O complexo melancólico

O complexo melancólico Guido Arosa




Resenhas - O complexo melancólico


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Rafael Mussolini 20/08/2020

O complexo melancólico
"O complexo melancólico" do Guido Arosa (Editora Garamond, 2019) é um livro devastador. Para ler o que o narrador tem a nos contar é preciso se permitir a imersão numa escrita que fala sobre a dor e que não faz subterfúgios ao escolher as palavras que vão ilustrar o que o autor tem a nos dizer. Guido diz o que precisa dizer e em muitos pontos diz sobre coisas que não queremos ouvir. Em "O complexo melancólico" acompanhamos a trajetória de um trauma e uma luta constante, que as vezes se dá de forma racional, que as vezes se apresenta como manifestação do inconsciente, mas que tem por objetivo o entendimento de sua condição enquanto ser que vive e morre muitas vezes em uma mesma existência.

O autor olha para seus próprios traumas e arremata: "meu texto é a dor que tento compreender." Estamos diante de um livro sobre abuso sexual, sobre doenças, sobre a violência da homofobia, conflitos familiares, hipocrisia social, mas também somos testemunhas de uma obra que foi construída com uma coragem que emociona. Olhando para suas feridas, Guido olha para incontáveis mazelas que não são apenas suas e que conversam com a gente de forma muito particular. Além de ser um livro cheio de dores, é um livro sobre o poder de se reinventar e tomar a própria vida nas mãos custe o que custar.

Guido Arosa fez escolhas narrativas interessantes para nos inserir em seu universo. Inicialmente ele utiliza da força das metáforas em contos que já nos remete à tônica que seguirá nas páginas seguintes onde temas como homossexualidade, família e abandono são estruturantes. No primeiro texto o autor chama Freud para a conversa, pois "o complexo melancólico se comporta como uma ferida aberta." Aqui os leitores tomam ciência de uma grave situação de violência que o marcou profundamente. Um episódio de abuso sexual vivido aos 12 anos pelas mãos do próprio terapeuta, que fora procurado para "curar" o garoto de sua homossexualidade. Em um texto intenso, Guido além de narrar a violência vivida, realiza quase um ensaio sobre vivências muito comuns a nós, homens gays, que precisamos provar nosso valor todos os dias.

"Com a rejeição que meu pai demonstra a meu sexo, entendo como crime o que deveria entender como amor. Enquanto uns tem o direito de ostentar alianças, tenho apenas o de ostentar a clausura."

É onde Guido nos diz que cansou de transformar a tristeza em apenas lágrimas e que agora ela será sempre arte. O livro é um projeto que visa o desabafo e começa com uma denúncia, seguida de narrativas que vão nos mostrando o quanto o estupro vivido interferiu em suas relações homoafetivas, familiares e de auto cuidado. Nosso narrador é um jovem que tenta entender porque vivera essa violência, assim como entender porque seus pais não agiram da forma como o jovem esperava que agiriam e como essa forma de "desproteção" acabou por formar um adulto com dificuldades de se proteger de conflitos, de amores tóxicos, de doenças sexualmente transmissíveis e da tristeza.

"O que fui antes do estupro? O que produzi antes de estar morto e ser morto? Eu era apenas uma coisa em processo de acontecer."

Nessa primeira parte formada por contos e poemas, Guido se apresenta e não sei dizer se intencionalmente, mas prepara os leitores para o peso das narrativas que estão por vir através de metáforas muito bem elaboradas. O peso a que me refiro é um peso que se forma mais pela quebra de um silêncio que é um projeto de nossa hipocrisia do que pelas temáticas que surgirão. Sabemos que existem famílias que desejam a reversão da homossexualidade, mas não falamos sobre isso. Sabemos que existem crianças sendo abusadas sexualmente, mas não falamos sobre isso. Sabemos do poder da homofobia de invisibilizar e patologizar a comunidade gay, mas não queremos falar sobre isso. Sabemos que não amamos nossos familiares o tempo todo, mas é quase um crime falar sobre isso. Guido Arosa fala, independente de você leitor estar preparado ou não.

Na segunda parte do livro o autor abraça de vez o tom confessional com textos em formato de diário. Enquanto estuda sua dor, Guido faz reflexões muito interessantes sobre processo de escrita, sobre o que se considera ou não um texto literário, sobre o poder de um olhar poético sobre as mazelas da vida.

