Loveless: Terra Sem Lei - Volume 1

Loveless: Terra Sem Lei - Volume 1 Brian Azzarello




Resenhas - Loveless


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Flávio 20/08/2013

[Resenha] Loveless – Terra Sem Lei - Vortex Cultural
Meu conhecimento em histórias de western em Quadrinhos sempre se limitou a personagens que com certeza, cada um de nós já se deparou na vida, ainda que seja apenas pelas capas de seus quadrinhos. Um bom exemplo disso são os personagens Tex e Zagor. HQs que já estão consolidadas no mercado há muito tempo, porém, nunca tinha me deparado com nenhum material americano do gênero, pois apesar do Western ser tipicamente norte-americano, um dos países que mais exporta esse tipo de mídia é a Itália, causa essa que que com certeza foi motivada pelos western spaghetti , que tanto fez parte do cinema italiano. Após essa breve explicação, vamos ao que interessa. Tive conhecimento do lançamento de Loveless e sem pensar duas vezes comprei a maldita revista.

Loveless foi escrita por Brian Azzarelo, autor já renomado pelo seu trabalho em Batman: Cidade Castigada, a sensacional série 100 Balas, seu trabalho em Hellblazer, entre tantos outros. Seu parceiro e responsável pela arte é Marcelo Frusin que faz um trabalho impecável, diversos quadros remetem a cenas de grandes western’s eternizados por Sergio Leone, um grande diretor italiano que ficou conhecido mundialmente pelos clássicos Era uma Vez no Oeste e a trilogia dos Dólares, estrelada por Clint Eastwood.

Publicada em 2005 nos EUA através do selo Vertigo, a série durou 24 edições e chega ao Brasil em 2010, publicada pela Panini. Apesar de não ter sido bem recebida lá fora, Loveless tem potencial de sobra. A dupla de artistas estão muito a vontade e já em seu primeiro arco, mostra à que veio.

Azzarelo molda sua história logo após o término da Guerra Civil americana e retrata todo o cenário social da época, inclusive ao mostrar a eterna rixa entre os sulistas (confederados) e nortistas (União). É interessante entender os motivos pelo qual a tão falada Guerra da Recessão foi travada, e Azzarelo se mostra competente em colocar os controversos pontos de vista de ambos os lados.

A história tem como protagonista Wes Cutter, um ex-soldado dos Estados Confederados que após o fim da guerra retorna a sua terra natal, mas se depara com suas terras tomadas pela União. Cutter passa a agir como julga o correto, tentando tirar o melhor para si, tudo isso ao lado de sua mulher Ruth, que até então todos acham que está desaparecida e Cutter usa isso como um trunfo.

O arco inicial nos apresentam os principais personagens, um pouco de seus passados através de flashbacks e um pouco da história dos EUA e as diferenças culturais de cada lado. As motivações dos protagonistas estão sendo trabalhadas e vamos conhecendo suas histórias gradativamente.

Uma HQ recomendadíssima para quem ainda não conhece o trabalho de Azzarelo ou mesmo nunca se sentiu atraído por ler nada do gênero. Essa é a sua chance.

site: http://www.vortexcultural.com.br/quadrinhos-e-hqs/resenha-loveless-terra-sem-lei/
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Mano 20/08/2010

De volta pra casa
A mais mortal das guerras, em pleno solo norte-americano. Seiscentos e vinte mil soldados mortos, mais casualidades civis. União contra Confederação. O fim da escravidão, a integridade do território dos EUA e a reconstrução do país. Isso foi a Guerra Civil Americana. E isso, como tudo na vida de Wes Cutter, é parte do passado. Entretanto, em Blackwater, o passado tem cicatrizes mais abertas do que no presente.

Daria pra dizer que Loveless, então, é sobre isso; rancor e vingança. Sobre a tragédia de Cutter e sua mulher, Ruth. Mas isso seria deixar todo o processo e história da Guerra Civil de lado. Assim como seria esquecer do “cão raivoso” Atticus Mann - que crescerá muito, na trama. Seria esquecer sobre o ódio, a violência, o racismo, do sexo, da morte... Em Loveless, fatalmente, esses elementos estão totalmente conectados. Assumidamente uma trama western spaghetti, eis uma HQ que supera, em muito, a sua proposta. Passando-se dois anos após o fim da guerra, a história que Brian Azzarello nos apresenta carrega tudo isso já citado, acima. Porém, na realidade, está bem além disso; mesmo com o próprio Azzarello dizendo que é uma “história sobre amor, e sexo”, está mais sobre “o mal que reside nas pessoas”. Tanto que, inclusive, na primeira edição americana, há a chamada: “Por trás de todo homem mau, há uma mulher muito má!”. Mesmo amor e sexo são eclipsados por essa coisa de “a situação faz o vilão”, e ninguém é inocente, em Blackwater e em Loveless.

Eis uma versão resumida deste primeiro arco: após lutar - e perder - ao lado da Confederação, Wes Cutter decide retornar ao seu lar, às suas terras. Nisso, o passado, mais uma vez, retorna e precisa ser resolvido de alguma forma: seja com os habitantes da cidade, que o odeiam, seja com as forças armadas da União, seja com Ruth. Nesse meio tempo, Cutter enreda a todos com suas mentiras, tramóias e assassinatos específicos. Tudo buscando benefício próprio e, claro, vingança. Vingança o move, tanto desperto quanto em pesadelos. E é tudo sobre aprendizado, como o personagem coloca, na última página.

