spoiler visualizarValdir.Lopes 26/01/2022
O VELHO BUK E SEUS GATOS
Ler poema/poesia não é uma tarefa muito simples, apesar de prazerosa. Enquanto não consigo a conexão com o mundo do poeta, seu olhar, sua sensibilidade, alguns versos ou palavras ficam nebulosas. Quando saber que gato é gato e não é outro além de gato? Isso sem levar em conta as análises estruturais, que aliás, acho que o velho Buk não estava lá muito preocupado.
Luto para acompanhar os traços poéticos de Bukwski. O poeta se expressa sobre fatos ordinários e tece diálogos com suas próprias reflexões. Às vezes penso que os 9 gatos são as 9 dimensões presentes dentro dele mesmo. São reflexões ora recortadas, fragmentadas, espaçadas e incompletas, como peça de um quebra-cabeça do seu inconsciente, ora tratativas filosóficas e teoria sobre a vida, amor, violência ou sexo, por exemplo. E lá no fundo um tratado escatológico:
"As fábricas, as cadeias, os dias e as noites de bebedeira, os hospitais me enfraqueceram e me abalaram como um rato na boca de um gato malandro: vida." p. 26
Penso que não há que procurar nas construções poéticas formulações ou tratativas como se orasse com a bíblia aberta ou questionasse oráculo sobre o futuro. Às vezes é um encontro pessoal subjetivo e temporal. É a segunda vez que leio Sobre Gatos. Há dois anos eu não era quem sou. e "...tudo que queremos é a ausência dos outros" p.60, talvez para encontrar a nós mesmos.
Sobre gatos é uma obra mosaico, um quebra-cabeça que tenta reconstituir o espírito de Charles Bukowski, refletido na convivência com seus gatos. Leio o livro para encontrar o autor e acabo me vendo refletido nele.
Recomenda-se a leitura com delicadeza, sem a racionalidade humana, mas com a parcimônia dos felinos.