"Quero começar a escrever um diário, porque assim o fazem escritores, e acho que preciso encarar com mais coragem minha profissão... mas fico com medo de escrevê-lo, pois acho que tudo o que poderia acabar produzindo como ficção será desperdiçado aqui em formato descartável para a literatura. Tenho medo de escrever um diário e jogar fora as energias que poderiam ser empregadas no conto, na novela. Mas o que escrevo como literatura já é uma forma de diário, de expurgar as mazelas do cotidiano."

Perdi o fôlego em vários capítulos desse livro. Guido mostra ter total consciência dos riscos de escrever o que ele escreve e como escreve, mas ainda assim não deixa de se entregar nas mãos do leitor que tem uma chance de rever sua forma de encarar diversos assuntos e de entender um ponto de vista que pode ser diferente do seu, de se conectar com uma outra história que trilhou um outro caminho tão digno de respeito e narrativa quanto qualquer outra história.



Quando falamos de narrativas invisibilizadas, a homossexualidade se configura como um ótimo exemplo da eficiência desse apagamento. Ainda temos muito o que caminhar para garantir uma representatividade de vivências homossexuais na literatura e "O complexo melancólico" chega sem preocupação com filtros e floreios. O facebook chegou a censurar a capa de "O complexo melancólico" pelo simples fato que nela aparece um tronco masculino peludo e com vestígios de um suor que parece um pós gozo. A capa além de fazer total sentido para a temática do livro é uma das obras do Alair Gomes, precursor da fotografia homoafetiva no Brasil. Além de ter a postagem com a capa do livro apagada, o escritor Guido Arosa foi bloqueado pela rede social por 30 dias.

Guido expõe o horror da homofobia ao demonstrar como através dos tempos os gays foram incorporando a ideia de "proprietários de doenças". Desde a crescente epidemia de HIV/AIDS, que também já foi chamada de câncer gay que esse estigma persegue os homens gays, como uma sombra a espreita, principalmente nos momentos de prazer sexual. Nos fizeram acreditar que se você se relaciona com uma pessoa do mesmo sexo você está fadado a algum dia adoecer. Ainda que em diferentes graus, todo homossexual já se viu imerso nesse medo da doença e da morte.

As relações familiares aparecem de maneira muito forte em "O complexo melancólico". As figuras materna e paterna são apresentadas numa perspectiva para além do que estamos acostumados. Guido exalta a figura de seus pais em tudo aquilo que merece menção, mas também não deixa de falar sobre suas expectativas não alcançadas, sobre as vezes em que se sentiu desamparado e agredido simbolicamente. Sim, familiares também podem fazer isso.

"O mundo pode estar de ouvidos atentos, mas caso meus pais estejam de orelhas tapadas é como se o mundo inteiro me desse as costas, pois meus pais são o mundo."

Guido Arosa dedica "O complexo melancólico" aos abusados e homossexuais, mas ali também é possível enxergar uma carta aos seus pais e aos seus familiares. É possível ler uma espécie de manifesto sobre a liberdade sexual e o direito ao prazer, assim como um importante registro sobre a importância de se cuidar, não para alcançar um modo de vida higienista que parte dos moldes cristãos e heteronormativos, mas partindo da ideia de que somos nosso próprio templo, nossa própria casa. "O complexo melancólico" é uma ferida aberta, mas também um livro aberto onde cada leitor encontrará suas respostas para questões universais.

site: https://rafamussolini.blogspot.com/
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Gabi Daiub 17/05/2020

Impactante
Esse livro me trouxe experiências de vivências as quais eu não poderia ter nessa vida.
Sensível e impactante.Virei fã do autor e de sua obra.
GuidoArosa 31/05/2020minha estante


GuidoArosa 31/05/2020minha estante
Amei!




