Lyta @lytaverso 20/08/2023
Grande vazio
O que dizer deste livro...?
Ele me pegou em cheio, de surpresa, um soco no estômago que eu não esperava. Me identifiquei em algumas partes, senti raiva em outras mas acima de tudo acho que compreendi o que se queria ser passado.
Peixe grande tem o subtítulo "Uma Fábula do Amor Entre Pai e Filho" e acho que não poderia ser mais correto, de muitas maneiras. Vou tentar explicar por partes. Porém, fica o alerta, não consigo expressar minhas opiniões sobre ele sem dar spoilers. Esse livro é escrito de forma tão doce, leve, lírica e fantasiosa que de fato é uma fábula, tudo nele é metafórico e vamos construindo o motivo disso ao longo da história, porém de maneira bem sutil e particular, o que acredito ser a proposta. Tudo o que o pai conta e o filho replica de sua história é mágico e surreal, o que me leva a pensar no motivo disso. Na minha opinião Edward tinha uma gana enorme por se encontrar e não tinha medo de se aventurar mas infelizmente o vazio dentro de si ele nunca conseguiu preencher pois não era um processo externo e sim interno. Ele buscou construir família, ter dinheiro, ser dono de algo, um novo amor, ser bom e agradável com todo mundo em busca de ser aceito e reconhecido por quem era mas, afinal, quem ele era? Por trás de toda a fantasia será que ele sabia quem era de verdade? Eu acredito que não e por isso não conseguia se estabelecer em lugar algum ou permitir que alguém entrasse em suas muralhas emocionais pois assim todos teriam que encarar o vazio que existia dentro de si. Nem mesmo seu próprio filho, sangue de seu sangue, ele permitiu. O que é triste demais pois ele foi um diferencial na vida de muitas pessoas mas não na dele próprio.
Por isso acho que o termo "fábula do amor entre pai e filho" é perfeita pois se você não permite ser vulnerável há alguém, não permite que essa pessoa veja também seus lados frágeis, como é possível haver amor ali? Esse amor nunca existiu. O pai buscava, de certa forma, se ver refletido no filho e o filho sentia a carência da ausência do pai que era tão divertido e encantador com todos mas não com ele por nunca querer estar em casa. E mesmo assim, conseguimos captar, à sua maneira, o carinho de um pelo outro. O pai, mesmo que ausente, buscou proporcionar uma vida confortável pro filho, buscou em suas histórias inspirar o melhor nele e o filho tentou dar esse reconhecimento que o pai sentia tanta necessidade e compreender que ele era o que era, falho e perdido.
Edward fatalmente é bastante egoísta, apesar de fazer o bem também, mas acho bastante complicado definir, preto no branco, que ele era má pessoa. Acho que ele, mesmo tendo conseguido sair da cidade fantasma, levou ela consigo e se prendeu lá por toda a vida.
O que mais me intriga nesse livro são as mulheres de Edward, gostaria de saber mais delas para entender o motivo de se submeterem a situações que alguém tão desorientado incumbiu à elas, adoraria um livro pelo ponto de vista das duas.
Bom, acredito que esse livro vai ter uma interpretação diferente para cada um e também tem relação íntima a como é a sua visão da paternidade e das questões internas de cada um. Mas com certeza vale a leitura!