Talvez, lendo apenas este texto, até agora, você não tenha entendido o que é, de fato, Loveless. Se é algo como Por Um Punhado de Dólares, se é um thriller como 100 Balas, do mesmo autor, ou se é uma história de violência - ao estilo do seriado Deadwood. Mas, como já disse, é tudo isso. Só lendo, mesmo, para compreender o que está acontecendo. São muito e muitos elementos, elencados com extrema eficiência por Brian Azzarello - autor que, creio eu, dispensa apresentações. Pessoalmente, para produzir esse review, li muita coisa sobre a série e, também, sobre os EUA e a Guerra Civil. Porém, ao final da pesquisa, me dei conta que mesmo que falando por páginas e páginas de aspectos históricos, sociais e culturais, não explicaria nada. O mais simples para dizer é concordar com a sinopse da Panini, na última capa: Wes e Ruth procuram por paz. Paz que todo um país não conheceu, antes e depois da guerra.

Publicado originalmente em 2006, a série foi cancelada na vigésima quarta edição. Não encontrei explicações, considerando o trabalho sem par de Azzarello e Marcelo Frusin. Artisticamente, a série surpreende; Frusin, com um traço simples, mas muito elaborado, possui um dinamismo e diagramação que poucos artistas, atualmente, possuem. Da página 57 a 61, por exemplo, quase se vê os movimentos durante o morticínio realizado por um dos personagens. Não é um tiroteio posado, como se tem em algumas publicações - onde, em geral, o personagem “mais importante” fica em pé, parado no meio de seus algozes, alvejando todos sem ser atingido - e, sim, uma escaramuça de subterfúgio, técnica e velocidade. Frusin, também, trabalha muito bem com a compleição facial dos personagens, retratando muito bem a malícia ou maldade por trás de cada gesto ou intenção. Sem falar no toque sombrio, onde entre chapéus e sombras bem aplicadas, raramente se vê rostos inteiros, lembrando muito o trabalho de Mike Mignola.

Outro ponto alto são as capas. Do mesmo desenhista, possuem uma composição e colorização diferenciadas. Para facilitar, menciono apenas a principal, onde ocorreu uma mescla notória de elementos. Cutter, o pistoleiro em primeiro plano, parece mirar para fora da ilustração, ameaçando o leitor, inclusive. Novamente, nos três personagens ao fundo, o dinamismo e sinergia da cena dão a perfeita idéia de um tiroteio; mesmo sem muita imaginação, você visualiza facilmente os sujeitos sendo baleados, um tiro após o outro, a reação deles e, enfim, quando caem para a morte. É cinematográfico. Falando em cinema, a silhueta feminina, agregando e “fagocitando” os elementos anteriores, insere um clima noir ao contexto, e cede uma noção perfeita da importância das mulheres na trama - e do sexo, sem dúvida.

Falando em mulheres, como não amar Ruth? Embora eu não tenha encontrado afirmações nesse sentido, tenho certeza que Azzarello a criou para acabar com aquela idéia de personagem feminina submissa, histérica e dependente de um homem, como o gênero western - e muitas outras mídias e HQs - mostra com freqüência. E as diferenças são bem evidentes; enquanto seu marido apela pra intriga e lábia - percebam que ele só pega em armas, neste arco, quando inevitável, logo no início -, Ruth é o braço armado, eliminando quem se mostra um empecilho, seja numas de franco-atiradora, seja em combate aberto. Em um anacronismo exagerado, é uma amazona de verdade. Com um Winchester - ou algo assim - nas mãos. E, diferente de Sarah Connor ou Ellen Ripley, não fica masculinizada ou assexuada; sua feminilidade é importante para a trama e para ela própria, mesmo apelando pro velho clichê de disfarçar-se de rapaz.

Por fim, ficou uma produção muito boa. A Panini está de parabéns, até pela questão da adaptação, tratamento e, sobretudo, pela iniciativa. O editor Fabiano Denardin afirmou, no blog brasileiro do selo Vertigo que, provavelmente, a série será publica em quatro volumes, no Brasil. Que venham logo. Só fica a dúvida, agora, se Azzarello conseguiu dar uma conclusão à série - sua intenção inicial, afinal, era prolongar a história até 1940, segundo alguns sites - e, assim, o que leva a DC Comics a uma decisão editorial equivocada dessas. Sinceramente, não entendo, mas espero possuir toda a série em minha coleção, em local de honra.

Loveless, enfim, poderia ser sobre Wes Cutter e Ruth. Poderia ser sobre Atticus Mann ou Boyd Johnson, dois lados diferentes da mesma moeda de ódio e violência. Poderia ser sobre qualquer um dos aspectos já citados. Mas, na verdade, é sobre liberdade e, sobretudo, oportunidades. Oportunidades que, no oeste norte-americano posterior à Guerra Civil, criam assassinos, monstros e todo o tipo de escória. E amor, também, claro.

Melhor Frase: “As pessoas são merda. É verdade o que nós lemos sobre Deus ter criado Adão, ter soprado vida no barro, mas, antes disso, Ele já tinha criado as bestas do campo. E de uma coisa você pode ter certeza. Elas fazem merda. Merda de cachorro, merda de vaca, merde de cavalo, merda de porco... Merda de galinha... Não importa. Era merda. Apenas merda. E Ele modelou o homem a partir dela. Então vá e lute, se é o que deseja. Mantenha a cabeça baixa e esteja sempre alerta.”
Jonny Cutter, ensinando ao seu irmão mais novo, Wes, a verdadeira natureza das pessoas.
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