O estranho oeste de Kane Blackmoon

O estranho oeste de Kane Blackmoon Duda Falcão




Resenhas -


7 encontrados | exibindo 1 a 7


bruno.rauber 16/08/2023

Que leitura absolutamente deliciosa que é O Estranho Oeste De Kane Blackmoon. Já tendo lido as três coletâneas anteriores do Duda Falcão, não chega a ser nenhuma surpresa quão ágil a narrativa dos contos do Kane Blackmoon são (cada uma contendo um conto com a personagem), mas além de breves alterações nos que já haviam sido publicados para que se encaixassem mais no romance, ficou mais perceptível a existência do Kane enquanto personagem. As motivações, a evolução, a visão dele se alterando pouco a pouco com as informações novas sobre a existência de um mundo sobrenatural que ele nunca havia visto, tudo aqui é ainda melhor. Além disso, por ter um formato mais episódico que um romance geralmente tem, com cada capítulo sendo um conto, a narrativa ganha ainda mais fluidez, dando ao protagonista mais situações, mais ambientes e mais coadjuvantes com quem interagir.
Enfim, um livro deliciosamente pulp, como já é esperado do Duda.
E mais uma vez dizendo o óbvio, a edição da Avec Editora segue seu padrão de alto nível, demonstrando o carinho e o cuidado de quem ama cada obra que lança.
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Luana 08/01/2022

Quero mais!
O Estranho Oeste de Kane Blackmoon é um daqueles livros que eu não conseguia largar e mesmo durante os momentos que não estava lendo, eu pensava "meu Deus, o que será que vai acontecer com Kane no próximo capítulo???"
Curti muito a estrutura de cada conjunto de capítulos abordar uma aventura diferente, parece muito com uma série de tv.
Achei muito criativo o autor desenvolver a história num contexto de expansão para o Oeste, faroeste, povos nativos americanos e etc, já que são temas pouco explorados por escritores brasileiros.
Eu adorei cada minuto lendo esse livro e torço muito para que um dia novas aventuras sejam lançadas!
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Orlando 08/06/2020

Resenha | O Estranho Oeste de Kane Blackmoon, de Duda Falcão
Kane Blackmoon é um homem dividido entre mundos, um homem que vive nas fronteiras entre oposições: filho de um guerreiro índio com uma filha de fazendeiros, Blackmoon está em constante conflito entre essas duas culturas, procura pertencer a ambas e harmonizar seu espírito dos dois lados, mas não consegue; em outro extremo, o mestiço de brancos e índios é um poderoso sensitivo capaz de perceber as nuances entre o mundo físico e o mundo espiritual, bem como capaz de transitar entre eles.

Dividido entre suas muitas percepções conflitantes, Kane Blackmoon é um daqueles belos personagens atormentados, melancólicos, solitário e que precisa constantemente partir em busca de seu lugar, pois lugar algum é realmente seu. Essa melancolia e as dualidades que pairam sobre o protagonista do ótimo O Estranho Oeste de Kane Blackmoon dão toda a tônica da narrativa do livro escrito por Duda Falcão.

O Estranho Oeste de Kane Blackmoon | Fronteiras
Como caçador de recompensas, Kane Blackmoon perambula pelas cidades do oeste americano procurando por criminosos foragidos da justiça numa época em que a lei e a ordem não tinham como ser levadas a cabo em todo o território americano.

Nesse sentido temos um livro cuja tônica é o melhor estilo “faroeste atire primeiro, pergunte depois e tente sair vivo”: muitos tiroteios, cavalgadas, chapéus empoeirados, perseguições a cavalo, gangues de pistoleiros cruéis e todo o kit básico do bom Western.

Mas essa é a superfície primeira de O Estranho Oeste de Kane Blackmoon, o que o leitor vai encontrar mesmo aqui é uma grande aventura sobrenatural que tem como pano de fundo o oeste selvagem americano e seus conflitos.

