Haroldo 18/04/2015
Pedagogia da Autonomia - Uma abordagem sobre a ética docente
O escritor Paulo Freire é mundialmente conhecido através dos seus trabalhos destinados a educação, trazendo novas perspectivas para uma pedagogia pautada na liberdade. O livro Pedagogia da Autonomia foi a sua ultima obra publicada em vida, tornando-se leitura obrigatória para todos aqueles que acreditam na educação como principal instrumento de transformação social e autopercepção da práxis pedagógica.
Utilizando uma linguagem bastante clara o autor divide a obra em três capítulos. O primeiro é destinado a “prática docente”, onde o educando é visto como um sujeito histórico capaz de intervir no ambiente do qual ele está inserido. É importante dar atenção na relação aluno e professor, já que o docente deve respeitar os “saberes socialmente construídos” dos seus alunos, e ao seu lado, ambos como pesquisadores, estimulá-los metodologicamente a reconhecer o seu papel na sociedade e assim conduzi-los na construção de valores mais humanitários. Nesse primeiro capítulo Paulo Freire faz considerações sobre a formação docente numa perspectiva intitulada por ele mesmo como “progressista”, onde o mesmo define que (...) “o saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou sua construção” (FREIRE 2011. p.47).
A partir do segundo capítulo podemos ver com mais clareza, talvez a ideia central do livro, uma abordagem sobre a importância da ética na prática docente. O capitulo intitulado como “Ensinar não é transferir conhecimento”, traz reflexões sobre o inacabamento, condicionamento e consciência do sujeito. O ser inacabado do qual Paulo Freire se refere, trata-se dos nossos constantes processos de transformação, ou seja, onde há vida, há inconclusão. Diferente das outras espécies, para nós humanos boa parte desses processos ocorre de forma consciente, sendo assim, somos capazes de criar complexos e profundos mecanismos que deram origem a cultura, linguagem, comunicação, etc. A ética surge então como algo inerente ao sujeito, que teve a sua origem resultante da nossa presença no mundo e das relações humanas, logo, valores éticos devem servir primeiramente a humanidade, e não a uma lógica de mercado que beneficia uma minoria. Com o neoliberalismo houve uma inversão nos valores éticos, cujo livre mercado tornou-se mais importante que a liberdade da consciência, criando desigualdades sociais de tamanha proporção que acabamos banalizando a miséria alheia e as agressões sofridas cotidianamente pelas classes menos favorecidas.
No terceiro e ultimo capítulo, Paulo Freire retoma algumas ideias relacionadas à prática pedagógica, assumindo uma postura progressista. O autor deixa claro algumas competências fundamentais que devem ser adotadas pelo docente para que a arte de ensinar ocorra de forma efetiva. Torna-se necessário que estejam presentes na formação do professor a humildade, segurança, pesquisa, generosidade, e também autoridade e posicionamento político. É de fundamental importância que o professor fuja da neutralidade, ou seja, adote uma postura politizada com o propósito de evitar fatalismos. Apesar do estímulo a liberdade, não é deixada de lado à disciplina, já que através do exemplo dado pelo professor, consequentemente conquistará o respeito dos seus alunos e assim a eticidade será trabalhada reciprocamente.
Pode-se constatar na leitura da “Pedagogia da Autonomia” que existe uma forte intenção de romper com as estruturas vigentes na educação, onde se utiliza de um modelo “bancário” pautado quase que exclusivamente para uma formação mecanicista direcionada para o mercado de trabalho. O que vemos constantemente nas palavras de Paulo Freire é o desejo de que o professor possa agir reciprocamente com o educando, estimulando-o a ter uma visão crítica da realidade e que o mesmo possa se enxergar como um sujeito histórico e não determinado; político e não passivo; condicionado, mas consciente do seu inacabamento; livre, mas responsável; sendo que todos esses valores convergem na esperança de criar uma sociedade mais ética, onde pessoas sejam mais importantes que o mercado.