FellipeFFCardoso 13/09/2023
Creio que o grande mérito deste livro é parecer uma imensa fofoca. A sensação, enquanto leitor, é de estar na cozinha da casa de um amigo, tomando um cafezinho e ouvindo uma boa história, contextualizada pelos ?diz que disses? e por uma boa dose de ?eu aumento, mas não invento?. É interessante que, apesar do passeio histórico, mesmo que ficcional, e de temas essenciais para a constituição social do país, mais especificamente do Rio de Janeiro e suas particularidades, a prosa não é cansativa como esperavam meus vieses, sendo muitas vezes abraçada por fina ironia, compartilhando opiniões polêmicas, até preconceituosas, que estão no pensamento coletivo nacional, ainda que ninguém as admita. A narrativa, penso eu que pela proposta, não é linear e o vai e volta no tempo, matando gente viva e revivendo gente morta, dá essa aura da mistério, quando não há mistério algum no final das contas. É um bom livro. Para meus critérios de leitor que também escreve, poderia ter o autor efetivamente explorado algum que outro recurso que instigasse melhor o leitor, talvez embarcando sem receio em um ou outro dos momentos romanescos do livro, especialmente os relacionados a uma das personagens mais fortes, ao invés de sobrevoá-los apenas. Isso nos levaria a não experimentar, de certa forma, o que também vivemos aqui de fora quando a fofoca tem potencial, isto é, a sanha do conta mais e com mais detalhes, mas o fofoqueiro tem medo da bagunça que pode dar e não coloca tudo na mesa.