spoiler visualizarOPHTHORN 19/04/2024
Christelle deu aulas nesse
Eu não ia fazer resenha desse livro, mas tive uns flashbacks de quando eu lia esse livro, e eu acho que esse livro combina muito com a situação atual.
Começando que a Ophélie é apresentada ao espírito familiar do Polo, e dá e não dá muito bom, porque ela cativa o Farouk, mas ela acaba se envolvendo em maus lençóis com o Thorn, porque ele quer garantir a segurança dela, e porque a querida é uma estrangeira, e o pessoal do Polo odeia estrangeiros, e é aí que entra o rolê.
Christelle jogou escancarado a situação que muitos imigrantes passam na Europa: sofrem violência, xenofobia, preconceito, além de que os canais de comunicação contribuem pra tudo isso, que é o caso da Ophélie.
Ela é uma estrangeira que vai morar no Polo, na corte como é esperado, cheio de gente diferente dela, com poderes diferentes, com títulos importantes, com contatos. Ela destoa completamente dos cortesãos, ela sabe disso, eles sabem disso, e eles não gostam dela. Não gostam porque ela vai casar com um homem que eles odeiam, mas que tem muito poder, porque ela cativou o Farouk, porque ela tem um poder diferente, que eles vêem como perigoso, já que se ela ler algo deles ela vai descobrir algum segredo, mas odeiam ela principalmente porque ela é estrangeira.
Tem uma cena onde a Ophélie lê a gazeta do dia e em um dos trechos fala mal dos estrangeiros e que eles são como baratas, que entram na casa dos outros e habitam por lá.
Essa comparação me remeteu muito a propagandas n*zist4 que comparavam os judeus com ratos: entram na casa dos outros e destroem tudo.
E não só ela é odiada como a Madre Hildegarde também. Ela é uma arquiteta importante e sabe que o pessoal não gosta dela e ela faz questão de provocar todo mundo porque ela é responsável por boa parte da arquitetura da corte. Ela é responsável por ligações diplomáticas entre Polo e Arca-da-Terra. Ela não precisa deles, mas eles precisam dela, muito semelhante ao que os imigrantes passam, por exemplo, em Portugal.
A taxa de natalidade em Portugal não anda lá essas coisas, o que aumentou a imigração. Quem faz a movimentação daquele país são os imigrantes, entre eles angolanos, brasileiros, cabo-verdianos (quem nasce em Cabo Verde), além de imigrantes do leste europeu, que sofrem também, mesmo sendo europeus.
Odeiam os imigrantes, mas precisam deles.
E já aproveito o gancho pra falar das políticas de Anima.
As Decanas são o poder supremo de Anima, representando o Espírito Familiar, e tem um trecho em que o tio avô conversa com a Ophélie sobre umas traduções que ele fez quando jovem sobre as guerras do velho mundo. Ele faz essas traduções, e todo orgulhoso vai mostrar ela pras Decanas, que detestam e tratam ele como se fosse um doido obcecado com as guerras do velho mundo.
As traduções dele são apreendidas e transportadas em uma balsa pra um outro lugar, que nunca chega nesse lugar porque a balsa afunda misteriosamente, fazendo com que as traduções dele, são só ela como outros livros do velho mundo e escritos, se perdessem pra sempre.
Já teve vários momentos da Humanidade em que livros, artigos, escritos, cadernos, etc. simplesmente sumiram, sem mais nem menos. E o maior exemplo disso foi a queima de livros que aconteceram durante o Terceiro Reich. Depois desse sumiço das traduções, as Decanas mudam várias coisas em Anima, incluindo proibição de livros que pudessem "contaminar" a juventude animista.
É uma cena que me pega muito, porque é nesse momento que a Ophélie se dá conta que literalmente se livraram dela. Ela trabalhava em um museu, que tinha muito do velho mundo.
Ela percebe que botaram ela pra casar com uma pessoa de outra Arca não pra fazer alianças diplomáticas, além disso, mas porque ela tinha interesse demais no velho mundo, e as Decanas queriam se livrar dela o mais rápido possível, e como ela não tava aceitando os outros casamentos, deram um jeito dela casar com alguém de outro Arca.
Já falei da politicagem, agora vou falar do casal do livro, que por sinal são meus pais, mudaram toda a química do meu cérebro.
Começamos que Thorn tá desesperado pra Ophélie perdoar ele. Admito que achei maduro da parte dele reconhecer que errou e que quer reparar o erro, e ele tenta, tenta muito.
Ophélie, tendo bom senso, dá um gelo nele, ou pelo menos tenta, já que as circunstâncias não permitem. Ela agora é uma vice-contista e vive indo em festas e chás da tarde, então ela não tem tempo de falar com ele (é isso o que ela diz pra si mesmo e prós outros), mas eu tenho certeza que o Thorn deu um jeito de saber onde ela ia, só pra saber se ela tava segura e pra conseguir conversar com ela em um desses eventos, e ele consegue.
No fim das contas a raiva da Ophélie diminui, apesar dela não expressar verbalmente que perdoa ele pela falta de caráter (escrever isso por falta de uma palavra melhor).
O Thorn corre de um lado tentando proteger a Ophélie, fazer com que ela perdoe ele, ao mesmo tempo em que corre pra revolver problemas do Polo, que tá perto de sofrer uma crise alimentícia e organizando os Estados Familiares, porque ele presta apoio a determinadas famílias que podem ajudar nesse problema alimentício. E ainda tinha a família da Ophélie, que tava vindo pro casamento.
Muito problema pra um homem só, mas enfim.
É perceptível a evolução do casal, especialmente por parte da Ophélie que começa a ver o Thorn com outros olhos: não como um homem ganancioso e egoísta, mas um homem que tá tentando sobreviver e não morrer em um ambiente hostil, e isso fica explícito quando ele move mundos e fundos pra proteger a Ophélie, por mais que ela se jogue na cara do perigo (não sei como o Thorn não infartou ao longo da série).