Spy Books Brasil 02/03/2024
A história flui rápida e a tensão se mantém ao longo de toda a história
O Voo da Vespa mistura espionagem e feitos heróicos no início da Segunda Guerra Mundial, desta vez na Dinamarca.
A trama – Follett nos coloca na história na Inglaterra, no início de 1941. A Alemanha dominou a europa ocidental praticamente inteira e o Norte da África. Sem um ponto no continente em que possa concentrar tropas terrestres, a Inglaterra – única nação de pé no combate aos nazistas – concentra seu esforço de guerra nos bombardeios aéreos a alvos alemães.
A Royal Air Force, porém, enfrenta um problema: os caças da Luftwaffe – a força aérea alemã – estão dizimando os bombardeiros britânicos. Nesse ritmo, a RAF em breve não terá mais aeronaves para seguir com a única frente de batalha que resta aos britânicos.
Depois de interceptar e decifrar uma troca de comunicação alemã, o MI6, o serviço secreto britânico, desconfia que o sucesso dos alemães se deva a algum novo sistema de radar instalado na Dinamarca. Hermia Mount, chefe da divisão dinamarquesa do MI6 aciona sua rede para tentar descobrir que novo equipamento é esse e uma forma de burlá-lo.
As protagonistas – Como é comum na obra de Follett, o autor inicia lançando várias personagens com potencial para herói. De saída, porém, percebemos que um forte candidato é Harald Olufsen, um jovem dinamarquês de 18 anos com uma aptidão extraordinária para a engenharia.
Filho de um pastor luterano, ele nasceu e cresceu na ilha de Sande, onde os alemães construíram uma base secreta. Seu irmão, Arne, dez anos mais velho do que ele, é piloto da Força Aérea dinamarquesa, que está impedida de voar pelos alemães. Harald vive o presente revoltado com a capitulação sem resistência de seu país, e com a simpatia pelos nazistas demonstrada por parte da elite governante do país. Contribuem para esse sentimento o desaparecimento de uma tia sua que vivia em Hamburgo e era casada com um médico judeu. Harald odeia os antissemitas. Um de seus melhores amigos na escola é judeu, filho de um banqueiro poderoso na Dinamarca. Harald vai acabar conhecendo a irmã desse colega, Karen, por quem vai desenvolver uma paixão platônica.
A segunda candidata a heroína é Hermia Mount, a chefe da divisão do MI6 dedicada à Dinamarca. Filha de um diplomata britânico, Hermia cresceu no país nórdico e é fluente em dinamarquês. Ela vivia em Copenhagen antes de ser evacuada com todos os diplomatas britânicos, logo após a invasão alemã. É noiva de Arne Olufsen, o irmão de Harald, e foi dela a ideia de organizar uma rede de espionagem em território dinamarquês, chamada Vigilantes da Noite. Assim que os ingleses desconfiam da existência de um novo radar em solo dinamarquês, ela é chamada a colocar sua rede em operação para tentar descobrir a localização do equipamento.
O vilão - Também, como é comum nos livros de Follett, o vilão nos é apresentado desde os primeiros capítulos. Desta vez, a surpresa é o fato de ele não ser um oficial alemão, como seria de se esperar, mas sim um jovem policial dinamarquês.
Peter Flemming é originário da mesma ilha de Sande. Estudou com Arne Olufsen e são da mesma idade. As duas famílias têm uma rivalidade antiga, desde que o pastor Olufsen atacabou publicamente Axel, pai de Peter e dono do hotel da ilha, por sonegar impostos.
Revoltado com a estrutura da sociedade dinamarquesa, Flemming se sente inferiorizado frente às elites intelectuais de seu país. Recentemente, um acidente de carro provocado por um jovem rico e embrigado deixou a mulher dele, Inge, catatônica. A princípio, Peter se recusa a deixá-la, mas passa a viver dividido entre a obrigação de se manter fiel a Inge e o desejo por sua parceira na polícia, Tilde Jespersen.
Com tantas frustrações reprimidas e ressentido, ele enxerga na ordem nazista um caminho para a reordenação do mundo. Passa, então, a usurpar seu poder como policial para agradar aos invasores nazistas.
A vilânia dele vai se consolidar apenas no capítulo 16, numa aula de Follet sobre como suar a simbologia e o subtexto para marcar, sem dizer diretamente, a transformação sem volta de uma personagem. O famoso show, don't tell dos cânones de escrita criativa.
Recomendação de leitura
Escrito em 2002, O Voo da Vespa se baseia livremente numa história real de dois irmãos que, para fugir da Dinamarca ocupada, em 1941, cruzaram o Mar do Norte a bordo de um bimotor feito de madeira e tecido. Era uma viagem extremamente arriscada. Follett, porém, criou uma história original a partir dessa inspiração.
É possível notar a maturidade do autor neste livro, em comparação com sua obra anterior, especialmente no tocante às cenas quentes de sexo, sobre as quais comentamos na resenha de Noite sobre as Águas. Sem os excessos desnecessários dessas cenas tórridas, a história flui rápida e a tensão se mantém ao longo de toda a história. Acho uma leitura imperdível para apaixonados pelo tema da espionagem na época da Segunda Guerra Mundial.
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