Rony 12/01/2023
Difícil fim
Quando comecei a leitura de "As Fronteiras do Universo" em 2020, não tinha expectativa de que a saga fosse me conquistar. Nos últimos anos posso até ter lido bons livros, mas achei que as séries de fantasia que fossem me marcar profundamente estivessem todas ligadas à minha adolescência. Depois de muitos anos, Pullman conseguiu esse feito de expandir o meu coração e abrir espaço para Lyra, Will, Mary e diversos outros personagens que compõem os mundos deslumbrantes de sua obra. Terminei essa leitura com o coração muito aperto com a perspectiva de ter que dizer adeus.
E vamos de trama, vamos de spoiler.
No livro mais extenso dos três, sinto que o autor tem uma certa dificuldade de manter um bom ritmo durante toda a narrativa. Trechos mais envolventes se diluem com outras passagens bem mornas, com evidente destaque às interações de Malone com os mulefas. Além disso, chegado o clímax de uma batalha de proporções épicas, Pullman parece não saber como desenrolar as sequências de ação de forma satisfatória, com evidente destaque à sequência do lançamento da bomba, que vira uma baderna em que o leitor fica mais perdido que Sra. Coulter no meio daquilo tudo.
Demorei para escrever esta resenha porque passei os últimos dias digerindo essa leitura (e ainda estou). Por um lado existem grandes momentos e belíssimas decisões tomadas aqui: a representação da morte, a intensidade do amor, o peso da responsabilidade de viver uma vida plena sem deixar de lado as decisões difíceis que a permeiam... Gostei absurdamente de diversas ideias exploradas. No entanto, por outro lado, não consigo conter a frustração de sentir uma falta de fluidez e amarra entre tema e narrativa, de sentir que o simbólico está inteiramente inserido na fibra da história, coisa que foi TÃO BEM executada no primeiro volume. Me parece que o autor já tinha bem claro o que queria trazer para este final, mas quando chegou na hora de escrever, ele achou que as ideias por si só bastariam.
Confesso que me senti traído por toda a questão da profecia com a Serpente e Eva e da Faca Sutil como arma fundamental na batalha contra a Autoridade, que são elementos de GRANDE destaque nos livros anteriores e causam gigante antecipação, não terem uma conclusão nada satisfatória. Reforço que eu gosto do símbolo do marzipã, do poder de contar história, da responsabilidade que cada um de nós carrega em criar um mundo possível para o livre pensamento, mas não sinto que isso se amarra bem com o que estava sendo construído dentro da narrativa do próprio livro.
Nessa dualidade de frustração e admiração, me despeço de uma das grandes sagas literárias da minha vida - à qual me sinto muito grato por existir -, ansiando por saber o que vêm depois, pelas interações entre Mary e Will, pelo papel de Lyra adulta...
PS: uma coisa que adorei foi termos uma aparição de todos os personagens importantes da saga nessa conclusão, ainda que de forma breve.