Infância

Infância Graciliano Ramos




Resenhas - Infância


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Marcia 31/07/2023

Minhas impressões sobre o livro
Nesse livro Graciliano faz sua autobiografia, narrando fatos vividos de quando estava com na faixa dos 8 anos e segue até adolescência. Eu gostei muito, a escrita é popular, fácil compreensão,cativante e reflexiva
É muito interessante ver como Graciliano mergulhou em seus pensamentos da infância, nas lembranças e conseguiu nos trazer a realidade da época sob sua perspectiva infantil.
Conhecer o dia a dia da família , da região, suas dificuldades e aprendizado me permitiu aprender e crescer com ele. Algumas frases que chamaram atenção:
"O inferno era um nome feio que não devíamos pronunciar. Mas não era apenas isso. Exprimia um lugar ruim, para onde as pessoas mal-educadas mandavam outras, em discussões. E num lugar existem casas, árvores, açudes, igrejas, tanta coisa, tanta coisa que exigi uma descrição. Minha mãe condenou a exigência e quis permanecer nas generalidades. Não me conformei (?)?
?(?) Minha mãe curvou-se, descalçou-se e aplicou-me várias chineladas. Não me convenci. Conservei-me dócil, tentando acomodar-me às esquisitices alheias. Mas algumas vezes fui sincero, idiotamente. E vieram-me chineladas e castigos oportuno?
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jota 06/11/2021

ÓTIMO: infância e início da puberdade de um sofrido menino do sertão alagoano que mal sabia ler e escrever...
Relido entre 16/10 e 04/11/2021

No final do volume de Infância (1945) temos Octavio de Faria (1908-1980), jornalista, crítico e escritor carioca, registrando suas impressões sobre o livro num pequeno ensaio intitulado Graciliano Ramos e o Sentido do Humano. Ele serve como posfácio a essa edição da Record de 1975, que traz ainda belas ilustrações do artista plástico Darcy Penteado (1926-1987). Para Faria, se Infância parece ser o livro mais importante de Graciliano Ramos (1892-1953), seu melhor romance seria mesmo Angústia (1936). Ele analisa esses dois livros do autor alagoano – e outros, mais brevemente –, todos fundamentais para quem deseja conhecer o melhor da literatura brasileira do século XX e de sempre.

Para se entender plenamente o autor de Vidas Secas (1938), sua obra mais conhecida e admirada, bem como as demais que escreveu, Faria afirma que é necessário ler Angústia. Não à toa seu ensaio é iniciado com uma citação de Dostoievski, "Mas, isso provém do fato de eu não ter estima por mim. Pode, porém, um homem que se conhece a si mesmo, estimar-se, mesmo um pouco que seja?" Angustiados, humilhados e ofendidos, como são muitos personagens de Dostoievski, também podemos encontrar essas criaturas nas obras de Graciliano Ramos. Apesar das distâncias geográficas, culturais e temporais o russo e o brasileiro têm muito em comum, sem dúvida.

Infância é uma releitura: não me lembrava de muita coisa da primeira vez que tive o livro em mãos, vários anos atrás, apenas genericamente da história. Achei ótimo então, mas agora o livro me pareceu profundamente triste e seco, como seco era (e continua sendo em certos lugares) o nordeste de Graciliano, uma narrativa com muitas passagens até mesmo sombrias por conta do tratamento que as crianças de sua época recebiam dos adultos, com muito pouco ou nenhum carinho de seus pais. Em vez de amor, autoritarismo e medo.

O próprio autor escreve: “Medo. Foi o medo que me orientou nos primeiros anos, pavor.” Infância é, pois, um quadro extremamente amargo e sofrido de memórias vividas (e outras possivelmente inventadas) pelo adulto que um dia foi o menino Graciliano. Além da história do menino temos outros personagens curiosos de sua infância (os pais, seus professores, parentes e amigos da família, vizinhos, visitantes etc.), todos vivendo a maior parte do tempo num cenário de seca, longe de tudo, com um mínimo de recursos para a sobrevivência, muitas vezes migrando em busca de uma vida mais digna, de menos sofrimentos. Graciliano também toca na questão dos negros, sua deplorável situação econômica e social logo após a abolição da escravatura por aqui. Se a situação de uma criança branca era complicada, a de uma negra era muito mais.