Os conflitos de Kane Blackmoon vão muito além da boa pontaria e da efetividade de seus disparos; as situações mais difíceis que nosso protagonista precisa superar transitam pelo terreno obscuro dos espíritos ancestrais, dos demônios antigos que caminham por nosso mundo se alimentando de almas perdidas ou capturadas, pecados obscuras ou simplesmente da carne humana.

Apesar de ter latente em sua percepção a sensibilidade que o chama para o mundo sobrenatural oculto por trás das cortinas do que popularmente convencionamos chamar de realidade, Kane Blackmoon resistiu por anos às convocações que, sutil ou claramente, lhe assediaram, mas quando o velho xamã Sunset Bison cruzou seu caminho pela primeira vez, tudo na história do solitário Kane Blackmoon se transformou rapidamente.

Dono de grandes conhecimentos e de uma larga história de vida, é Sunset Bison quem quebra as primeiras barreiras de Blackmoon para perceber o mundo de forma mais ampla.

As vivências de Sunset Bison como xamã sioux apresentam para o mestiço caçador de recompensas as primeiras ferramentas e rituais necessárias à compreensão dos mistérios que rodam a tragédia que Kane Blackmoon testemunhou num dos pequenos vilarejos por onde passou em busca de criminosos procurados.

A violência deixada para trás não era fruto de mãos humanos, não era produto de mero roubo ou violência pura e simples, ali havia uma força maior e muito mais maligna que qualquer ser humano, a sede liberada ali era de morte, dor, sofrimento e destruição.

Kane precisava caçar algo muito além de sua compreensão e só o conhecimento ancestral de Sunset Bison seria capaz lançar alguma luz aos mistérios por trás dessa matança.

E assim se inicia o batismo espiritual de Kane Blackmoon, assim começam as aventuras por um oeste que tem muito mais do que poeira, cactos espinhentos, vilarejos esparsos, caçadores de recompensas, foragidos da lei, xerifes e índios em guerra com os colonos.

Finalmente, sobre os auspícios dos ensinamentos do velho xamã, Kane Blackmoon finalmente se irmanou com seu animal totem, um belo corvo, negro como a noite, que pairava sempre pelas proximidades de Kane e do qual, muitas vezes, o próprio mestiço poderia assumir a forma quando necessário.

Desse modo que Duda Falcão nos enreda para dentro de um oeste sombrio e aterrorizante com criaturas de tons lovecraftianos ao mesmo tempo que flertam com as percepções espirituais dos índios americanos em uma época em que eles já tinham seus números bem reduzidos devido aos conflitos da expansão para o oeste.

Na trajetória de Kane Blackmoon outros aliados lhe ensinam os caminhos, nuances e as técnicas para ampliar seus poderes e sua percepção como feiticeiro, pois muitos são os perigos em seu caminho e, quando esses perigos não veem até Kane, ele vai atrás deles.

Em seu caminho há amigos e inimigos, humanos ou não, como no caso do condenado à forca Franklin cuja inocência ou culpa são a chave para um misterioso ritual, as gêmeas sensitivas da tribo dos navajo Natah e Shila que tem seus dons entrelaçados na audição da cega e na visão da surda, Klah, o poderoso e sábio xamã dos navajo, o jovem aprendiz de feitiçaria Altsoba — cujo totem era um coite — e que cobiçou os poderes de Kane para si, um antigo demônio de formas tentaculares e cor negra que transcende a presença humana na terra…

Peregrinando de canto em canto, algumas vezes Kane conseguiu se sentir em um lar, entre amigos e a ponto de construir uma família e cultivar terra para si, mas seu destino é marcado pelas constantes perdas e conflitos cuja única solução reside nos confrontos mortais.

Mas não sem antes Duda Falcão nos dar conflitos de ordem moral e reflexiva, pois muitas das vezes Blackmoon questiona a si mesmo, seus métodos e suas escolhas, mesmo que para fazer o bem seja necessário recorrer a um mal muito pior que qualquer erro humano.

Kane Blackmoon é interessante justamente por conta desses muitos embates que o cercam, tornando-o um personagem falho, em constante busca por uma paz interior quase sempre perturbada pelos mistérios da entranhas do oeste americano.

