Léo Araújo 10/09/2011
Sem filtro solar!
O mundo que eu vi é um tipo de leitura pitoresca: narrado em primeira pessoa, parece um diário, mas não é; contêm fatos históricos, mas não tem "cara" de livro de pesquisa; possui narrativas romanceadas e de longe é um romance. O que é então?
É uma obra-prima, uma descrição quase tridimensional de tão perto que se consegue chegar do real, do acontecido, dos personagens e dos lugares. Nunca li nada igual.
Esse é Stefan Zweig (pronuncia-se Estéfan Tzevaig) descrevendo os momentos felizes de um jovem que começa a descobrir o seu talento como escritor entremeado com as descrições lúgubres do insterstício bélico do início do século XX.
O livro é recheado de momentos históricos descritos a partir da visão de um ser humano, como descrição do comportamento europeu no início do século, a período da Grande Guerra e suas peculiaridades, as situações em que surgiram grandes obras suas, como as biografias de Fouché e Maria Stuart, a visita à Rodin e o testemunho de como o "barbudo francês" criava suas obras, a tensão pré-guerra, onde era visível a ascenção de Hitler, tampouco exequível, já que alemães acreditavam que só se chegava ao poder os "aculturados academicamente", a convivência com Strauss, Freud e a grande discussão entre Bernard Shaw e G.H. Wells.
Um ponto importante é que o livro destaca de forma muito ferina e clara o sentimento que Hitler realmente desejara impor ao povo judeu: vergonha, humilhação, apátrida e a morte cultural, cívica e fisiológica através do nanismo. É uma descrição que quase se sente, quase se vive os momentos de angústia, de tensão e de esperanças.
Para quem gosta de história nua e crua, o livro é prato cheio; pra quem não conhece a obra do autor, sugiro que comece por "Momentos decisivos da humanidade" para depois adentrá-lo. Para que fique mais claro o conteúdo, sugiro a leitura de Queda de Gigantes, volume I, de Ken Follett que descreve em minúcias, em formato de romance, os costumes e os acontecimentos da época.
Fica claro ao ler O mundo que eu vi que não há a "proteção solar" que existe em Queda de Gigantes, volume I.
Recomendo!