spoiler visualizarLelê 26/04/2021
Um livro pra SURTAR lendo!
Eu posso resumir o que Entre a Luz e a Escuridão me fez sentir com o comentário da Angélica Lima, na orelha do livro: a necessidade de respostas. No começo da história somos apresentados a uma situação, ou melhor, a uma personagem antes desconhecida por nós. Cellestia, mais uma garota que foi pega pelo Instituto e teve sua memória apagada. Mas o que ela tem a ver com a Área 4 e seus moradores? Qual a relação dela com o mundo que já conhecemos?
A verdade é que ninguém quer saber de Cellestia nenhuma quando abre apressadamente nas primeiras páginas. A única coisa em minha cabeça, pelo menos, era: "Chris está vivo. E agora?". Sabemos que Evan foi embora, que está se afastando de Lollipop. E esse é o momento perfeito para uma antiga fagulha, uma história de amor inacabada, retornar. Confesso que comecei a leitura com a certeza de que essa seria uma história de triângulo amoroso, em que ela ficaria dividida por aquele que está lá agora e aquele que esteve, por quem ela espera. Chris tentaria conquistar a garota que beijou, na certeza de que seria a última vez que a viria, e Evan teria de reconquistar sua menininha. Ha! Vocês nem imaginam a surpresa que eu tive quando me deparei com algo totalmente diferente.
Esqueça o triângulo, esqueça o Chris. Ele não desempenha um papel de destaque no segundo livro, apesar das expectativas dos leitores. Mesmo pela sinopse e também pelo que nos é contado em Sob a Luz, sabemos que Lolli agora é lider da área 4. Chris a auxilia na liderança, muitas vezes tomando as funções dela para si, que está muito abalada com a ausência de Evan para fazer qualquer outra coisa que não seja se embebedar e se esconder por trás das muralhas que construiu ao redor de si. Sim, Lollipop mudou muito, tanto sua personalidade quanto sua aparência. Agora o que temos é quase um espelho do que seu vampiro foi. Foi. No passado. Porque Evan está morto -ou é o que tudo indica. Partindo desse princípio, podemos fazer inúmeras deduções do que encontraremos no decorrer da história: um romance entre Lolli e Chris, Lolli voltando no tempo (apesar de ter prometido que não o faria) para salvar seu marido e, considerando a presença de Cellestia (e a descrição dela na sinopse), uma guerra na Área 4 provocada pela mesma, aquela luta por sobrevivência que esperamos desde o primeiro livro, que nos frustrou um pouco nesse aspecto.
Eu não sei falar de Entre a Luz e a Escuridão sem dar pequenos spoilers, o que é terrível porque cada pequeno detalhe, cada informação é o que faz esse livro ser tão surpreendente. É um livro tão pesado, tão triste e que provoca em nós tamanha agonia que simplesmente não conseguimos largá-lo até sabermos onde tudo vai dar. Mas vamos lá. Cellestia é alguém que teve sua aparência mudada pelo Instituto para ser usada como mero objeto de prazer para os clientes do Lower Floor, uma espécie de bar secreto do Instituto, para fazer dinheiro para eles. Ela se torna a atração principal do lugar por ser a primeira garota com a aparência "aperfeiçoada" por plásticas e pinturas (seja no cabelo, seja na pele), e por fazer seu trabalho tão bem, recebe a tarefa especial de injetar veneno em alguns clientes que apresentam ameaça ao Instituto, os matando 24 ou 48 horas após isso. Isso a garante alguns privilégios, como não ter que lidar com homens agressivos que a ferem quase a ponto de matar.
O que é mais terrível nessa situação é que Cellestia simplesmente não vê que ela é terrível. Essa é a vida que ela conhece, ela foi programada para fazer isso. Sua personalidade foi moldada pelo Instituto. E... ela não tem motivações ou força para lutar. A partir daqui, tudo é um spoiler enorme porque depois dos primeiros capítulos, toda a história se baseia nisso. Não sofremos apenas por Cellestia, com Cellestia, mas por Lollipop. Porque vimos ela evoluir e acompanhamos sua história e agora, nada do que ela foi importa. Porque ambas são a mesma pessoa. Lollipop, assim como Amélia, Destiny e Celena, se foi. Mas tudo bem, pensei. Ela vai voltar. Só que quanto mais a história avança, mais essa esperança vai se perdendo.
Evan, que por um mal entendido nunca esteve morto, retornou no mesmo dia em que Lolli foi pega, numa missão de capturar os suprimentos enviados pelo Instituto. Tudo, desde a ameaça feita ao vampiro até o fato de terem lançado os suprimentos tão perto da Área 4 fora uma armadilha para pegar essa arma poderosa que eles tentam possuir há quase um século. Alguém capaz de mudar o passado e o presente. Alguém que não deveria ficar a solta por aí. E essa é a missão suicida em que os guerrilheiros se envolvem: salvar Lollipop. Nessa aventura (se é que posso chamar assim) conhecemos mais sobre a história da humanidade, sobre Evan e sobre o próprio Instituto, já que temos o ponto de vista de alguém que está lá dentro. Os guerrilheiros precisam viajar até o continente americano, onde se encontra a sede do Instituto LTG. Lá, o mundo parece ter sido guardado de todas as guerras, de todo o caos em que todo o resto do mundo ainda estava envolto. É um lugar evoluído -e ainda assim, a raiz de toda a podridão existente.