Multifacetado, o protagonista de O Estranho Oeste de Kane Blackmoon lembra muito personagens como, por exemplo, o mago inglês John Constantine, cujas habilidades e conhecimentos são capazes de salvar muitas vidas, mas que nem sempre age por bondade ou altruísmo, mas sim por um dever ou obrigação maior de impedir que um mal terrível assole o mundo dos homens comuns.

Dividido em vários capítulos curtos que tem uma estrutura levemente parecida com pequenos contos aparentemente isolados, O Estranho Oeste de Kane Blackmoon está estruturado para ser uma leitura ágil e imersiva, cujas pequenas partes vão costurando uma grande colcha coesa, cheia de detalhes, nuances e características únicas.

Duda Falcão tem grande habilidade nos textos curtos e isso é claro em seus livros de contos como Treze e Comboio de Espectros — ambos pela AVEC Editora — e na narrativa mais longa o autor também não faz feio e nos entrega um livro que tem muitas características de seus contos, mas que se desenvolve num ritmo mais cadenciado para construir a contento seu protagonista e seu universo, nos dando uma boa aplicação de vários dos princípios da “jornada do herói“.

Fechado em si mesmo O Estranho Oeste de Kane Blackmoon também abre portas para um mundo maior e mais misterioso que, ao menos durante minha leitura, me fez lembra da ótima série televisiva Penny Dreadful que em suas três temporadas apresentou vários elementos ligados ao oeste americano e suas lendas, muitas das quais temos aqui nesse livro.

Outra obra também me ocorreu à mente quase de imediato durante a leitura de O Estranho Oeste de Kane Blackmoon: A Torre Negra de Stephen King; apesar de ser uma saga muito extensa e mais complexa em sua execução, muitos dos elementos desta magnífica obra do mestre King me vieram ao pensamento em várias partes da leitura da aventura de Kane Blackmoon, sobretudo as personalidades frias e melancólicas de Blackmoon e Roland Deschain, ambos também exímios pistoleiros em buscas obstinadas e capazes de superar qualquer limite para atingir seus objetivos.

Para os fãs de suspense, sobrenatural, terror e faroeste, O Estranho Oeste de Kane Blackmoon é uma boa pedida de leitura com um ótimo protagonista, conceitos criativos, releitura de boas ideias já consagradas aliadas a ideias novas e boas doses de ação e conflitos de ordem subjetiva. Vale cada bala de prata, sobretudo para os fãs de faroeste que vão encontrar aqui tudo que gostam e além.

O Estranho Oeste de Kane Blackmoon | Sinopse e Ficha Técnica
Um caçador de recompensas viaja pelo oeste americano em busca de aventuras. Em suas andanças, descobre que o deserto, as cidades dos desbravadores e as tribos indígenas estão repletos de mistérios, de acontecimentos estranhos e de entidades sobrenaturais.
Na sua jornada, faz novas amizades e adquire conhecimentos místicos para lutar contra criaturas do mal.

o ISBN: 978-85-5447-037-1
o FORMATO: 14×21 cm/ 184 páginas
o Papel: Pólen Bold 90g
o CATEGORIA: Ficção/ Velho oeste/ Sobrenatural
o PÚBLICO / IDADE: Adulto
o Autor: Duda Falcão
o Editor: Artur Vecchi
o Diagramação: Vitor Coelho
o Ilustrações: Ed Andersson



site: https://www.pontozero.net.br/2019/12/30/resenha-o-estranho-oeste-de-kane-blackmoon/
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Mila Morelli 10/10/2019

"Mas como bem sabemos, eu e você, o Oeste não foi feito para alegrias. Elas duram pouco, às vezes apenas algumas frações de segundo."

Eu não lembro a última vez em que li um livro com estilo faroeste, ambientado no velho oeste, onde um caçador de recompensas, filho de indígena e brancos acabaria sendo o grande protagonista de um livro rápido de se ler, que prende a atenção com facilidade e tem uma boa dose de fantasia em suas páginas.