bobbie 06/10/2020

Resenha na força do ódio.
O título dessa resenha requer explicação: eu tinha feito uma das mais atentas resenhas, toda cheia de cuidados, desde que comecei a resenhar livros no Skoob, mas meu computador perdeu conexão e eu, sem ver, tentei postar o texto. Sem conexão, acabei por perdê-lo. Respiro fundo para tornar a escrevê-lo (e é claro que não será o mesmo). O livro de Guido Arosa é um exemplo de obra multisemiótica, com gêneros textuais mistos, tudo em um mesmo trabalho. Há aqui romance psicológico, pura poesia em prosa, seguido de versos (poesia em forma de poesia mesmo), fotografias, trechos de diário - a maior parte do livro, basicamente da metade para o final, e até um ensaio/artigo científico escrito como parte de seu curso de mestrado. O texto de Arosa é sofrido. Começa como um sofrimento poético, de um homossexual que respira sofrimento por: 1) carregar a pecha/o estigma maligna/o que, inacreditavelmente, a homossexualidade ainda carrega em plena terceira década do século XXI (ok, quase terceira década) e; 2) por ter sido abusado quando tinha 12 anos, por seu terapeuta. Vemos aqui a marca de uma sexualidade que se pune por ter internalizado a punição infligida pela sociedade há séculos. O narrador/protagonista/autor caminha em círculos, apavorado pela iminência das ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis, que ele ainda chama pela antiga sigla: DSTs), mas ao mesmo tempo se coloca em contato direto com a possibilidade clara de se infectar por tais ISTs. Exemplo típico do homossexual que ainda tem um longo caminho de aceitação e que, por meio do ódio que nutre por si mesmo, transferido para ele pela sociedade e, mais importante (ou pior), pela própria família, passa a vida flertando com a Morte, ao mesmo tempo que se sente paralisado por ela. A segunda metade do livro, basicamente apenas entradas de seu diário, tem tamanha ocorrência de menções a Aids/Sífilis/Hepatite C quanto à luta do autor/narrador/protagonista contra a eterna "visita" às chances de se infectar por elas. Vemos claramente alguém que se pune pela sua sexualidade e pelos abusos que, infelizmente, sofreu. A última estrela não dada reflete a minha opinião de que, talvez, aqui haja dois livros em separado: um romance psicológico, linda e delicadamente escrito (a primeira parte do livro), permeado com suas fotografias e poesias, e uma coletânea das memórias do autor, que destoam do tom do começo do livro. Ainda assim, considero uma leitura mais que recomendada, para gays e não gays, para que fique claro os efeitos danosos na psique de alguém que, desde muito, muito cedo, aprende que já começa a vida "errado" por ser como é.
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brunossgodinho 24/02/2020

Íntimo, pujante, preocupante
Esse livro de Guido Arosa faz jus ao prêmio vencido. A escrita consolidada, num estilo bem definido, mostra que o autor não é iniciante embora seja jovem e seja seu livro de estreia. Como fica evidente nos diversos textos, a escrita é o meio de expressão desse homem atormentado que o autor ora descreve (vendo-o de fora), ora relata (sendo ele próprio).

Na leitura marcou-me muito a relação do narrador (e do autor) com os livros e com a escrita. Eu, que não escrevo, ao menos não de forma ficcional, nem de forma profissional, ou sequer de forma pessoal (com exceção, é claro, das lamentações cotidianas no Twitter), senti um baque de identificação e uma força muito grande nessa relação. Os livros e a escrita são refúgio de uma mente e um corpo inquietos. De certa forma, sinto o mesmo — minhas inquietações, contudo, são outras.

Os relatos, autoficcionais, como diz o escritor da orelha do livro, são fortes. Sobretudo para quem não está habituado à cena homossexual. Dizer "cena" é um tanto démodé, não? Mas, parece que é isso mesmo. Um teatro, vasto, de inúmeras peças encenadas umas em meio às outras, tragédias sobretudo. Esse mundo que parece à parte e, no entanto, existe contíguo, é arrebatador. Um mundo de riscos, de paranoia, de medo, mas também de liberdade, de isenção, de arrebatamento.

A leitura, para mim, findou-se de certa forma preocupante. Conheço Guido pessoalmente. Não somos grandes amigos, é verdade, sou ex-namorado de uma prima (há coisa mais suburbana, elemento comum a nós dois, que isso?). Mas tenho carinho por ele, sobretudo pela identificação de uma escolha de trajetória de vida dedicada ao trabalho intelectual, cujo desapreço é multidirecional em nossas vidas (família, amigos, sociedade...). Creio eu que ele tem esse apreço por mim também. Essa afeição platônica que existe entre pessoas distantes, mas que se identificam (talvez, eu mais com ele do que ele comigo). Distantes, aliás, mas morando na mesma cidade. Daí um estranhamento ainda maior de estar alheio a um mundo inteiro de existências e preocupações que habitam tão perto.

