@gataleitora 12/08/2019deveria ser lido e discutido por todosMais um livro para cumprir minha resolução de fim de ano de não ler somente romance em 2019 e que grata e intrigante surpresa. Confesso que peguei ele graças a frase de capa.
“ Se apenas uma pessoa fosse de opinião contrária, a humanidade não poderia silenciar sua voz.”
Concordo plenamente e fiquei curiosa para saber qual era o pensamento do escritor sobre o Liberalismo Social. Sou bem leiga em filosofia ainda mais filosofia política mas John Mill me conquistou de cara com sua dedicatória amorosa para a esposa em uma época em que a mulher ainda lutava para ter voz e vez já que o livro foi publicado pela primeira vez em 1859.
“ Dedico este livro à amada e pranteada memória daquela que foi a inspiradora e, em parte, a autora de tudo o que há de melhor em meus escritos, a amiga e esposa cujo elevado senso de verdade e justiça era o meu mais forte estímulo e cuja aprovação era a minha principal recompensa.”
Não teve como meu coração romântico não suspirar, mesmo sabendo que não foi este o intuito dele.
Este é daquele tipo de livro para ler devagar, ruminando cada pensamento e comparação pois o texto é bem denso. Como já disse a data de publicação você já pode imaginar o quão formal é a linguagem usada em comparação com os escritos mais contemporâneos. Mas não é complicada e com os exemplos que ele usa se torna fácil entender sua visão. Ele explica bem o processo do pensamento por trás de suas opiniões.
John Stuart Mill sugere que devemos tolerar opiniões diferentes das nossas e da nossa sociedade, porque isso permite que juntos encontremos a verdade. Existem, é claro, limites, para nossas próprias opiniões quando elas esbarram e prejudicam o outro. É incrível sua visão da condição humana em relação aos processos de pensamento, como o ego pode convencer a mente de que é a única opinião aceitável e como o dito senso comum pode pré julgar os outros.
Mesmo tendo sido impresso há mais de cento e cinquenta anos, o autor teve uma incrível clareza em explicar como o corpo político encorajava pontos de vista opostos naquela época e em outras anteriores. Mill mostra exemplos diversos e bastante interessantes em uma perspectiva bastante moderna. Eu definitivamente acho que qualquer um que pense em censura ou que os limites da liberdade de expressão deveriam ser controlados, deveria considerar ler este livro e de preferência discuti- lo com outras pessoas. Sua discussão é muito atual, pois estamos cada vez mais mergulhados no que eu chamo de Ditatura das Palavras e no que ele chamou de Tirania da Maioria.
Este assunto exige muita reflexão, porque é muito difícil pensar de novas maneiras, enxergar novos olhares e o mais difícil para muitos que é perceber que não podemos julgar o passado com a cabeça do presente. Os argumentos de Mill para tolerância de opiniões (não prejudiciais a outros) são difíceis de refutar (na minha leiga opinião). Ele considera os argumentos contra suas posições e acho que os responde razoavelmente bem durante este ensaio.
O ponto de vista básico de Milll é simples: as pessoas devem ser deixadas livres para pensar e fazer o que quiserem, a menos que o que estejam fazendo cause danos reais aos outros. O ensaio de Mill dá razões para este princípio de liberdade de pensamento e expõe o que ele significa na prática.
Fiquei fascinada principalmente pelos exemplos usados de Sócrates, Jesus Cristo e do imperador Marco Aurélio. Levei esta discussão até meu marido e uma colega de trabalho que sempre são entusiastas de que cada um deve ter liberdade para opinar sem agredir a opinião do outro e achei bem pertinentes as colocações do autor. Por ser ateu creio que seu pensamento em alguns momentos carece de uma vivência melhor e mais profunda sobre o Cristianismo. Sei que àquela época a Igreja tinha outro comportamento e que não tínhamos conquistado as vitórias e liberdades para os leigos que vieram depois do Concílio Vaticano II, então entendi perfeitamente onde ele quis chegar ao apresentar suas ideias sobre esta religião.
“ E o mundo, para cada indivíduo, significa a parte com a qual ele entra em contato; seu partido, sua seita, sua igreja, sua classe social; em comparação, quase pode se chamar de liberal e de espírito aberto o homem para quem o mundo significa algo tão abrangente quanto seu país ou sua época.”
John Stuart Mill foi um dos escritores mais importantes a discutir sobre o tema da liberdade intelectual e pessoal. Este pequeno volume é uma ótima introdução às suas visões básicas sobre política e sociedade. Neste livro, ele expõe a base para uma visão libertária da sociedade. Útopica, na minha opinião, mas que deveria ao menos ser almejada por todos assim já estaríamos a um passo a frente da busca da verdadeira liberdade social.
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