O Estranho Oeste de Kane Blackmoon foi mais um livro da nossa parceria com a Editora Avec e foi uma experiência nova e totalmente prazerosa. Duda Falcão tem alguns títulos com a editora e já fizemos resenha de uma de suas obras AQUI . E notei que alguns dos contos desse livro estão espalhados em outras obras do autor. O que me deixa empolgada ao ler e ter um contexto maior sobre tudo.

"- Estou seguro de que lá, em seu íntimo, você percebe que as pessoas olham de maneira estranha para você. É inevitável, pois todos aqueles que são diferentes sofrem a ação daqueles que se consideram normais."

Com capítulos curtos e divididos em algumas partes, temos uma apresentação de quem Kane é e como ganha sua vida perseguindo pessoas que por algum motivo estão sendo procuradas e, assim, recebendo valores como recompensa. Notamos logo aí que Kane vive aquela vida entre não ser aceito pelos indígenas e não ser aceito totalmente pelos brancos, tendo que viver a vida da melhor forma que sabe, com uma personalidade confiante e habilidosa.
E é notável quando o desenvolvimento dele começa a acontecer em ambas as "partes" que possui em si. Temos o lado indígena que vem por meio de sonhos, uma parte de si que acorda para o mundo "sobrenatural" depois de conhecer pessoas variadas por onde passa. E o lado da justiça onde, apesar de ainda pensar em achar uma forma de conseguir dinheiro, Kane ainda preza em fazer o que é certo e tenta muito não prejudicar inocentes.

"Aprenda isto: não é a cor da pele que importa, mas a atitude de cada pessoa, isso sim é o que vale. O homem é construído pelos seus atos."

Acho que o bom do personagem é que ele se encaixa bem no enredo de faroeste que imaginei. Kane é o típico personagem que tem princípios, corre atrás do que quer montando em seu cavalo e não é em nada sentimental. Seja ao perder pessoas, seja com pequenos momentos que poderiam se tornar uma romance. Nada no livro desvia do fato de que Kane vive uma aventura depois da outra, nos fazendo virar as páginas com facilidade extrema. E a maioria dos acontecimentos que o personagem vive, surgiu depois que o mesmo entrou mais em contato com seu lado espiritual.

Quando o livro terminou, senti aquele gostinho de querer mais.
E já deixo claro que se acha que não se sente confortável com um livro do gênero, vamos usar esse momento para dar aquela saída da zona de conforto porque valeu à pena. Como disse, uma leitura rápida, escrita que te mantém atento com a dose certa de detalhes e um personagem que vamos aprendendo a gostar e torcer por ele.

Mais um lançamento da Avec que foi muito bem selecionado e se tornou uma novidade boa na minha prateleira. Estou desejando por mais =D

"Ele entendia que qualquer ser humano, independentemente da cor da pele, podia ser cruel, mentiroso e vil. Para a humanidade não havia exceção - homens, mulheres, crianças e velhos -, carregavam dentro de si uma semente do mal a ser combatida a cada dia para que não germinasse. De alguma maneira, a semente já tinha brotado em seu coração, mas às vezes ele tentava podá-la."

Resenha no blog Sob Encomenda

site: http://sobencomendaa.blogspot.com/2019/08/o-estranho-oeste-de-kane-blackmoon-duda.html
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Pablo 12/09/2019

Faroeste fantasmagórico e com boas surpresas!
O Estranho Oeste de Kane Blackmoon, de Duda Falcão (@covildoescritor), bebe na fonte da literatura pulp - onde nasceram personagens como Conan, Doc Savage, o Sombra e muitos outros - e presenteia os leitores com as agitadas aventuras de um caçador de recompensas mestiço que lida rotineiramente com ameaças humanas e sobrenaturais num Estados Unidos ocupado em sua expansão para o Oeste. Kane Blackmoon é filho de um índio com uma mulher branca e por isso mesmo sempre passou dificuldades tanto para se adaptar ao mundo civilizado quanto para aceitar sua herança indígena. O livro apresenta oito aventuras, entrelaçadas por uma narrativa mais ampla que mostra a evolução do personagem ao longo do tempo, com um final que fecha algumas pontas soltas e deixa as portas abertas para um possível segundo volume. Particularmente, fiquei curioso para saber mais sobre o destino do pai de Kane Blackmoon e das encrencas em que o mestiço deve ter se metido em suas viagens para cantos mais civilizados dos EUA do século XIX. Leitura recomendada para quem curte um faroeste sobrenatural!
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Paulo 06/09/2019

