@retratodaleitora 21/04/2020Estranhamente bom?Eu me inclinei em direção à orelha dela.
_ Minha mãe é um monstro - sussurrei.?
Szu tem 16 anos, estuda em um terrível colégio de freiras, não tem nenhum amigo e sua mãe é um monstro. Ou foi um monstro nos anos 70, quando interpretou no cinema uma pontianak, a lenda de uma mulher rejeitada que após um pacto se transforma em um ser maligno, sedenta por sangue masculino. A trilogia não fez sucesso nenhum na época, se tornando depois uma referência cult para poucos cinéfilos espalhados pelo mundo. A carreira frustrada de Amisa, sua mãe, a transformou em uma mulher amarga, distante, que coloca em Szu a culpa por seu fracasso. A adolescente é ignorada por todos até conhecer Circe, que se torna sua melhor - única - amiga.
Acompanhamos essa narrativa sob três pontos de vista em três épocas distintas: Szu, em primeira pessoa, nos narra sua história em 2003. Depois temos o ponto de vista de Amisa, na década de 70, e a acompanhamos desde sua saída de uma aldeia afastada até ser encontrada por um diretor para fazer os filmes. Por fim conhecemos Circe em 2020, 17 anos depois dos eventos que separam as duas amigas.
Ponti é um livro que brilha com as personagens que protagonizam essa história. A construção e desenvolvimento de Szu, Amisa e Circe foi um ponto de destaque para mim, e mesmo quando a trama vai ficando morna de acontecimentos, me interessava saber para onde essas personagens iriam no próximo capítulo. Nesse ritmo concluí a leitura em poucas horas, envolvida por elas e pelas atrações um tanto fantásticas que tiram o livro do lugar comum, mesmo com as intrigas adolescentes e o final um tanto fácil.
O toque de realismo mágico, a estranheza de Amisa, a imprevisibilidade da narrativa fizeram com que a obra se tornasse mais e mais empolgante. Lendo, eu esperava uma grande reviravolta voltada ao sobrenatural, que não aconteceu, mas deu seus indícios. Essa divisão entre passado e o ?hoje? com as três personagens foi uma escolha bem feliz da autora singapurense nesse seu primeiro romance, que mescla mitologia, modernidade, traz referências pop e é ambientado em Cingapura em três épocas diferentes, com diferentes graus de calor infernal muito bem descritos.
Recomendo!