A preocupação, todavia, não é no sentido de interdição. Aquela preocupação de "você deveria parar...", mas uma outra, "se sinto tanto apreço, por que não estou mais próximo?" O complexo melancólico é um livro de muita força, que expõe o autor em fragilidades comuns a muitos de nós. Esse complexo, de alguma maneira, nos une. Ao menos deveria.
GuidoArosa 31/05/2020minha estante
Obrigado, querido!




FellipeFFCardoso 21/03/2024

Em algum momento do livro, o autor faz um manifesto subliminar sobre a fragmentação narrativa que marca a experiência de leitura deste livro: como garantir coesão, se a realidade é cindida? No entanto, tal manifesto só aparece depois de um terço do livro, quando o leitor de certa maneira já experimentou o deslocamento de rótulos que ele oferece: é um romance? são contos? poemas? textos acadêmicos? um diário?

No entanto, é logo no começo que o autor também delimita esse deslocamento para o próprio leitor que, eventualmente, construirá opiniões acerca dos temas apresentados, muitos deles já relegados à margem do juízo público: homossexualidade, sexo, dor, trauma, vergonha. Ele escreve: "cansei de transformar minha tristeza em lágrimas e, agora, ela sempre será arte. Porque a arte não me julga, não tenho que ter medo da arte, ela me entende, me aceita".

Ele assim o faz porque, já no terço final de sua jornada, o narrador afirma que: "as coisas parecem que vão dar certo, mas ao mesmo tempo desmoronam. É como se eu quisesse que tudo desmoronasse rápido demais, pois é ao desmoronamento que sei reagir. Corro atrás da felicidade, mas gozo com a tristeza". O livro é, portanto, uma materialização dos escombros de ser humano que ruiu depois de um abuso no início da adolescência e sobre o adulto que está soterrado.

Como escrever aquilo que se sente, mas que é inexprimível? Arosa parte do princípio de que ele não tem obrigação nenhuma com a coesão e nem com a forma, pois o narrador está levantando o material demolido para saber o que está vivo, o que ainda respira, o que ainda é passível de reconhecer como seu, o que não foi maculado pela memória da violência sofrida aos doze anos e da própria ideia de violação que ser gay significa para a normatividade da estrutural social.

Enquanto lia, sendo eu também um homem homossexual, fiquei pensando sobre a linguagem como meio sistemático para reforçar a identidade, quando a própria linguagem está imiscuída na normatividade que destitui aspectos identitários de indivíduos gays. Quando, por exemplo, o narrador fala sobre o masculino e o feminino na obra da escritora ucraniana Svetlana Aleksiévitch, que aspectos psíquicos e binários dariam conta da experiência de homens que são marginalizados e condenados, de acordo com os critérios normativos binários de expressão de gênero, justamente por refutarem a masculinidade normativa sem sequer poderem pertencer também à ideia de feminilidade?

Lembrei de dois franceses. O primeiro, Pierre Bourdieu, para quem a repropriação cultural de um indivíduo é feita com as mesmas ferramentas que, antes, o destituíram de sua cultura. O segundo, Michel Foucault, que analisou a sexualidade como dispositivo, isto é, forma de controle e coerção cuja pretensão é regular a relação com o prazer. Socialmente falando, a homossexualidade desloca o foco dos padrões preestabelecidos e, muitas vezes, usa o deslocamento como deturpação, estabelecendo, no corpo gay, o trauma e a vergonha como reafirmação de sua força, de seu poder e, logo, da submissão e da fragilidade do outro.

O abuso sofrido pelo narrador demonstra o sofrimento físico e psíquico que o acomete não apenas pela chaga do abuso em si, mas pela solidão, pelo medo, pela exposição ao perigo, pela falta de compreensão, por não ter fé pública. Ele usa o sexo como método de autoflagelação pela culpa de ser quem é. Contudo, ainda sobre a ótica da reapropriação cultural e social e da sexualidade como dispositivo de poder, é justamente pelo sexo, mesmo como ato mecanizado pela adição ao prazer, que ele busca a sua verdade, o conhecimento de si. O capítulo/conto "O celeiro" é talvez a parte mais complexa dessa desestrutura narrativa, algo que aproxima o narrador de uma linguagem menos masculina que, por outro lado, fica tão presente em seus diários.