Kane Blackmoon é um dos vários personagens criados por Duda Falcão em seus contos. Para quem não conhece o autor, ele é muito conhecido por seus contos de terror, mas com uma pegada mais pulp, mais lovecraftiana. Já escreveu várias coletâneas dentre as quais já comentamos aqui sobre Treze e Comboio de Espectros. Quando vi que haveria um livro do Kane Blackmoon até me espantei imaginando que seria o primeiro romance longo do autor. Mas, não se trata exatamente disso e não fiquei nem um pouco desapontado.

Este é um romance fix-up: ele é formado por diversas pequenas histórias que compartilham elementos de ambientação e de narrativa em comum. Pode ser que exista ou não um arco maior de histórias por trás (aqui existe). Dentro dessas narrativas, o Duda vai construindo a personalidade e os laços que o protagonista realiza ao longo do tempo. A gente parte de um momento em que ele age como um simples caçador de recompensas até ele começar a mexer com o sobrenatural. O autor não estabelece exatamente períodos de tempo entre suas aventuras, apesar de a gente conseguir pegar alguns detalhes sobre fatos que duraram alguns dias, semanas ou meses. Ao final da narrativa o personagem não é o mesmo que iniciou a história: experiente, um pouco lacônico e não desejando fazer laços, se mantendo como um cavaleiro errante.

No primeiro conto, Duda nos apresenta o personagem. Ele é um caçador de recompensas que teve um acontecimento trágico em sua infância. Enquanto ele caçava um bandido, ele acaba conhecendo Sunset Bison por conta de uma cena horripilante que ele encontra no esconderijo de alguns criminosos. O sioux acaba contando a Kane um pouco de sua ancestralidade, já que ele conheceu o pai do protagonista. Mas, durante uma emboscada, Bison morre e deixa uma marca indelével no personagem. A partir de então, parece que Kane atrai situações ou pessoas completamente estranhas como um demônio ancestral, uma doença macabra e até um wendigo. Ao mesmo tempo, Kane trabalha sua personalidade, tentando ser um homem mais do mundo. Por ser um caçador de recompensas, ele buscava estar sozinho, sem precisar se preocupar com outros. Mas, aos poucos, ele vai entendendo a necessidade de se criar raízes.

A percepção de que o mundo é maior e mais complexo do que imaginamos é um mote de todo o livro. Pouco a pouco Kane vai se dando conta de que precisa abrir mais a sua mente para o estranho. Em um determinado momento da narrativa, Kane precisará apelar para o místico para solucionar um problema. E ele vai se abrir para poder absorver esse conhecimento, mesmo entendendo que ele não gosta de usar esse recurso. O personagem também é um homem relutante em suas ações. Sua aparência fechada e pouco propensa a amizades esconde um lado honesto e valente. Ele sabe reconhecer a injustiça quando ele a vê, e sabe também reconhecer o valor das pessoas, mesmo quando elas não enxergam.

Há uma clara influência no gênero do western americano. Mas, esqueçam os filmes do Sergio Leone. Não é esse western que vai gerar as histórias do Duda. É o estranho, o pulp, lá da década de 1930 e 1940 quando os bons romances de gênero eram lançados em revistas como a Weird Tales, que foi o lar de autores como H.P. Lovecraft. Se eu posso traçar algum comparativo contemporâneo ao que o Duda produz, eu relacionaria a uma série de fumettis chamado O Mágico Vento. A mescla entre o faroeste e aquele elemento de magia que pode levar ao estranho ou ao demoníaco. E isso fica claro até mesmo na forma como o autor conduz a narrativa. Parece que eu estou ouvindo o narrador descrevendo aquele cenário árido e cruel.

