Daisy 20/02/2024
Marcante
Essa é a primeira vez, pelo que me lembro, de ter lido uma autobiografia que não é contada em primeira pessoa e que mescla com bastante destreza e beleza as lembranças pessoais de uma mulher e os acontecimentos históricos do seu país (França), do mundo de maneira geral. “Só” por isso Annie Ernaux já me proporcionou um sentimento completamente novo e me marcou. Talvez tenha ajudado o fato de a escritora ter mantido um diário durante a vida. Mas, sem dúvida, alguém apenas com os registros do diário não escreveria “Os anos”. Seus pensamentos, sentimentos, desejos da juventude. A vida simples da infância no campo. As guerras, os presidentes, os atentados, os protestos de rua, as revoluções sexuais, as transformações tecnológicas, amores. A vida de professora, de casada, de mãe, de mulher. De todas as mulheres que foi “isoladamente” e juntas tal qual um palimpsesto como diz a própria autora, ou seja, um pergaminho em que um texto é raspado para dar lugar a outro, muitas mulheres em uma. “Os Anos” é original, marcante, uma leitura ao mesmo tempo sociológica, histórica e pessoal de uma e de várias vidas.
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