Salambô

Salambô Gustave Flaubert




Resenhas - Salambô


10 encontrados | exibindo 1 a 10


Claire Scorzi 06/04/2009

A Cartago de Flaubert
Por volta de 1857, Gustave Flaubert começou a planejar o romance Cartago. Viajou até a África, visitando as ruínas da cidade, leu em torno de 100 volumes para embeber-se no tema - obras de História, Arte Militar, Patologia, Religião e outras. Em suas cartas, registrou o sofrimento que era dedicar-se à realização desse livro. "Que tema miserável! Eu passo alternadamente da ênfase mais extravagante à convenção mais acadêmica" escreveu ele ao escritor Ernest Feydeau em fins de 1857. Em 29-30 de novembro de 1859, ao mesmo amigo escrevia: "É preciso ser absolutamente louco para empreender livros semelhantes! A cada linha, a cada palavra, supero dificuldades de que ninguém terá idéia, e está certo talvez que delas não se faça idéia. Pois se meu sistema é falso, a obra estará fracassada."
Salambô, como acabou por intitular-se o romance histórico sobre Cartago, é uma obra impressionante: páginas e páginas de descrições de ambientes, vestimentas, objetos, costumes, páginas descrevendo batalhas com vividez e crueza. O efeito da leitura é monumental, o que é curioso porque o livro em si é pequeno (168 páginas em letra miúda, margens apertadas, enfim, uma edição econômica; a edição mais volumosa que encontrei possui 216 páginas). Contudo, enquanto vamos lendo, Cartago ressurge - ainda que seja decerto a Cartago de Flaubert, não se trata de um feito desprezível - aos nossos olhos, majestosa, poderosa, soberba, despótica: sua riqueza entra-nos pelos olhos, apela a nossos outros sentidos (o tato: como se tocássemos seus tecidos finíssimos; o paladar: como se provássemos suas iguarias). Desde o primeiro capítulo, com o banquete dos mercenários durante o qual fica subentendido que não receberão seu soldo após a guerra, a leitura nos prende. À medida que o romance avança, acompanhamos a revolta dos mercenários, o encontro entre o soldado Matô e a filha de Amílcar, Salambô, o roubo da túnica do deus fenício Tanit, as batalhas entre os mercenários e os cartagineses, o cerco de Cartago, a fome e a sede, a captura e o destino horrendo dos prisioneiros de ambos os lados, tudo isso perpassado da mesma monumentalidade, da mesma impressão do grandioso.
Flaubert era um grande escritor. A crítica considera Madame Bovary sua obra-prima. Pessoalmente, é no Flaubert experimental e satírico de Bouvard Pécuchet, no Flaubert escritor dedicado ao sacerdócio da Literatura nas Cartas, e agora nesse Flaubert meticuloso, fascinante e recriador de um mundo desaparecido em Salambô que encontro o gênio tantas vezes incensado; no escritor dessas últimas obras, encontro um escritor de minha predileção.
Vale ainda observar: quantos, dentre os nossos pretensos teóricos e críticos literários, terão lido Salambô? Relembro os comentários de Boris Schnaiderman, impressionado com a brutalidade dos relatos de fome e loucura em Narrativa de Kolyma de Chalamov. É verdade: Chalamov descreve fatos, não ficção. Ainda assim, é difícil não crer nas descrições que Flaubert faz do cerco e dos esforços dos mercenários para tomar Cartago - a brutalidade dos combates, a chegada da fome que leva ao canibalismo, o desespero que leva à superstição: o sacrifício de crianças ao deus Moloque. Crueza. Horror. Recriação de um tempo e de uma cultura. Numa obra-prima de 1862.
Mauricio 26/07/2013minha estante
Olá Claire Scorzi. Gostei muito da sua resenha, bastante objetiva e bem redigida. Especial mesmo.Eu li uma tradução em português lusitano que foi um sacrifício: só dá para entender com um dicionário do lado. Minha única observação é para Tanit, que não é um deus, mas uma deusa. Uma espécie de deusa mãe para a civilização púnica dos tempos de Amilcar, Aníbal e outros membros daquele clã. Valeu.




