Gramatura Alta 25/07/2019
http://gettub.com.br/2019/07/25/amiga-ursa/
u comecei lendo AMIGA URSA com a ideia de ser uma história infantil como tantas outras que já li, mas estava totalmente enganado. Primeiro porque é uma história baseada em algo que realmente aconteceu, com a adição de alguns toques de ficção, estes criados apenas para dar uma explicação mais simples para as crianças. Entretanto, Rita Lee não esconde as partes tristes, e isso de forma proposital, exatamente para que o pequeno leitor comece desde cedo a ter consciência dos maus tratos que os animais em cativeiro, em circos, sofrem.
Quatro ursos foram sequestrados da Sibéria quando ainda eram filhotes, Marsha, Katia, Ira e Misha, duas ursas e dois ursos, e trazidos para circos no Brasil. Os animais saíram de um habitat onde a temperatura é de 60 graus negativos, para um local onde a temperatura pode chegar a 40 graus positivos. O dois ursos, Ira e Misha, depois de anos em circos, não sobreviveram aos maus tratos e às temperaturas. Marsha e Katia conseguiram, após duas décadas, serem resgatadas e levadas para um local próprio e mais fresco.
A primeira notícia de que se tem conhecimento de Marsha é de 1996, quando ela tinha três anos de idade, e fugiu do circo Vostok para andar pelo meio da cidade de Tatuapé, no interior do estado de São Paulo. Ela foi recapturada e levada de volta ao circo. Mas apenas em 2011, quinze anos depois, que o Ibama conseguiu resgatar a ursa, que agora pertencia ao circo D’Itália. Os quatro ursos viviam amontoados em uma jaula, onde sequer conseguiam andar, e só saíam para apresentações no picadeiro.
Após o resgate, Ira e Misha, doentes, magros e velhos, não sobreviveram. Kátia foi para um Zoo de São Francisco do Canindé, e Marsha para o Zoobotânico de Teresina, Piauí. Após sete anos de luta nos tribunais e de uma campanha arrasadora nas redes sociais, em 2017 foi concedido, pelo juiz federal Frederico Botelho de Barros Viana, através de Ação Popular, a liberdade de Marsha, que foi transferida para um santuário em São Paulo, conhecido como Rancho dos Gnomos, e passou a ser chamada de Rowena.
A campanha contou com o apoio de vários artistas, como da Luisa Mell, Rita Lee, Glória Pires, Alexia Dechamps, entre ativistas, veterinários, advogados, jornalistas, e muitos outros. Inclusive, Luisa Mell custeou a construção da nova casa da Rowena e, juntamente com Rita Lee, é uma das personagens de AMIGA URSA.
O livro ilustrado narra toda a vida de Rowena e dos irmãos, desde quando eles foram sequestrados, até a cegada de Rowena ao santuário. Tudo com uma linguagem simples, resumida, e com ilustrações belíssimas de Guilherme Francini, que nas partes tristes não abusa das expressões dramáticas, exatamente para não transmitir uma tristeza maior ainda para os pequenos leitores.
Entretanto, como disse no início da resenha, nenhum detalhe foi ocultado pela autora, inclusive os maus tratos e a morte dos dois irmãos de Rowena. No final do livro, encontramos uma foto da Rita Lee alimentado Rowena, e a edição também vem acompanhada com duas máscaras de papel, uma da personagem de Rita na história, e outra da ursa. É um incentivo para quem for ler para os pequenos, usar as máscaras como um pequeno teatro.
Se você quiser conhecer Rowena, criaram um perfil no Instagram, que você pode acessar aqui. No perfil, procure por imagens mais antigas, de quando ela chegou ao santuário, poderá ver como ela foi maltratada. E depois, compare como ela ficou mais gorda, bonita e feliz.
Mas, depois de já ter escrito esta resenha, e antes de publicá-la, fiquei sabendo que Rowena faleceu devido a um tumor. Foi no dia 23 deste mês, julho. Finalmente ela poderá descansar, depois de uma vida de muito sofrimento e injustiças. Tenho certeza de que, agora, ela está no lugar que merece de verdade, ao lado de seus irmãos e irmãs. Que fique em paz.
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