Pilantrinha 10/03/2022
O filósofo Píton estava certo, tudo na vida depende do quanto você quer comer alguém?
Vem descobrir isso comigo.
Começo essa resenha falando que esse livro, dentro do que se propõe, funciona. É de fato um guia prático e traz o bê-a-bá de como iniciar nesse mundo de "promiscuidade ética". Muita coisa aqui é realmente importante, e as autoras se deram ao trabalho de escreverem algumas páginas sobres as questões do sexo seguro, problemas familiares e outros pontos que são problemáticos, mas que muitos adeptos do poliamor jogam para debaixo do tapete.
Sabendo disso, a minha primeira crítica é sobre a minha pessoa mesmo, escolhi o livro errado. Comecei a entrar em diversas discussões e conversas muito boas sobre a questão do poliamor, e queria me aprofundar no assunto, por mais que achasse uma belíssima de uma patacoada.
Mas esse livro é bem básico, introdutório mesmo, e não consegue levar a diante diversas problemáticas. Muita coisa é mascarada, muitos problemas desse modelo de vida são ignorados com a desculpa do "ah, mas na monogamia também é ruim", e é isso. O poliamor como crítica ao capitalismo ser mais um reforçador da política de consumo é algo que eu realmente queria ver ser discutido, mas as autoras se limitaram a uma mera citação. Mas como disse, erro meu, a obra não se propõe a isso.
Mas tenho que dizer que esse livro é um bom marco para mim, porque abriu minha visão para muitas coisas. Mesmo como um adepto da monogamia, nunca tentei diminuir o modelo poligâmico, mas sempre tive minhas críticas ao "endeusamento" da prática e a forma que ele é vendido quase como uma religião. Ter a oportunidade de ver o ponto de vista de duas mulheres que são adeptas da promiscuidade ética (esse termo é maravilhoso haha) há décadas fez com que eu entendesse muitas das motivações, o que me ajudou a ter uma visão mais realista e menos preconceituosa sobre o assunto.
Tentei chegar na obra como uma folha em branco, e fiz o possível para isso. Até em um trecho, onde é descrito que uma menina soube da existência de Deus ao tocar o próprio clitóris, eu fiz o possível para não dar nenhuma risadinha. Falhei, mas mesmo assim continuei na obra e tentei ao máximo não trazer meus conceitos pré-estabelecidos antes de conhecer os delas. E olha, funcionou, mesmo que com ressalvas.
Minha segunda crítica é ao livro mesmo, as motivações são muito fracas. Basicamente, tudo depende do quanto você quer transar com alguém. A ideia que as autoras passam é que o desejo é soberano a tudo, e que você deve simplesmente ouvi-lo e ir transar. Agora, se possível. Eu ia lendo e me perguntando "mas bicho, eu não sou um ser pensante que tomo minhas próprias decisões? Será que eu posso desejar algo e simplesmente falar um não?".
Além disso, a quantidade imoral de "regras" (elas não gostam de chamar assim, porque traz uma ideia de imposição, mas é praticamente isso) que devem ser seguidas nesse modelo são assustadoras. E não surpreende, porque quando você começa a lidar com um número grande de seres humanos, as variáveis do que pode acontecer vão para a casa do [*****]. Quando chegou no tópico da criação de filhos e famílias estendidas, eu só pensava em quem tinha tanta disposição para se meter em uma rede dessas por livre e espontânea vontade.
E esse pensamento me deixou feliz.
Quanto mais eu lia, mais eu via lógica em algumas linhas de raciocínio, mas também via muita coisa que não concordava e achava até absurda. Mas poder ter essa visão me deixou contente porque a capacidade de ver uma possibilidade é algo lindo. Tá, aquele modelo de vida não serve para mim, mas e pra Maria? Para o Rafael, o Zé? Talvez seja exatamente o que eles estavam esperando e agora podem viver suas potencialidades ao máximo, e que assim seja!
Quero continuar lendo sobre o assunto e talvez ganhe até mais críticas ao modelo e a forma que ele é repassado, mas fico muito feliz que existam outras formas de ser feliz por aí. Então seja monogâmico, poligâmico, o que desgraça você quiser ser, mas seja feliz e não encha o saco de ninguém.
No fim isso acabou mais sendo uma resenha sobre o poliamor do que o livro em si, mas acho que valeu a pena.
Bebam água, comam frutas e fechem o livro agora, hora de transar.
Valeu!