Ari Phanie 29/06/2020"Fascismo não se debate. Fascismo se destrói."Mark Bray é um historiador que viu crescer na onda de ódio racista contra minorias nos Estados Unidos, e no resto do mundo, um alerta de que precisávamos estar preparados para o fascismo novamente. A maioria não leva à sério o fascismo nos dias de hoje, já que os grandes inimigos de outrora estão mortos. Mas os supremacistas brancos nunca deixaram de existir. E a luta contra esses supremacistas e a extrema-direita reside no movimento Antifa e como ele funciona.
" (...) a Antifa pode ser descrita como uma espécie de ideologia, uma tendência, ambiente, ou uma atividade de autodefesa. Apesar dos vários tons de interpretação, a Antifa não deve ser entendida como um movimento único. Em vez disso, é simplesmente uma das várias manifestações da política socialista revolucionária."
A partir de uma investigação bastante detalhada, Bray nos mostra que a luta antifa existe desde o século XIX e também apresenta o que ela é hoje. Para isso, ele fez uma pesquisa através de material de imprensa, e com entrevistas com antigos e atuais antifacistas de várias partes do mundo.
Esse apanhado de informações que ele traz de anos e anos de luta e lutadores contra nazistas e fascistas é muito extensa e muito densa, e no final de alguns capítulos focados nisso, eu fiquei espantada como tão pouco eu sabia sobre essas coisas. Na realidade, era quase nada. Percebi que a mídia tem uma culpa extrema nisso. Os antifas são sempre encarados como "agitadores", "subversivos", que provocam destruição e só. Nunca ouvem o lado deles, e a população acaba não entendendo ou ficando contra essas pessoas. No entanto, todo mundo ouve falar dos supremacistas, neonazistas, etc. A maioria não concorda com eles, felizmente. Mas a mídia costuma cobrir essas manifestações racistas, sem normalmente dar o mesmo foco ao outro lado de forma justa. E acho que isso cabe na teoria antifa de "não dar nenhum palanque" para fascistas. Mesmo que de forma negativa, é a eles que dão foco. E isso os alimenta e também a outros que pensam igual. A mídia sempre estar ouvindo-os. A exemplo disso são as reportagens com Richard Spencer, supremacista branco e apoiador do Trump que chegou até a falar em público "Hail Trump". Mark Bray fala e eu concordo, não existe liberdade de expressão quando se trata de nazistas e fascistas. Eles simplesmente não deveriam ser autorizados a discursar em público e ferir a liberdade e a existência de outros.
Depois da história de como grupos antifa foram formados em diferentes partes do mundo, normalmente em resposta a um grupo nazista/fascista, Mark Bray aponta como a xenofobia contra os imigrantes refugiados soou um novo alerta para a mais recente onda do fascismo. E nesse capítulo ele aborda como partidos de extrema-direita que pregavam o nacionalismo exacerbado e atacavam, e marginalizavam os refugiados fizeram crescer movimentos e grupos neonazistas. Mas para além do nacionalismo aliado a xenofobia, militarismo e machismo, está a supremacia branca. Quem não se lembra daquela horrenda manifestação de supremacistas e neonazistas em Charlottesville, Virgínia, nos Estados Unidos, em 2017? Eu lembro de que quando vi a reportagem e as fotos daqueles homens brancos com tanto ódio em seus rostos, fiquei chocada e com medo. Me pareceu cena de filme sobre a KKK ou o Nazismo. Foi bem ali que eu percebi que eles eram tão fortes como sempre foram, e ao contrário do que todo mundo falava, não tinham acabado.
Para finalizar, algo muito importante que o Bray nos lembra, é sobre fascistas e nazistas chegando ao poder de forma legal. Não precisaram de revoluções. As pessoas os colocaram lá. Exatamente como aconteceu aqui com o nosso fascistinha tupiniquim. E isso diz muito sobre o que estamos enfrentando. Ele também fala dos subgrupos dentro do movimento antifa, como o fantifa; grupos de antifas feministas.
O que fica ao fim da leitura é que o movimento antifa está aliado a todo movimento que luta pela existência e liberdade das consideradas minorias, e que o movimento é cada dia mais necessário, e não pode acabar mesmo quando não há ameaças fascistas. Sempre vai haver, e é preciso lutar contra essas ameaças do jeito que se pode. Que nunca mais se menospreze o fascismo e o nazismo de novo.