Carla.Parreira 30/12/2023
Aprenda a ser otimista: Como mudar sua mente e sua vida (Martin Seligman). Melhores trechos: "...A vida começa com o desamparo... A visão tradicional das conquistas, assim como a visão tradicional da depressão, precisa ser revisada. Os ambientes de trabalho e as escolas funcionam sob a suposição convencional de que o sucesso resulta da combinação de talento e vontade. Quando ocorre um fracasso é porque faltou talento ou vontade. Mas o fracasso também pode acontecer quando talento e vontade estão presentes em abundância, mas não o otimismo... Até pouco tempo atrás, havia somente duas formas aceitáveis de pensar a depressão: a psicanalítica e a biomédica... Na visão de Freud, se livrar da depressão não é uma tarefa simples. A depressão é o produto de conflitos da infância que continuam sem resolução sob camadas sólidas de defesa. Freud acreditava que somente quebrando essas camadas e, enfim, resolvendo os conflitos antigos a tendência à depressão poderia minguar. Ano após ano de psicanálise — a batalha conduzida pelo terapeuta através de lembranças da infância para se entender as origens do desvio da ira contra si — é a receita de Freud para a depressão... A perspectiva biomédica, ao contrário da psicanalítica, tem razão até certo ponto. Algumas depressões parecem ser resultantes de um cérebro que funciona mal e, em certa medida, são hereditárias... Pior de tudo, a abordagem biomédica transforma em pacientes pessoas essencialmente normais e as torna dependentes de forças externas — comprimidos dispensados por um médico benevolente. Os antidepressivos não são viciantes no sentido habitual: o paciente não anseia por eles quando o remédio é retirado. Na verdade, quando o paciente tratado com sucesso para de tomar os medicamentos, é comum que a depressão volte... Aqueles que dão explicações permanentes e universais para seus problemas tendem a desmoronar sob pressão, por muito tempo e em diversas situações. Encontrar as causas permanentes e universais para os eventos negativos é a prática do desespero... Quem acredita causar coisas boas tende a gostar mais de si mesmo do que quem acredita que as coisas boas vêm de outras pessoas ou das circunstâncias... O estado de espírito depressivo não costuma se manter estável ao longo do dia. Normalmente está pior assim que a pessoa acorda. Pensamentos sobre derrotas passadas e perdas que o novo dia sem dúvida trará desarmam o deprimido ainda na cama. Se continuar deitado, o estado de espírito se abate como um lençol pegajoso... A tristeza não é o único estado de espírito da depressão: a ansiedade e a irritabilidade geralmente se fazem presentes. Mas quando a depressão se intensifica muito, a angústia e a hostilidade vão sumindo e a pessoa se sente entorpecida e vazia... O depressivo demonstra três sintomas comportamentais: passividade, indecisão e atos suicidas... A depressão costuma ser acompanhada de sintomas físicos indesejáveis: quanto mais profunda a depressão, mais numerosos os sintomas. O apetite diminui. Você não consegue comer. Não consegue fazer amor. Até o sono é afetado: a pessoa acorda cedo demais e se revira na cama, tentando em vão voltar a dormir. Por fim, o despertador toca e ela começa o novo dia não só deprimida como exausta... Esses quatro sintomas — mudanças negativas no pensamento, no humor, no comportamento e nas reações físicas — formam o diagnóstico da depressão, seja unipolar ou normal. Para ser considerado deprimido, você não precisa ter os quatro sintomas, e não é necessário que algum sintoma específico esteja presente. Quanto mais sintomas tiver, no entanto, e quanto mais intensos forem eles, mais certeza você pode ter de que o problema é depressão... A depressão e seus sintomas são, na verdade, a mesma coisa. Ela é causada por pensamentos negativos conscientes. Não existe transtorno subjacente a ser extirpado: não são conflitos de infância sem resolução, não é nossa raiva inconsciente, não é nem nossa química cerebral. A emoção vem diretamente do que pensamos: pense 'estou em perigo' e você sentirá angústia. Pense 'estão violando meus direitos' e você sentirá raiva. Pense 'perda' e você sentirá tristeza... Nosso raciocínio era simples. A depressão é resultado de hábitos permanentes de pensamento consciente. Se mudarmos o jeito de pensar dos pacientes, curaremos a depressão. Vamos fazer um ataque direto ao pensamento consciente, dissemos, usando tudo o que sabemos para alterar a forma como as pessoas deprimidas pensam nos eventos ruins. Disso surgiu a nova abordagem, que Beck chamou de terapia cognitiva. Ela tenta mudar o jeito com que o paciente deprimido pensa o fracasso, a derrota, a perda e o desamparo. O Instituto Nacional de Saúde Mental gastou milhões de dólares testando se a terapia funcionava para depressão. Ela funciona... Todos nos sentimos desamparados quando fracassamos. O baque psicológico nos derruba. Ficamos tristes, o futuro parece sombrio, e fazer qualquer esforço nos parece impraticável. Algumas pessoas se recuperam quase de imediato: todos os sintomas do desamparo aprendido se dissipam em horas. Outras continuam desamparadas por semanas a fio ou, se o fracasso é relevante o suficiente, por meses ou mais. Essa é a diferença fundamental entre o desânimo breve e um caso de depressão. Em otimistas, o fracasso causa apenas um desânimo breve... Ao juntar todas as peças, é possível notar uma forma de pensar especialmente autodestrutiva: elaborar explicações pessoais, permanentes e abrangentes para os eventos negativos. Quem tem esse estilo (o mais pessimista de todos) é propenso a ter sintomas de desamparo aprendido por bastante tempo e em diversas áreas quando fracassa, além de ter baixa autoestima. Esse desamparo aprendido prolongado leva à depressão... Crianças de fato ficam deprimidas, e ficam deprimidas com a mesma frequência e intensidade que os adultos, mas a depressão delas difere da dos adolescentes e dos adultos sob um aspecto impressionante. Elas não ficam desamparadas e não cometem suicídio. Possíveis suicidas acreditam firmemente que a tristeza atual será eterna e permeará tudo o que fizerem, e que só a morte encerrará seu sofrimento. O suicídio infantil é trágico e está em ascensão, mas os cerca de duzentos suicídios anuais desse tipo não são nem de longe um problema epidemiológico. Crianças abaixo dos sete anos nunca cometem suicídio, embora haja homicídios bem-documentados cometidos por crianças de apenas cinco anos... As antenas das crianças estão sempre ligadas na maneira como os pais, principalmente as mães, falam das causas de acontecimentos carregados de emoções... Há duas formas gerais de se lidar com as crenças pessimistas depois de nos darmos conta delas. A primeira é simplesmente se distrair quando ocorrem — tentar pensar em outra coisa. A segunda é contestá-las. Contestar é mais eficaz a longo prazo, porque crenças contestadas com sucesso são menos propensas a se repetir quando a mesma situação tornar a ocorrer..."