Clube do Farol 08/08/2022
Resenha por Elis Finco @efinco
Olá, pessoa!! Tudo bem? O livro de hoje é de uma das autoras favoritas da minha mãe, e sempre houve cobrança da parte dela para eu ler também, então chegou a hora, mas ao invés de começar pelos romances, comecei por uma fantasia.
A história envolve uma mitologia conhecida, que é o universo que envolve anjos e demônios, porém a autora recria a mitologia dando novos contornos à história.
A escolha de uma cidade medieval ajuda a criar o clima de um lugar tão antigo quanto a história da própria sociedade e deixa ainda mais crível ser um lugar onde tudo pode acontecer. Além disso, muito me agradou que alguns pontos, que poderiam ter caído no clichê, foram por outros caminhos, deixando um clima muito gostoso de surpresa.
Esse é o primeiro de três histórias. Preciso avisar que elas não são sequenciais, cada uma se passará em um momento temporal, logo não tem uma interdependência, apenas fazem parte de um mesmo universo. O que interliga as histórias é a mitologia de fundo que será a mesma para as três.
Logo no começo da história somos apresentados a Triana. Vivendo no ar medieval de Toledo, antiga capital da Espanha, sempre teve sua imaginação aflorada pela arquitetura, história e paisagens locais. Ela ama ler, fotografar e não faz questão alguma de ser igual a todo mundo. Mas ainda não havia sido tocada pelo amor até conhecer Martín. E daqui é o começo para os eventos fantásticos que cada vez mais confundem Triana, afinal aquele garoto lindo, que nunca falou com ela, de repente a nota; ela embarca para encontrar sua melhor amiga e não chega ao destino.
À medida que somos apresentados aos personagens — Iker, Mia, Belinda, Lúcifer, Samael, Aser, Bertha, os pais de Trina —, temos seus segredos pouco a pouco revelados e, com isso, vamos tentando descobrir quem são os “bons e os maus”, mas logo temos certeza de que a linha que divide a conduta de todos eles não é tão às claras assim. Eu gostei da caracterização dada aos personagens, apesar de achar que em alguns momentos poderia ser mais trabalhada, não no quesito descrição, mas na forma com que foram feitas. A sensação é que se perde um pouco na velocidade da cena e dos acontecimentos.
A narrativa em terceira pessoa, alterando os pontos de vista, é comum para quem lê fantasia, mas pode ser um pouco confusa para quem é mais dado a ler outros gêneros, por isso achei muito atencioso ter algumas páginas explicativas na edição. Sem perder nada por estar preso ao fluxo de consciência de um personagem, temos uma visão mais ampla dos acontecimentos, mas não a ponto de não sermos surpreendidos. O texto tem uma fluidez muito gostosa de ler e, mesmo quando algum ponto pede uma segunda leitura, não fica cansativa.
Outro ponto é que a entrega dos pontos chaves, dos mistérios e até mesmo do romance na história acontece de modo a deixar quem lê preso a história. Adorei ter errado as teorias mais óbvias que fiz e a trama ter ido para um caminho tão diferente e surpreendente, entregando assim desfechos esperados de formas inesperadas. Eu amei o trabalho de pesquisa sobre a cidade onde se passa a história, achei interessante o uso de planos diferentes para os mesmos locais na Terra para desenvolver os outros locais onde a história acontece. Porém, gostaria de me sentir um pouco fora do terreno, afinal estamos lidando com seres extraterrenos como: anjos, demônios e decaídos.
Por ser uma fantasia urbana juvenil, eu gostei que os sentimentos próprios das idades dos personagens terem sido explorados tanto como fraqueza quanto virtude. E que os seres imortais eram de fatos seres que não viam com a mesma forma que os humanos a passagem do tempo. Gostei também que os eventos da profecia tenham um escalonamento de tempo adequado aos personagens fantásticos. As cenas de intimidade são boas e tem sentido na trama.
Sobre a edição: Preciso dizer que comparei as edições do e-book e do livro físico e esse é um daqueles livros que a experiência lendo o físico é completamente diferente da leitura do e-book. Por que a edição do livro faz a experiência de leitura ser completamente diferente da edição digital, mesmo ambas tendo o mesmo conteúdo. Além de uma diagramação belíssima, que visa destacar pontos chaves da história, dando também beleza a leitura. A revisão está impecável, as notas de rodapé oferecem explicações valiosas para leitura.
E, em ambas as edições, as citações são maravilhosas e remetem as canções da playlist do livro, como as do Within Temptation, de obras e autores famosos como Carlos Ruiz Zafón e Miguel de Cervantes — autor livro Dom Quixote de La Mancha que, além de favorito da personagem, tem uma ligação forte com o local em que ocorre a história. A forma como a mitologia do Ying e Yang foi usada, além do livro apócrifo de Enoque, ganham um destaque especial nessa belíssima história/edição.
Então, já viram que sou só elogios. Espero que confiram e depois me contem como foi a experiência de leitura para vocês. Boa leitura.
site: http://www.clubedofarol.com/2021/02/resenha-o-epinicio-de-sangue.html