Queria Estar Lendo 18/11/2016
Resenha: Amante Liberto
Amante Liberto é o quinto livro da Irmandade da Adaga Negra e, depois de acompanharmos as histórias de Wrath, Rhage, Zsadist e Butch, é chegada a vez de encarar Vishous, o mais misterioso dos Irmãos.
Criado em um acampamento de guerreiros, em meio a dor e a violência, Vishous cresceu sem qualquer controle da sua vida. Já adulto ele se prende a dominação sexual (BDSM) como uma forma de garantir que jamais irá se encontrar na posição anterior. Ele é sistemático, organizado e não confia em ninguém que não sejam seus Irmãos ou suas shellans. E ele definitivamente não dá a mínima para a Virgem Escriba, a deusa criadora de sua raça.
Mas quando ele se depara com algumas verdades que jamais julgou possíveis sobre o seu passado, Vishous se encontra em uma encruzilhada nada apelativa. Com os poucos guerreiros da Irmandade e a guerra contra os redutores se intensificando, o mundo dos vampiros precisa de novos lutadores de sangue puro e, por isso, o Outro Lado precisa, mais uma vez, de um primale -- um guerreiro de sangue puro que deve engravidar as fêmeas de sangue puro a fim de dar continuidade a linhagem dos guerreiros.
"No fim, a tragédia não descriminava. Todos estavam sujeitos aos mesmos caprichos do destino."
A ideia de ser controlado, novamente, por alguém que despreza e os sentimentos embrulhados que tem por Butch levam V. ao descuido e isso acaba por coloca-lo em uma situação complicada, quando é atingido no coração por uma bala ao caçar redutores.
"Ninguém o atendeu, e enquanto sofria chamava a sua mãe mentalmente, a que lhe tinha dado a luz. Imaginava sua chegada até ele radiante e com amor, acariciando seu cabelo e lhe dizendo que tudo estava bem. Em sua patética visão, chamou-lhe seu amado lewlhen.
Presente.
Teria gostado de ter sido o presente de alguém. Os presentes eram apreciados, cuidados e protegidos."
Tratado como um humano normal e levado a emergência do hospital mais próximo, V intriga a médica Jane Whitcomb, responsável pelo seu caso. E, depois de ter uma visão com ela, V insiste em não deixá-la para trás ao ser resgatado por seus irmãos.
Amante Liberto começa de um jeito torto como todos os livros da Irmandade, porém, agora, a mocinha tem um propósito para seguir as regras: embora esteja com medo, Jane também está curiosa. Como médica, ela sente que é seu dever acompanhar seu paciente pela recuperação, mas como cientista ela está completamente pasma com a capacidade de cura do corpo daquele homem e as horas que passam juntos são momentos assustadores e excitantes.
Jane é definitivamente uma das minhas protagonistas preferidas da Irmandade. Primeiro porque ela não se encaixa no papel de vítima e segundo porque ela tem seus próprios motivos para estar ali. Ela não está indefesa, procurando salvação ou qualquer coisa do tipo. Mesmo suas decisões próximas ao fim do livro buscam unir o útil (o que V quer) ao agradável (o que ela quer).
"Estar arruinado é um pouco como estar apaixonado: nas duas situações, você fica desprovido de qualquer recurso, deixado despido, em sua essência."
A história é bastante angustiante, com a constante lembrança de que eles precisam se separar, por ela ser humana e ele não. O passado de Vishous, vindo a tona aos poucos, revelando como ele conseguiu suas tatuagens e a extensão de seus poderes, parte o coração.
V. sempre foi essa figura imponente que parecia ter visto de tudo, que não se surpreenderia com nada, não temia nada. Até o momento em que Jane entra na vida dele e bagunça tudo. O relacionamento é tão disfuncional que você nem sabe para quem está torcendo no fim.
Os dois combinam de uma forma que chega a ser assustadora, com seus pensamentos lógicos e análises clínicas das situações. Com a frieza e a falta de sentimentos que demonstram ao lidar com as coisas. Confesso que, por boa parte do livro, você não consegue dizer que Jane e Vishous se amam -- o que faz sentido, levando em consideração que eles se conheciam há apenas algumas horas e ele basicamente sequestrou ela.
"Pare. Não se sinta segura com ele. A síndrome de estocolmo não é sua amiga."
Os sentimentos estão ali, mas na superfície eles não deixam transparecer como os demais casais da série. Exceto naquele momento, próximo ao fim. Aquele momento em que seu coração se parte e o V. grita e por um segundo o mundo de Caldwell para de fazer sentido e todos os sentimentos e emoções estão borbulhando na pele. Esse é o momento em que eles se tornam um casal de verdade, para mim.
"Eu amo você. E vou continuar te amando mesmo depois de você esquecer que eu existo."
Vishous e Jane não são o melhor casal da série (até porque XHEX E JM!), mas definitivamente são alguns dos melhores personagens. A história, no entanto, tem algumas passagens meio creepy que me pareceram desnecessárias. Não foram românticas e não entendo de verdade quem acha essas partes lindas -- é uma mistura de romantização de perseguição e gaslighting, não é legal.
Mas passada (e devidamente ignorada) essas partes OOC, os dois se soltam mais conforme o fim se aproxima e proporcionam uma leitura um pouco diferente do que estamos acostumados na série. É uma boa amostra de como a Ward pode trabalhar personagens mais psicologicamente complexos e algo que eu sempre esperei que ela pudesse aprofundar mais.
O livro também continua com o sarcasmo e humor bem típico da JR Ward que é, essencialmente, umas das melhores coisas desses livros. Como se trata do livro do V., temos ainda bastante da amizade dele com o Butch, o que proporciona diálogos engraçados (e um ou dois fofos). A irmandade ainda é bem presente e a sensação de grande família é para sempre o ponto forte da série.
"Só por você."
"Não, por todos nós."
Além do romance, o livro também explora um pouco o "após" da relação Vishous/Butch, agora que Butch está com Marissa. Os sentimentos de V. ainda são confusos e ele encontra compreensão na Marissa e bastante apoio em Butch, o que acaba sendo algo bem legal. Por tudo que V. faz pelos Irmãos e por tudo que ele sabe sobre o futuro de todos eles -- especialmente como ele sabe como todo mundo vai morrer, mas não sabe o suficiente para impedir isso -- dá para entender que ele carrega um peso grande e é bem bacana ver o relacionamento deles avançando.
Especialmente com a Marissa. Não vou mentir, shippei casalzinho de 3 sim. O que os três são é muito mais do que qualquer outra amizade dentro daquela casa, seja o laço de sangue que o Z. e o Phury possuem, ou a amizade forte que une Blay, Qhuinn e JM. Nenhuma supera Marissa, Butch e V.
"Ótimo. Um vampiro bissexual Dominante com experiência em sequestro."
No que se propõe, é um bom livro, mas que deve ser lido com essas ressalvas: nem tudo que está ali é romantico e só funciona porque estamos falando de um universo sobrenatural. Aliás, ressalva essa que vale para a série toda!