spoiler visualizarGaia 30/03/2023
Despindo Nietzsche
Terminei de ler essa biografia com tantas sensações que foi difícil colocar em palavras. Descobri por ela que Nietzsche era humano, demasiadamente humano, e isso me assustou! Me assustou porque em meu pequeno pedestal aquele filósofo que tem suas ideias tão perduradas, ficou gravado em minha mente como um atento e inalcançável observador da humanidade, com as vestes de um ser humano superior que lhe dei. Então, o livro me mostra que não, que para além do bem e do mal, Nietzsche era um ser humano tão humano quanto qualquer um de nós, com sentimentos que nos agrada e desagrada, que fica triste, alegre, sente rancor e também ama. E falando em amor, em sua biografia vemos que no ápice da sua frustração e desgosto com relacionamentos amorosos, o filósofo fala sobre a possibilidade de pôr fim a sua própria vida ? existe desfecho de humanidade maior do que esse? É assim que Nietzsche foi despido para mim, e dessa forma puder vê-lo como um igual. Entendi o quanto sua escrita era sobre sua vivência e não puramente observação do outro. Seu tempo, sua doença, sua fé, suas ambições, amores e desamores estão carregadas em sua escrita, e somente após ler essa biografia consigo entender isso. E se por esse lado eu me espantei por sua humanidade tão comum, por outro, me espantei com seus posicionamentos tão diferentes quando comparados, em uma visão micro, aos de seu espaço familiar e de amizades íntimas, e em uma visão macro, ao de seu contexto contemporâneo, onde o racismo, antissemitismo, machismo e misoginia era extremamente forte e comum. Seu posicionamento quanto a religião cristã sempre me chamou muito a atenção, e agora de posse de informações tão ricas sobre sua vida, tudo fica ainda mais interessante e claro. Definitivamente, agora que Nietzsche foi despido, posso cobri-lo com novas roupas, roupas que são muito mais verdadeiras e justas a ele.