Alessandra Pedrotti 13/01/2021
Péssimo, triste e cruel
Escrevi essa resenha para um trabalho da disciplina de Literatura Infantil (curso Letras).
Não existe maneira simples e fácil de apresentar minha opinião sobre essa obra se não dizendo: esse foi um dos piores textos que já li na vida. Não há trabalho com as palavras ou relevância para a literatura nacional que justifique (ou perdoe) a atrocidade racista que é esse conto.
Negrinha, conto que leva como título o nome da personagem principal, trata da história de uma criança de 7 anos de idade, órfã, filha de escravos, que fora mantida como propriedade de sua sinhá depois da libertação dos escravos no Brasil como um “agrado”, já que a criança não tinha família para cuidar dela. A sinhá, D. Inácia, utilizava a criança como um saco de pancadas para descontar seus ódios e frustrações torturando a menina.
A leitura do texto é difícil para um indivíduo do século XXI, que tem noção de como o período escravagista no Brasil foi cruel e desumano e que seu impacto é sentido pela população preta até os dias atuais. Conhecendo a vida de Lobato, como herdeiro de um senhor de escravos, apoiador da eugenia e admirador da Ku Klux Klan (como dito pelo próprio), não podemos de maneira nenhuma enxergar a obra “Negrinha” por algo além do que ela é: o espelho dos pensamentos do homem racista que a escreveu.
Não bastasse o racismo sem fim do texto (posso estar soando repetitiva, mas o conto também é), gostaria de destacar um trecho em específico que demonstra também, o machismo do autor:
“Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma — na princesinha e na mendiga. E para ambas é a boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos divinos à vida da mulher: o momento da boneca — preparatório, e momento dos filhos, — definitivo. Depois disso está extinta a mulher.” (p. 3).
Podemos ver, pelo destacado no trecho, que Lobato consegue, em um conto curtíssimo, classificar uma personagem (que representa sabe-se lá quantas crianças daquele período) como inferior não só por ser negra, mas também por ser mulher.
Frente a todos os pontos apresentados nessa resenha e conforme o posto por Reginaldo, no texto “Obra infantil de Monteiro Lobato é tão racista quanto o autor” (em concordância com o parecer técnico do MEC sobre a permanência das obras de Lobato no PNBE), as obras do autor devem ser lidas sob a ótica de indivíduos conscientes de que esses textos apresentam uma visão racista e eugenista, que não estão acima de críticas e que, em momento nenhum, devemos ler uma obra a separando do autor, pois a arte é um produto direto, uma representação alegórica dos pensamentos e caráter do seu criador.