Torturas de amor

Torturas de amor Bruno Gaudêncio (Org.)




Resenhas - Torturas de amor


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Tiago 02/08/2019

A laboriosa tradução da simplicidade
Coletânea de contos baseada em clássicos da música brega, Torturas de Amor (Penalux, 2019) reúne doze autores nordestinos em torno de um cancioneiro que, como bem aponta o escritor e historiador Bruno Gaudêncio (organizador e prefaciador do volume), foi o pilar do mercado fonográfico brasileiro entre os anos de 1970 e 1980 — quando as gravadoras dividiam seu catálogo entre “artistas de prestígio” e “artistas comerciais”, e “em muitos casos as vendas do segundo grupo bancavam as experimentações estéticas do primeiro”.

Debruçados sobre letras como “Eu Vou Tirar Você desse Lugar” e “Fuscão Preto” (canções que abrem o livro, nas interpretações literárias de Adrienne Myrtes e André Balaio), escritores e escritoras tiveram o desafio de transpor para as páginas a simplicidade do brega — que não é a simplicidade do banal, mas do complexo: a “laboriosa tradução da complexidade”, como brilhantemente define o cronista Felipe Pena.

Trabalhando temas primitivos e universais como o amor, a traição e a vingança, a música brega difundiu-se nas rádios logrando uma catarse coletiva difícil de ser enxergada sob os padrões da criação literária e do seu tímido mercado. O desafio, que em certo sentido já nasce perdido, ganha graça com as releituras que não se centram apenas na ficcionalização literal das letras, mas se expandem para a atmosfera de bares e cabarés, recorrendo a um imaginário criado não apenas pelas músicas, mas também pela cultura que elas fomentaram e que perpassa por elementos como a moda e os hábitos das gerações que o brega atingiu.

Prova disso é o ótimo “Eu Hoje Quebro Essa Mesa”, conto de Braulio Tavares que se remete ao seriado How I Met Your Mother — uma piscadela às gerações que ouviram o brega como uma herança de seus pais e o inseriram em uma lógica de consumo puramente hipster e vintage. A história promove um insuspeito encontro entre o brega e o punk, representado pela personagem de uma mulher que, desafiando as convenções do patriarcado, entra uma noite desavisada num cabaré, com sua cabeça raspada e sua jaqueta de couro cheia de rebites.

Alguns contos evitam esta ambiência mais óbvia, como é o caso de “A Beleza da Rosa” (de Astier Basílio), “Lições de Respiração” (de Débora Ferraz) e “É Impossível Acreditar que Perdi Você” (de Roberto Menezes), contos que transfiguram uma realidade autônoma, não necessariamente centrada nesta atmosfera boêmia criada pelas canções. É quando temas como política, memória e a solidão do homem contemporânea afloram, fugindo do leque da sexualidade e do humor aberto pelos demais textos.

O recorte literário proposto, circunscrito na esfera do popular e depositada exclusivamente nas mãos de nordestinos, amplia a relevância desta coletânea que, longe de tentar dar respaldo literário à música brega, presta enfim o devido tributo a uma arte irmã, quase sempre subestimada.

site: https://medium.com/@tiagogermano/a-laboriosa-tradu%C3%A7%C3%A3o-da-simplicidade-b46bde5d04b0
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Edmar.Candeia 28/07/2019

Contos interessantes
Coletânea de contos bem escritos tendo como tema músicas bregas. Leitura leve a agradável. As histórias ficaram bem boladas, embora algumas levemente fujam das músicas.
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