Carous 28/08/2021Livrinho bem meia boca, hein?Isso é que dá não ler a sinopse! Quando solicitei este livro no Skoob Plus, achei que a temática central aparecia nas páginas da mesma forma que em Para sempre Alice : o protagonismo no doente.
Como não poderia pensar isso? Todos os livros da autora (Nunca mais, Rachel/A outra metade de Sarah e A família O'brien) são assim.
Ao invés disso, ganhei uma história focada em duas personagens que eu não dava a mínima. Uma, Beth, mãe de três meninas, que descobre a traição do marido. Isso revira sua organizada inesperadamente.
A outra, Olivia, que recentemente se mudou para a cidadezinha de Nantucket após o fim do seu casamento e a morte de seu único filho, Anthony, autista.
Normalmente não me incomodo ler histórias envolvendo famílias, crises no casamento e relações pessoais. Mas não foi por isso que peguei este livro.
Então é isto: apesar do título jogar todo o holofote em Anthony, ele é o filho morto de uma das protagonistas. É muita gente que ele tem que brigar para ganhar espaço no livro.
Talvez se tivesse pesquisado melhor sobre o que se tratava, não tivesse me desapontado. Provavelmente optaria por não ler o livro e procuraria uma história que trouxesse o protagonismo como queria: em um personagem autista.
Não quero ler histórias de ficção sobre autismo por um fetiche sórdido. Ou por mera preguiça de procurar artigos médicos sobre o assunto.
Mas é que estou cansada da narrativa sobre pessoas neuroatípicas ser sempre infantilizada nos livros, contada como uma bela história de superação. Tirando a humanidade da pessoa neuroatípica.
E o autismo, na ficção, é sempre abordado envolvendo crianças autistas e os pais lidando com o diagnóstico. Sempre.
Pessoalmente, conheço mais adultos dentro do espectro autista que crianças. Com grau diferente, mas que fogem do quadro severo da doença que sempre encontro nos livros, nas séries, nos filmes, nas novelas... E que conseguem viver na sociedade neurotípica - dentro de seus limites - e estudar, se relacionar, ter filhos, uma carreira, amigos.
Meu ponto é: gostaria de ver o autismo mais diversificado na ficção. E gostaria que fosse contado sobre o ponto de vista da pessoa com autismo, não dos pais, da esposa/marido, irmão. De uma completa estranha que incorpora o espírito de um garoto com autismo e escreve um livro sobre isso (?) como acontece com Beth...
Admito que antes de iniciar a leitura - e ler a sinopse -, uma das minhas preocupações era de como Lisa Genova escreveria Com amor, Anthony. Ela tem conhecido teórico por ser médica, mas não ""lugar de fala"". Queria um relato humano e não clínico.
E mesmo que não fosse por tudo isso, a história em si é bem boba. Beth é uma poia, Olivia é completamente apagada. A história demorou umas 60 páginas para me cativar de verdade. Mas mesmo assim, a decepção de que não era a história de Anthony contada por Anthony permeou até a última página.
A perspectiva de uma pessoa neurotípica sobre o assunto eu já tenho - eu mesma -.
Tô esperando Lisa Genova me agradecer de joelhos por ter dado 3 estrelas e não uma nota menor. Fui muito boazinha e isso tem que ser reconhecido.
Para quem já escreveu Para sempre Alice, este livro ficou muito abaixo do que Lisa Genova é capaz de entregar.