O Ofício de Engordas as Sombras

O Ofício de Engordas as Sombras Bruno Gaudencio




Resenhas - O Ofício de Engordar as Sombras


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Maranganha 08/09/2010

O Esteta Estilizado do Niilismo
No Agosto das Letras tive a sorte de conversar, entre alguns nomes importantes para a literatura brazuca, e com alguns locais, paraibaníssimos, que prometem muito nos gêneros que se propuseram a trabalhar. Como disse uma vez o meu amigo Jairo, a Paraíba é prolífica em produzir bons poetas, a começar por Augusto dos Anjos. Mas eis que um deles, o poeta campinense Bruno Gaudêncio, conseguiu me deixar cabisbaixo e pensativo em sua primeira publicação.

Obviamente, ninguém consegue ser bom de primeira, e confesso que alguns de seus poemas, quando li, senti que poderiam ser melhor trabalhados, ser mais concisos ou ter uma linguagem mais aprofundada. Não que já não o fossem, mas trata-se da obra de entrada de um poeta no curral da literatura. Como o próprio disse em sua dedicatória em caneta avermelhada: "Para o escritor Félix, estes meus versos inaugurais". Ele está certo, são versos inaugurais, ninguém precisa entrar chutando a porta numa entrada triunfal. Aparecer discretamente e sentar no canto do salão esperando o melhor momento também serve.

Completando a frase de Jairo, acredito que não é a Paraíba que está, ultimamente, produzindo bons poetas, mas Campina Grande, que pariu nomes como Jessier Quirino, Bráulio Tavares e Fernando Silveira, por que não geraria também Bruno Gaudêncio?

Quando li o livro O Ofício de Engordar as Sombras, percebi um estilo que se aproximava em muito dos grandes poetas da Segunda Geração do Romantismo, como Lord Byron, Álvares de Azevedo e Edgar Allan Poe. Por vezes, senti a presença do estilo de Arthur Rimbeau e Paul Verlaine. Bruno Gaudêncio conseguiu transpor para a poesia algo que desde muito está em desuso no mundo da arte literária: o sentimentalismo. Mas é o sentimentalismo romântico? Óbvio que não, pois o mesmo é produto de um contexto em que existiu o Romantismo. Diria eu que trata-se de um sentimentalismo estético, intencional. Vão por mim, passe duas horas conversando com ele, e você perceberá que ele tem plena consciência daquilo que faz.

Além do sentimentalismo, o poeta lança mão da liberdade poética de criação, alternando versos bem trabalhados com outros, em que se percebe um mal acabamento. É algo que já vi lendo Carlos Drummond de Andrade e Oswald de Andrade. Estruturações assim geram um efeito semelhante a uma onda linguística, como na série Danações, dedicado a três poetas paraibanos: Rinaldo de Fernandes, André Ricardo Aguiar e Astier Basílio. Há uma alternância clara entre versos imagéticos e versos com linguagem comum. É uma memória residual da fala cotidiana e, ao mesmo tempo, uma transversalidade da linguagem poética.

Apesar desses traços Romântico-Impressionistas, Bruno Gaudêncio vale-se de recursos estéticos mais recentes, mais típicos da forma de fazer poesia no final do século XX. A concisão na linguagem é clara na maioria de seus poemas, concisão não alcançada pelos representantes de escolas anteriores. Além disso, a imagética simples e prosaica prende o leitor, transforma Bruno em um rabiscador de imagens longas, concentrando o efeito poético não em uma combinação de palavras, mas num decorrer do próprio poema.

É um livro que recomendo para a leitura e, ao mesmo tempo, recomendo acompanhar a carreira de Bruno Gaudêncio. Vejamos no que dá. Ele levantou minha orelha, levante a sua também!

(publicado também no http://assassinador.blogspot.com).
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