Lá era também o antigo lar de Evan, o que facilita a estadia e adaptação do grupo. Agora é contar com a sorte para resgatar Lolli -e com um bom plano, é claro. Vamos para os personagens. Eu preciso falar sobre Jullie. Ana do céu, que trabalho incrível você fez com a Jullie. De uma personagem que era esquecida no primeiro livro para essa que ocupa uma posição de destaque, e ela mereceu toda a atenção que foi dada a ela. A forma como Jullie apoia Evan, apesar de não dar a mínima para Lollipop, só porque gosta dele o bastante para superar qualquer intriga do passado, é muito bonita. A amizade que eles desenvolvem é muito bonita, ouso dizer que até mais do que a que vimos com Sam, o garoto que ele criou desde bem novinho. Temos também Allana, alguém que orienta Cellestia nessa sua nova vida. Ela é uma mulher misteriosa, mas cheia de influências dentro do Insituto. Ela conta que está lá há séculos, ajudando outras garotas a saírem. Será, me perguntei, que era dela a voz que guiou Lollipop para a saída no primeiro livro? Mas acho que isso ficou no ar, assim. "Entendam como quiserem".
De volta a história, sentimos toda a adrenalina do plano de Evan, que teve a oportunidade perfeita para ter um tempo com ela: uma semana inteira com Cellestia -se ele pudesse pagar por isso. Antes dessa ocasião, Celli já tinha ouvido falar desse vampiro épico. Ela tinha o seu colar no peito, afinal, devolvido a ela por Allana após ser tomado pelo Instituto. Suas fichas militares. E ele pôde! Ele pagou caro para tê-la por aqueles 7 dias. Mas não comemoremos antes do fim. Lembrando que estamos lidando com uma autora sádica.
O momento de encontro é o pior de todos. Aguardamos o momento em que algo se acenderá dentro dela, uma lembrança, um resquício de que Lollipop ainda existe, mas não vemos nada disso. O que vemos é a dor de Evan, e sentimos pela primeira vez o que ele já sente pela quarta: a dor de perder a mulher que amava. Resta o recomeço. Se apaixonar por Cellestia. Se conformar com Cellestia. Confesso, foram nesses momentos ocorridos nessa uma semana que tiveram juntos que meus olhos lacrimejaram diversas vezes. É quando a ficha cai: Lollipop não vai voltar..
Mas essa semana não é só o momento de paixão e saudade. É a hora de traçar o plano de fuga. O plano é bem simples na verdade. Simplesmente esperar para fugir na última hora, para que o Instituto não desconfie que há algo errado acontecendo. Metade dos guerrilheiros para um lado, outra para o outro. Isso os confundiria quando o localizador que misturaram ao sangue de Cellestia se dissolvesse por completo. Mas é claro que deu tudo errado.
Os homens do Instituto chegaram antes do que esperavam. Não era só um localizador. Eles descobriram todo o plano. Foi um conflito sangrento e desesperador: uma arma apontada para a cabeça de Sam, a vida dele pela dela. E logo todos os guerrilheiros presentes tinham se tornado refém, com a casa em que estavam hospedados em chamas como plano de fundo. Evan implora que Cellestia faça algo. Ou melhor, que Lena faça algo. Mas não tem nada que possa ser feito, exceto a desistência. Nessa altura do campeonato, até o próprio Leonard Travis Goyle apareceu para levar a menina de volta. Surgiu como uma aparência assustadora, mas estava vivo, mesmo após tanto tempo. Celli vai embora. Direto para um inferno preparado só para ela: são inúmeras as sessões de tortura, até que ela finalmente enlouqueça. Mas longe dali, um vampiro ainda não desistira dela. Na virada do ano, ela será a atração principal outra vez. Ou essa foi a isca que lançaram para que Evan mordesse. E ele mordeu.
Houve sangue, muito sangue, muitas vítimas e uma confusão difícil de entender e acompanhar. O plano era tirar Celli dali antes que alguém percebesse, colocando Peter como infiltrado. Evan forçaria a porta nos 20 segundos antes de tudo ser trancado por um procedimento de segurança e tudo terminaria bem. Mas no momento em que a porta foi forçada, o conflito começou. Esperavam por ele. Ela esperava por ele. Quando Evan finalmente está dentro do Lower Floor, se depara com Amélia, Destiny e Lollipop, todas juntas encolhidas num canto do bar. Mas caminhando em sua direção, está aquela que mais o destruiu. Quem mais ele amou. E também sua pior inimiga: Celena.
O que esperar de um livro que termina com "Merda"? Literalmente, a última palavra. E não, Ana Beatriz, não adianta pedir desculpas por isso nos agradecimentos. Mas eu te perdoo só porque você trouxe a Lolli de volta.
Algo que eu percebi não só nesse como também no primeiro livro da trilogia foi que a passagem de tempo estava errada. Muitas vezes pulava da manhã para a noite logo após rápidos acontecimentos que, no máximo dos máximos, durariam umas três horas. O mesmo da noite para o dia e para a contagem da idade dos personagens. Jazz tinha 16 no primeiro livro e, 4 anos depois, tem 18? E esse é só um exemplo. Esses detalhes poderiam ter recebido mais atenção por conta dos revisores, mas não tiro nem meia estrela por isso. Entre a Luz e a Escuridão me pisoteou, me fez sofrer, me fez chorar e o coração acelerar de agonia e ansiedade. Mas não tem jeito. Eu tive que ceder.
"Havia algo dentro de mim que achava graça naquilo. Graça na dor. Eu gostava da dor. Sempre gostei. Não, eu não..."