Flah 31/08/2012Eu Sou Alice - Melanie BenjaminEra para essa resenha ter saído na semana dedicada a Lewis Carroll, mas, por motivos acadêmicos, não consegui ler a tempo. Aliás, até mesmo depois de tê-lo lido, ainda levei mais um tempo para escrever sobre ele.
Veja bem, eu detesto biografias ou histórias baseadas em fatos. Acho que isso tira toda a mágica da coisa. Porém, como se tratava da história de Alice, a mesma que inspirou Lewis Carroll e, consequentemente, o nosso querido blog, resolvi dar uma chance ao livro.
E é aí que eu digo que precisei de um tempo para digerir e escrever sobre ele. A experiência que eu tive com “Eu Sou Alice” foi inesperada e intrigante.
Alice Liddell é a filha do reitor de uma das mais renomadas faculdades da Inglaterra. Por ter o pai em uma posição tão privilegiada, ela vive uma vida luxuosa, quase que como se fosse uma princesa. Além de ter uma vida cheia de regalias, ainda conhece um monte de gente importante – o que inclui os afetos de um príncipe de verdade!
No entanto, o que Alice mais gostava era dos passeios que ela e suas irmãs davam com o senhor Dodgson, um simplório professor de matemática da faculdade. Ele lhes contava histórias maravilhosas, tirava-lhes fotos e sempre tinha um lugar interessante para levá-las em seus passeios. Aliás, foi em um desses passeios que ele lhes contou a que seria futuramente a famosa história de Alice no País das Maravilhas.
Mas, havia algo omitido em relação aos sentimentos de Alice para com ele e em relação à reciprocidade de tais sentimentos. Acontece que a diferença de idade e social entre os dois era monstruosa. Além do mais, a inveja e a mentira não estavam, definitivamente, a favor dos dois.
Bom, por onde devo começar? A história é uma maravilhosa mistura entre ficção e realidade. Em nenhum momento você tem plena certeza se aquilo realmente aconteceu, ou se é apenas especulação. A autora conseguiu incluir todos os mistérios e boatos que envolvem o polêmico Lewis Carroll e os colocou com maestria em uma história séria, coesa e perfeitamente possível.
O começo do livro é um pouco lento e acredito que em algumas passagens a autora focou nos pontos errados (E com errados eu quero dizer menos necessários, já que mesmo com os focos meio trocados, a história fez todo o sentido do início ao fim), mas, em geral, a história ficou na medida certa. Eu me sinto muito mais próxima dos livros de Lewis Carroll agora que, de certa forma, fiquei um pouco mais próxima de sua vida.
O clima da obra é bem tenso, também, às vezes pendendo perigosamente no limiar entre o imoral e o inocente. Durante todo o desenrolar da história, paira a dúvida, a incerteza sobre o que realmente aconteceu. Incerteza esta que permanece mesmo depois que tudo é esclarecido. Mas permanece de uma forma boa, como o gostinho de chocolate que fica na boca mesmo depois que o doce acaba.
Os personagens também ficaram muito bons, foram estruturados de forma condizente e dignos de uma biografia. Não há idealização, somente a retratação de seres humanos com muitos defeitos e pecados nas costas.
Outra coisa que me agradou bastante foi a mágica que esse ambiente vitoriano sempre traz, ainda mais quando é bem descrito. Os vestidos, os costumes, os lugares, as referências. É tudo muito incrível. Eu sempre gostei de livros que retratam essa época.
Portanto, aquilo que começou como uma obrigação incômoda, acabou por se tornar uma ótima experiência. Indico a leitura de “Eu Sou Alice” para todos os amantes da famosa história de “Alice no País das Maravilhas”, ou para todos aqueles que, assim como eu, sempre foram intrigados com os mistérios que envolve a relação entre Alice Liddell e Charles Dodgson, ou Lewis Carroll.