A gordofobia e o etarismo que muitas vezes aparecem no texto são justificados pela aversão à figura do abusador, mas não deixam, ainda assim, de serem incômodos por reforçarem, como anverso, os padrões de desejo gay tão prejudiciais à própria construção saudável do prazer sexual compartilhado, que alçam a figura do homem com "tipo de homem" ao modelo a ser alcançado, já que daí se poderia negociar a noção de pertencimento, de aceitação e, quem sabe assim, pretensamente, não mais se sentir solitário, incompreendido, o que exclui, na própria gênese da exclusão já sofrida, a maior parte dos corpos.

O narrador chegará à essa conclusão? não no livro. Mas quem sabe nós, leitores, poderemos nos afastar dessas ciladas e pensar que somos, antes de qualquer coisa, o que somos e tudo o que vem depois é construção social, inclusive o desejo e aquilo pelo qual um se dispõe a aniquilar o seu ser por uma luxúria mecânica, transacional, como uma droga que alivia por alguns momentos os efeitos dos traumas, para depois continuar reclamando da falta de conexões autênticas e reais.
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Euler 25/09/2020

Esse é um livro para uma longa conversa com @ocicerojunior no João do Alho sabendo que a conta vai dar três dígitos. Estruturalmente, há uma mescla de gêneros entre conto, poemas, ensaios cientificos e diário - essa essa última parte para mim a mais interessante - que ajudam a contar a confusão que existe no narrador, confusão resultante do trauma de ter sido abusado na infância. Somado ao abuso, a falta de aceitação da sua homossexualidade por parte da família faz com que ele não consiga vivenciar o afeto em nenhuma relação. E aí é onde mora o debate dessa história que é minha e é nossa. A afetividade é negada pra a corpa bicha. Nós não podemos amar, e aprendemos a associar o prazer com o perigo e a paranoia. O que pessoas agatês podem chamar de promiscuidade, é a busca por ser amado que se acelera dentro de nós e que acaba nos colocando em situações que geram culpas e medos. Dentre esses medos, o livro desenvolve a relação com o vírus do HIV e de como esse temor serve como forma de nos paralisar e enlouquecer. Há outro temor que me incomoda, a palavra gordo durante a narrativa está sempre associado à doença e a feio, o que prova que mesmo uma bicha que é rejeitada no meio bicha, promove também essa exclusão, libertemos as corpas gordas da monstrificação em vossas artes, humanes. No mais, é um livro companheiro extremamente necessário de ser lido e que cria íntimas relações com nossas vivências de mundo ??
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Vinícius 19/01/2022

MAIS DO QUE UM LIVRO: UM MANIFESTO!
Instagram: @vinil23
?

Pensei que o livro de estreia de Guido Arosa, ?O Complexo Melancólico?, fosse um romance, mas ele é muito mais do que isso. É uma obra que mistura ficção, poesia, testemunho, denúncia, militância etc. É o livro dos excluídos pela lógica heteronormativa, é o livro dos afetos mais abjetos segundo o senso comum. Nas 280 e poucas páginas, a liberdade anda lado a lado a culpa, mas não culpem o autor por isso. A responsabilidade do sofrimento alheio cabe à sociedade, que ainda precisa aprender a lidar com a diferença, com a diversidade, com o direito de nos relacionarmos com quem desejamos e queremos.
Arosa não doura a pílula: ele fez questão de expor a ferida aberta que todo indivíduo da comunidade LGBTQIA+ possui em cada página que escreveu. Além disso, ele expõe as agruras, as paranóias, as desventuras, as perdas e ganhos de muitos de nós. Um livro forte e que merece ser lido não apenas por aqueles que ostentam as cores da bandeira colorida, como também por aqueles que dão suporte à causa.
?Nunca serei capaz de fechar essa ferida que é para mim ser homossexual. Sei que não é culpa do homossexual, e sim de como ele é acolhido pela sociedade? mas sempre nos culpamos, sempre me culpo?? - p. 102;
Um aviso: livro não recomendado a menores de 18 anos. Porém, se você já é maior de idade, leia ?O Complexo Melancólico? e aperte os cintos para fazer uma boa jornada.
#livro #libro #book #OComplexoMelancólico #GuidoArosa #LGBT
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