cass.brandAo 16/07/2020
| A vontade de saber - Michel Foucault | Tradução: Maria Thereza da Costa Albuquerque | 176 páginas | @grupoeditorialrecord | #1 História da Sexualidade | 4,5★ |
"O essencial não são todos esses escrúpulos, o "moralismo" que revelam, ou a hipocrisia que neles podemos vislumbrar, mas sim a necessidade reconhecida de que é preciso superá-los. Deve-se falar do sexo, e falar publicamente, de uma maneira que não seja ordenada em função da demarcação entre o lícito e o ilícito, mesmo se o locutor preservar para si a distinção [...]; cumpre falar do sexo como de uma coisa que não se deve simplesmente condenar ou tolerar, mas gerir, inserir em sistemas de utilidade, regular para o bem de todos, fazer funcionar segundo um padrão ótimo."
Começo com essa citação para mostrar a força desse livro, e de como Foucault foi genial em descrever detalhadamente o processo social da inserção da sexualidade na vida das pessoas.
Ele vai desde a era vitoriana, no início do século XVII, até o século XX, e explica muito bem como a ciência sexual se desenvolveu. Esse primeiro livro é dividido em 5 partes, e cada uma vai ter um foco, mas sempre numa linearidade temporal. O autor apresenta de que maneira o sexo começou a ser discutido entre as pessoas, como o assunto virou um tabu social, e nos questiona a todo momento se realmente a cultura repressiva é tão forte quanto é propagada.
Em meio à uma cultura religiosa e narcisista, os primeiros sinais de sexualidade surgiram no clero, a partir do dogma da confissão; o objetivo era "expurgar os pecados carnais" a partir de descrições detalhadas de pensamentos e ações sexuais. Então, quando um homem decidiu compartilhar isto com o público, médicos, pedagogos e, sobretudo, psicólogos e psicanalistas começaram a investigar o gênesis da sexualidade, algo biológico e, posteriormente, psíquico.
É bem interessante algumas analogias que Foucault apresenta ao longo do livro, pois apesar de ser uma leitura densa, ela é didática, e muito bem explicada. Sua escrita pode ser de difícil compreensão para alguns, por ser muito prolixa e rebuscada, porém minha maior dificuldade, na verdade, foi absorver todos os conteúdos necessários para passar na resenha pra vocês. E creiam: isso não é nem metade.
Nesse primeiro livro da trilogia, veremos apenas uma prova de como a sexualidade pode ser complexa, não somente reprimida; houve toda uma ciência por trás para trazê-la a público, ainda que seus métodos tenham sido duvidosos na época. Foucault entra em detalhes nas medidas medicinais para saber a causa do desejo, do erotismo, e são extremamente bizarras e impensáveis por nós, mas que aconteceram, pois a burguesia se submeteu a elas, a partir de uma consciência biológica: o zelo com o próprio corpo.
Portanto, recomendo a leitura para quem quer começar a ler Foucault (foi meu primeiro livro dele), e pra quem gosta de não ficção. Essa edição é de boa diagramação, e achei a cor da capa muito bonita (arrasta pro lado pra ver), então fica a dica. Espero que tenham gostado da resenha
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