spoiler visualizarvalentina 14/09/2022
Considero esse um livro difícil de avaliar, e fico até surpresa de ter decidido que gostei tanto no final, pois teve ao mesmo tempo momentos incríveis e muito bem escritos e outros que me cansaram e incomodaram muito. A parte do Roran foi maravilhosa, gostei muito de ver o que aconteceu com o povo que foi deixado para trás logo no início do primeiro livro, e foi um núcleo extremamente necessário para o ritmo da história, realmente sustentando meu entusiasmo, pois o arco de treinamento do Eragon muitas vezes pareceu desinteressante comparado com o que o povo de Carvahall estava passando.
No geral, um grande mérito dessa saga é que estou muito interessada na história que ela tem para contar, e acho que na maior parte é bem escrita, apesar de uma ocasional inconsistência do autor. Infelizmente, Eldest me parece muito 8/80, pois ao mesmo tempo que achei a história do Roran muito bem feita e contada, o romance de Eragon e Arya continua sendo uma parte completamente intragável da história, principalmente pelos personagens ao redor dos dois se incomodarem apenas com o desejo de Eragon de viver um amor impossível, e não com a perturbação e assédio que a Arya sofre, considerando que até esse momento ela nunca demonstrou o menor interesse romântico nele, rejeitando todas as suas investidas, e mesmo assim Eragon fica preso em um ciclo de perturbá-la, ser repreendido, pedir desculpas e fazer a mesma coisa alguns dias depois. Considerando que o livro inteiro é dedicado ao processo de aprendizado e amadurecimento dele, realmente parece contraditório que ele simplesmente nunca aprenda. No início, quando os sentimentos dele foram ficando cada fez mais explícitos, achei interessante que ele cometesse erros e passasse vergonha, afinal ele é um adolescente, e suas atitudes faziam sentido, mas isso vem acontecido desde o primeiro livro, e são livros muito longos, então a situação toda ficou muito cansativa muito rápido.
Outra coisa que me incomodou foi a relação do povo élfico com as outras raças (humanos e fantasiosas) do livro. Os elfos de Eragon são inspirados direta e fortemente dos de Tolkien, e enquanto não existe problema algum nisso, durante todo o livro senti que nessa inspiração falta um carisma maior que era presente no original. Os elfos de Eragon são místicos, possuem capacidade atlética fora do normal e conhecimento profundo de magia e ciência, mas isso tudo vem somado de uma arrogância e sentimento de superioridade racial que é presente em diversos momentos do livro, e raramente é questionado, o que é estranho especialmente porque o próprio Eragon possui um racismo profundo em relação aos Urgals, e o livro trata isso como algo não só negativo como irracional, mas quando os elfos desprezam e desrespeitam outros povos e suas culturas, o único questionamento que o protagonista faz é duvidar de seus próprios saberes, afinal os elfos simplesmente sabem mais, por isso não tem problema algum que tratem todas as outras raças como fracas e ignorantes, pois eles com certeza estão certos.
Durante a leitura tiveram vários momentos em que me incomodei com a atitude dos elfos com outras raças, mas no geral classifiquei como uma questão de gosto minha e achei que estava exagerando na análise, mas quando o livro me confirmou que o protagonista estava realmente errado por ter preconceito e tratar mal os Urgals, para mim essa mentalidade de toda uma raça se tornou ainda mais absurda, e realmente senti que era tópico que poderia ser muito bem abordado, mas infelizmente não aconteceu.