Patricia Pietro 22/03/2022A forma como o autor escreve torna o livro maçante, e a leitura, arrastada. A temática também não ajuda. Cheguei a desistir duas vezes, e demorei bastante para concluir. Apesar de não ser uma leitura agradável, fui até o fim. E isso porque eu acredito na importância de escutar e entender (ou, ao menos, tentar) os dois lados do espectro político. Afinal, como discordar de uma ideia se não a conhecemos/entendemos?
Nesse livro, o autor busca explicar e defender a filosofia conservadora. Mais da metade dos capítulos do livro tratam da história do conservadorismo: seu nascimento, suas correntes, seus grandes pensadores. Enquanto apenas os últimos capítulos são destinados ao momento atual do conservadorismo na sociedade.
Me chamou bastante atenção a ausência de grandes pensadores conservadores. Edmund Burke, talvez, tenha sido o mais importante. Os que vieram depois dele não atingiram o mesmo grau de relevância/reconhecimento.
E é aí que entra um dos meus maiores incômodos em relação a essa obra: à falta de outros nomes, Scruton tenta reivindicar ao movimento conservador figuras como Adam Smith, Hayek e George Orwell. Aponta Smith como o pensador que "forneceu o insight filosófico que realmente deu início ao conservadorismo intelectual". Destaca Orwell e Hayek como filósofos que "compreenderam e defenderam a mensagem conservadora", mas que "se mostraram relutantes em admitir o rótulo".
GENTE! O fato de Orwell discordar dos intelectuais de esquerda de sua época, não o torna um pensador da direita. O escritor defendia o socialismo democrático em face do socialismo autoritário vigente (URSS). Quanto à Hayek, não é preciso ir muito longe: o autor, reconhecidamente liberal, inseriu um apêndice em sua obra Os Fundamentos da Liberdade, com o seguinte título: "Porque não sou conservador".
Em suma, o texto é de difícil compreensão, e a abordagem é um tanto quanto rasa (há muitas informações, autores e ideias, e poucas páginas para explorar profundamente tudo isso). O autor defende algumas ideias que, na minha opinião, são ilógicas e retrógradas. Cita como proeminente à causa conservadora o combate ao politicamente correto e ao islamismo, e se mostra super sensível à algo que ele chama de fobia contra os conservadores. (Vem aí: o conservadorismofobia).
Por outro lado, há alguns aspectos do conservadorismo extremamente defensáveis. Um bom exemplo é o pragmatismo como guia para a ação prática, ou seja, enxergar a natureza humana e a realidade como elas são (e não como gostaríamos que fossem) para, a partir daí, tomar decisões. Enfim, foi uma leitura que exigiu muito esforço, mas que no fim valeu a pena, já que eu sabia muito pouco acerca da filosofia política conservadora.