os encontros com Antoni a levam até uma pista sobre o paradeiro de Santiago. É, ele está vivo, mas isso não significa que está tudo bem. O cantor também sabe como se manter misterioso e surpreender a jovem com algumas de suas revelações. Estranhamente, demonstra tanto conhecimento sobre as regras e seres do mundo oculto quanto Antoni. Aliás, os dois não se gostam nem um pouco. Mas precisam deixar as diferenças de lado e se unir para proteger a única a qual se importam: Alany.
"Acompanho os meios de comunicação noticiando tragédias e enfatizando o tempo todo que estamos mergulhados em violência e maldade. Mas, para mim, a maldade é que está mergulhando dentro de nós, cada vez mais fundo."
Hoje em dia, quando pegamos um romance sobrenatural, já esperamos os seres de sempre como personagens centrais e os que vão formar o possível triângulo na história. Alany só quer descobrir respostas sobre seu passado e se conectar com seu dom. Com uma escrita fluída e cheia de tons de suspense, a autora Daniella Rosa nos apresenta Alany, uma híbrida - a mãe é celsu e o pai humano - com um lado todo místico e enigmático adicionando como interpreta as energias que enxerga. Eu adoro um lance místico, então não foi difícil simpatizar com seu dom e como ela lida. E vampiro aqui é bem coadjuvante. Acredito que a construção em torno do universo dos celsus seja muito criativa, já que a raça é formada por todos os seres sobrenaturais que conhecemos e outros mais. Lobisomens, fadas, incubus, metamorfos, bruxas, elementais... enfim, decisão que dá muita liberdade para autora conforme entramos ainda mais nessa história.
Se tem uma coisa que funciona muito bem nesta fantasia é seu lado enigmático. A narrativa é de Alany, então o leitor obtém as informações junto com ela. O que pode causar certo nervoso também, pois Antoni é um personagem bem difícil de comunicação e pretende manter algumas coisas em segredo por um bom tempo. A gente conhece mais sobre os seres - inclusive sobre o que o próprio Antoni é -, todo o universo e tretas do Ministério, pelo Santiago. Os dois têm uns conflitos passados e fica aquela sensação do triângulo. Só que, a confiança não é o forte desses personagens.
Antoni é um personagem com uma construção maravilhosa. Sua dualidade desperta um misto de sensações no leitor. E isso permanece até a última página. Por outro lado, a melhor amiga de Alany, Carol, é uma chatonilda e insuportável. Sei que ela diz que a protege e muda de postura ao finalizar, mas não vou com a cara dela nem um pouco. Ainda tem Santiago, que desperta tanto ódio alheio ao redor de Alany, que já deixa a gente com aquele alertinha. E a autora ainda deixa umas migalhas, como quando Alany lê um sentimento de arrependimento nele. Ela deduz algo, mas não quer dizer que seja, né?
"Quando ando pela rua e encontro pessoas, basta olhá-las para saber se dentro delas ainda existe bondade, amor ou se já foram dominadas pelo egoísmo e a maldade do mundo. As pessoas empobrecem o seu espírito quando abrem o coração para o ódio e o egoísmo, a maldade encontra acesso livre para corrompê-lo. Quando sinto isso, é como se tivesse uma queda de pressão, minhas pernas, às vezes, até falham, sinto-me fraca e triste."
Apesar do fácil apego por Santiago, difícil saber se realmente o romance prevalecerá nessa história, pois como mencionado, há muitas suspeitas rondando e minha mente não consegue oficializar Antoni e Alany como um casal, em alguma parte, caso venha acontecer. Os dois escondem muita coisa da menina, coisas do passado, principalmente. O que gostei mais em acompanhar essa história, é que me fez criar várias teorias, como, tenho impressão que a morte do pai tem algo mais. E será que Santiago também conhecia o passado de Alany antes de conhecê-la? E a outra, que deve ter alguém falsiane nesse grupo. Me deixou bem animada para os próximos. Só não mata a pobre da vózinha.
Entretanto, continuo refletindo se a narrativa em primeira pessoa vai continuar funcionando. Mas isso é da minha personalidade, pois sei que algum momento vou me irritar com as informações em migalhas que Alany recebe, fora essa coisa de saber se certo personagem é confiável ou não. Uma outra ressalva é que a história se passa em NY, mas poderia ser facilmente no Brasil, começando pelo nome de vários personagens. E ainda a direção de Will, um outro amigo da Alany. Ele desapareceu completamente no meio da história e ficou por isso. E por fim, queria saber mais da celsu que ele gosta, Alamanda. Acho que ela é a Sininho. Se for, vou amar! Ha!
Crenças e Criaturas é uma boa pedida para se aventurar pelo universo sobrenatural. Uma trama cheia de segredos, onde o perigo está sempre à espreita, nos deixando curiosos com cada passo de Alany. Há momentos bem divertidos. E musicais com os covers do Santiago. Finaliza bem, com grande momento de ação e seus personagens partindo para uma nova jornada. E não acompanhamos só os feitos do dom de Alany, mas outros personagens também mostram seus poderes. Certamente, Daniella Rosa ainda nos guarda muitas surpresas e, claro, o temível confronto com o Ministério. É uma fantasia que te deixará duvidando de tudo e todos, querendo cada vez mais respostas.
"Liguei o rádio mesmo sem pedir permissão, era isso ou bater nele."
Edição lida em e-book. A diagramação está bem feita, com uma ótima revisão e formatação. No máximo há alguns errinhos de digitação, que não irão te atrapalhar. Os títulos dos capítulos são formatados numa fonte diferente. As partes em itálico são para destacar os pensamentos da Alany, em vista que há um personagem que pode ler seus pensamentos, e se comunicar através deles. Gostei do tom sombrio da capa, acredito que retrate Alany na fenda (e aí você vai ter que ler e descobrir sobre, ha!)
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