A ambientação é muito boa e o autor consegue impor os limites de uma maneira progressiva na história. O que parece estranho no começo vai se tornando o normal lá pelo final. As narrativas são contadas em terceira pessoa e eu até cheguei a me recordar de dois contos do Kane que eu vi em outras coletâneas. Mas, o autor inseriu pequenos elementos de continuidade aqui e ali que fizeram os contos conversarem uns com os outros. Isso ajudou a ampliar a mitologia do personagem e a dar uma coerência para a história dele. Ou seja, tudo agora parece mais amarradinho. O bacana é que as possibilidades para o personagem são inesgotáveis e mesmo que aqui se passe um bom período de tempo na vida dele, é possível seja colocar elementos mais para a frente ou entre as histórias. Para mim, O Estranho Oeste de Kane Blackmoon é uma viagem completa ao faroeste com tudo o que precisamos. Recomendo a todos os fãs de boas histórias.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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Gárgula 23/07/2019

O Estranho Oeste de Kane Blackmoon
Meu primeiro contato com Kane Blackmoon se deu através do conto “Sob os auspícios do corvo”, no livro Treze, de Duda Falcão, lançamento da Avec Editora. Lembro muito bem de terminar o conto e pensar: “este personagem merecia um livro só dele!”. Bom, Duda Falcão fez isso e nos presenteou com O Estranho Oeste de Kane Blackmoon.

O conto que li (“Sob os auspícios do corvo”) está na narrativa de O Estranho Oeste de Kane Blackmoon, assim como muitos contos que narram o início da trajetória do personagem – e vão além. Duda Falcão consegue nos transportar para um Oeste repleto de eventos sobrenaturais, tiroteios e cultura indígena americana. Sem dúvida uma mescla que deu muito certo junto com seu texto bastante fluido e de fácil leitura. Minha dica para ampliar essa experiência durante a leitura é colocar boas músicas do Velho Oeste, que algumas playlists do Spotify nos trazem, e… Boa leitura!. Recomendo ler ao som de clássicos musicais do Velho Oeste como os de Ennio Morricone.

Kane Blackmoon: o protagonista é um mestiço com uma história que ele mesmo pouco conhece. Filho de um índio com uma mulher branca acaba vivendo como um pária tanto entre os homens brancos como entre os índios. Isso o faz construir seu próprio caminho pelo inóspito Velho Oeste americano não aceitando se curvar a preconceitos raciais.

Sua personalidade forte acaba sendo moldada com o desenvolver da história que mostra o amadurecimento do homem através de suas inúmeras aventuras bizarras.

Não há finais felizes na vida de Kane. Existe apenas um eterno sobreviver e aprender com tudo o que acontece em seu caminho. Sua atitude inicial egoísta aos poucos vai sendo transformada na alma de um homem resoluto que se vê obrigado a entender seu papel naquele estranho mundo.

Nada na história é pesado, todos os elementos estão equilibrados. O mundano e o espiritual que convivem ao largo da percepção dos homens brancos. Porém, quando esses mundos se chocam, são esses homens brancos as presas que sofrem absurdamente e são aterrorizados pelas verdades desconhecidas – talvez pela sua incompreensão das forças espirituais que regem o mundo ou mesmo seu estilo de vida “moderno”. O que sabemos é que são os homens brancos os infortunados. Cabe a Kane e aos índios, que aparecem em muitos dos contos, o protagonismos de salvar a situação e isso é o grande barato neste livro.

Ao final somos obrigados a nos perguntar quantas histórias mais leremos sobre Kane Blackmoon, nosso herói mestiço, exímio conhecedor de dois mundos tão distintos, honrado em suas decisões e sempre só.

Um livro a ser degustado ao sabor de um bom copo de whisky ouvindo uma boa música.

Esta resenha foi publicada no site Canto do Gárgula em 23/07/2019

site: https://cantodogargula.com.br/2019/07/23/o-estranho-oeste-de-kane-blackmoon/
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