letAcia1172 29/07/2023
Não tenho palavras para o Saramago...
Esse foi o segundo livro do José Saramago que li, lembro de ter ficado encantada com o primeiro (ensaio sobre a cegueira) e com este não foi diferente. Mas a verdade é que não consegui pegar o ritmo do livro de primeira, precisei reiniciá-lo após alguns meses para então conseguir terminá-lo. Agora, depois de ter encerrado a leitura, só consigo pensar: ainda bem que eu tentei novamente. Ler Saramago é uma experiência e tanto. Eu esperava encontrar algo parecido com o caos social retratado em "ensaio sobre a cegueira", mas aqui, para além de abordar e satirizar as mais variadas instâncias e conjunturas sociais, Saramago nos traz a figura da morte. A morte aqui é não somente um acontecimento, mas também uma personagem. A morte descrita por Saramago tem anseios, tem pensamentos, tem conflitos internos, tem angústias, tem medos... a morte se assemelha a um ser humano em essência e acaba por abraçar esse traço de si. Acho que o livro poderia ser dividido em duas partes/momentos. O primeiro sendo mais voltado para "o que seria de nós, enquanto sociedade, sem a morte?" e o segundo girando em torno da morte e das suas próprias questões "o que sou?", "o que faço?", "o que nunca poderei ser?", "o que estou deixando de aproveitar?", "o que está ao meu alcance?", a morte volta de sua primeira intermitência mais conflituosa do que nunca e isso reflete no modo como ela passa a atuar em seu ofício de matar - "e se eu mudar meu modus operandi?" Enfim, foi interessante ver uma reflexão fictícia mas não superficial sobre a morte, algo intrínseco a tudo e a todos e que muitas vezes as pessoas desejam não ter. Mas será que isso seria possível numa sociedade como a que vivemos? Poderia passar o dia inteiro falando sobre tudo o que esse livro me fez pensar mas vou parar por aqui !