EduardoCDias 07/10/2021

Melhora com o passar das páginas.
Um clássico romance histórico ambientado na primeira guerra púnica, com descrições sangrentas e realistas das batalhas que às vezes se esticam demais e querem ser detalhadas demais. A paixão de Mathos por Salammbô tem um final surpreendente.
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Emerson Dylan 03/06/2022

Lindeza absoluta
Com Flaubert, é uma consulta ao Aurélio a cada linha. Mas só Flaubert consegue fazer desse turbilhão de termos grandiloquentes muito mais que uma mera descrição rigorosamente detalhada para demonstrar os resultados de sua pesquisa histórica. Vencidas as primeiras amarras, a obra se apresenta como realmente é: fluida e perturbadoramente linda. Em meio à narrativa principal, sobram maestrias literárias, como a descrição de um jantar com "línguas de flamingo com sementes de papoula em conserva de mel"; ou identificação da origem dos mercenários por suas tatuagens nas mãos: "os velhos soldados de Antíoco tinham um gavião; os que haviam servido no Egito, a cabeça de um cinocéfalo; entre os príncipes da Ásia, uma acha de armas, uma romã ou um martelo; nas repúblicas gregas, o perfil de uma cidadela ou o nome de um arconte; e havia alguns que tinham os braços inteiramente cobertos por esses vários símbolos, misturados a cicatrizes e ferimentos novos."
Terminada a leitura, é impossível não se ter enamorado de Salammbô. E só então se compreende a frase de Flaubert (a mesma que, por si só, te levara até o livro): "Ninguém imagina como é preciso estar triste para reconstruir Cartago".
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Silvio 15/06/2016

O pior livro que já li, é horrível. Li mesmo de pura teimosia, de pirraça, para não perder o dinheiro da compra - ainda bem que não foi muito caro - R$9,00.
É muito confuso, não dá para entender quem está em guerra contra quem e nem o porquê da guerra; um exército, repentinamente, muda de lado sem explicação. Um exército derrotado, de repente, se torna extremamente poderoso.
Salambô, personagem que dá nome ao livro, é uma personagem para lá de secundária; se ela for retirada, não fará diferença alguma.
Flaubert, ao escrever esse livro, devia estar bêbado.
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Beatriz 04/06/2022

Cara eu não lembro de absolutamente nada desse livro sem ser o véu de tanit e os elefantes que surgem do nada e aquele final confuso a beça . Tudo que aconteceu aqui parece ter sido um sonho febril .
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Teresa.Cristina 13/08/2023

Salambô
A história se passa em Cartago, capital da antiga civilização cartaginesa. Cartago foi uma cidade da costa da África do Norte, numa península próxima da qual se encontra hoje a cidade de Túnis. Cartago era o centro comercial mais importante do mediterrâneo antigo. Roma foi sua grande rival, durante as longas guerras conhecidas pelo nome de guerras púnicas (264?146 a.C.).

A história do livro se passa durante as guerras punicas. "Governada por comerciantes, sem um exército poderoso, Cartago valia-se de mercenários que se insurgiram contra os cartagineses". A leitura é um pouco densa. Demorei pra terminar o livro. Iniciei a leitura pensando se tratar de um romance, mas me enganei totalmente. Encontrei sangue e violência. Muita violência rsrs adorei o livro.
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Alberto 26/12/2021

Tsunami de imagens com o estilo personalíssimo de Flaubert arrasta o leitor numa viagem ao passado.
A narrativa de parte da guerra entre Roma e Cartago ocorrida há 2.200 anos serve de pretexto para Flaubert abrir as comportas da sua imaginação caudalosa e inundar a imaginação do leitor com um tsunami de imagens. É um livro exuberante, meio barroco, que descreve cenários exóticos e luxuriantes, guerreiros e sacerdotes e princesas com adereços espetaculares, envolvidos em batalhas, marchas, retiradas, cercos, sacrifícios, ritos bárbaros, covardias e heroísmos, traições e reviravoltas de último minuto. Dito assim, nem parece Flaubert. Mas, como disse, tudo isso é pretexto para exibir o estilo do autor, e este é como sempre puro refinamento. As descrições sequestram a imaginação, é fácil esquecer que se está lendo e se deixar levar. O escritor é invisível e a técnica transparente, o leitor só enxerga as imagens e estas são tão bizarras, extravagantes e inesperadas que é quase como assistir a um filme. Só que isso depende de um bom vocabulário, de modo que a leitura pode parecer arrastada para leitores pouco experientes. Não indicado para quem espera um romance romântico convencional ou para quem tem vocabulário pequeno. Indicado para quem gosta de histórias realistas sobre guerra na antiguidade (essa parte foi bem pesquisada pelo autor). A edição da Carambaia é esplêndida.
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Wellington 18/07/2022

Salammbô – 9,0
Cartago, 200 e poucos antes de Cristo; cidade-Estado rival de Roma, costa da atual Tunísia. Um banquete é dado aos mercenários outrora contratados pela República; festança vira balbúrdia, alegria se transforma em caos. O afterparty é de ruínas. Mâthos, soldado líbio, vê a filha do general; apaixona-se perdidamente. A sacerdotisa, passando uma vida a serviço dos deuses, nunca se esquece dele.

Tempo passa, Cartago se recusa a pagar os mercenários. Há revolta, a guerra recomeça... Mâthos, disposto a presentear Salammbô com o melhor presente da Terra, rouba a zainfe de Tanit – um véu estrelado como a noite, símbolo da deusa – e, sem querer, se torna o líder dos mercenários. O conflito se acentua; cenas de guerra, morte, violência, se tornam comuns, tudo em meio a disputas políticas cartaginesas, a sombra de Roma na outra margem, a fé politeísta.

Livro surpreendente, fruto de pesquisa infinita; Flaubert fez trabalho de arqueólogo para escrevê-lo. Mal se reconhece o autor da entediante Madame Bovary; não, aqui os cenários são vívidos e se movimentam em bom fluxo. Descrição exagerada ocasionalmente dá as caras; mas, estando o autor mais maduro, não se perde em devaneios.

Edição das mais bonitas que tenho, marcador de páginas incluso: toque de escamas, como os peixes sagrados da sacerdotisa; roxo, como as cores divinas; lunar, como a deusa. Ótima viagem a um tempo e lugares longínquos, anteriores à sociedade tal como conhecemos.

site: https://www.instagram.com/escritosdeicaro/
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Matheus Redig 23/03/2024

Romance épico desafiador. Flaubert compõe um quadro da natureza humana na sua forma terrível e sublime, feroz e majestosa.
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Fabio Di Pietro 21/02/2023

Místico
O autor dispensa apresentações.
Neste livro, uma diferente faceta nos é apresentada. Com base em um extensa e minuciosa pesquisa arqueológica e histórica, o autor recria Cartago e nos transporta diretamente para lá.
Sua descrição dos lugares, ambientes e sentimentos dos personagens principais nos confuz à uma atmosfera mística, antiga e cheia de paixões.
História carregada de batalhas e suas reviravoltas, bem como de rituais e simbologia dos deuses antigos cananeus.
Não há bandidos ou mocinhos, mas humanos dotados de suas paixões mais rudimentares.
Prepare-se para os horrores da guerra e sacrifício aos deuses.
A escrita traz palavras bem específicas e não comuns, mas não chega a truncar a leitura. Recomendo para aqueles que curtem um romance histórico, ala Bernard Cornwell, mas com linguagem mais rebuscada.
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