Isso tudo não impede, claro, que o livro tenha alguns momentos engraçados, especialmente relacionados ao tempo em que o menino passou na escola. Como na passagem em que somos apresentados a Terteão. E quem era esse personagem, essa pessoa? Com esse nome, Terteão era certamente um homem. Mas um homem desconhecido, que o menino tinha curiosidade de descobrir quem era. Pois nem mesmo Mocinha, sua irmã, mais velha do que ele, sabia de quem se tratava. Isso tudo porque lá pelas tantas páginas de Infância, Graciliano fala de sua dificuldade de ler: estava por volta dos oito, nove anos. Ao tratar de sua vida escolar, ele nos entrega um trecho bem interessante do livro. Vale a pena transcrever algumas linhas aqui:

“Eu não lia direito, mas, arfando penosamente, conseguia mastigar os conceitos sisudos: "A preguiça é a chave da pobreza — Quem não ouve conselhos raras vezes acerta — Fala pouco e bem: ter-te-ão por alguém."
“Esse Terteão para mim era um homem (...).
“Mocinha, quem é o Terteão?
“Mocinha estranhou a pergunta. Não havia pensado que Terteão fosse homem. Talvez fosse. (,,,)
“Mocinha confessou honestamente que não conhecia Terteão.”

O menino lia porém não entendia o que significavam as palavras que tinha pela frente, como no caso desse aforismo, "Fala pouco e bem: ter-te-ão por alguém.", em que ele confundia o som, a conjugação pronominal do verbo ter com o nome de uma pessoa, um homem, Terteão. Está explicado. Depois acompanhamos, sempre com muito interesse, sua crescente relação com os livros, autores, histórias etc. Haveria muita coisa mais para se registrar sobre Infância, mas o melhor mesmo é deixar essas linhas de lado e ler (ou reler) o livro de Graciliano e o ensaio de Octavio de Faria. E depois Angústia, uma de minhas próximas leituras. Ou Vidas Secas, São Bernardo, Caetés, Memórias do Cárcere...
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Stella F.. 26/09/2022

A descoberta do mundo
Infância – Graciliano Ramos – Editora Record – 2008

Este livro foi escrito em forma de pequenos textos independentes, e posteriormente foi transformado em livro, publicado em 1945. Por isso, não há uma sequência cronológica nas páginas e capítulos, parecendo fragmentado. Mas, aos poucos, vamos nos acostumando a escrita maravilhosa, mas muito melancólica de um Graciliano Ramos já adulto, voltando ao passado e tentando lembrar o que sentiu ao longo daquela infância em Alagoas e Pernambuco, dos dois aos onze anos.

Vemos desde o início que as lembranças são fragmentadas, mas algumas são recorrentes, assim como alguns termos se repetem ao longo da narrativa, usados de maneira frequente pelo memorialista como por exemplo: névoa, vapor e nuvem; treva e sombra; teia de aranha (Oliveira, 2022, pg. 158)

Podemos selecionar alguns temas como:
• o deslocamento da família por causa da seca
• a educação falha; a falta de amor da mãe, mas a lembrança de que ela tentava de alguma maneira ler
• o pai trabalhador, porém, grosseiro
• sua doença nos olhos recebendo dois apelidos que muito o chateavam: bezerro-encourado e cabra-cega: “Na escuridão percebi o valor enorme das palavras” (posição 1358)
• o medo que o paralisava, mas que de alguma maneira o movimentava: “Medo. Foi o medo que me orientou nos primeiros anos, pavor. Depois as mãos finas se afastaram das grossas, lentamente se delinearam dois seres que me impuseram obediência e respeito.” (posição 66)
• a escola como castigo por não gostar dos métodos e ter dificuldade de aprendizagem (escrita pedante, soletração, professores ruins)
• a salvação por uma professora muito carinhosa
• a descoberta dos livros de uma maneira inimaginável.

Mas o escritor também tinha lembranças boas, carregadas de afetos por alguns amigos e pelo avô que tecia urupemas, como ele tecia palavras. “O autor, insensível à crítica, perseverou nas urupemas rijas e sóbrias, não porque as estimasse, mas porque eram o meio de expressão que lhe parecia razoável.” (posição 156).

Além do sofrimento familiar e com as letras, e algumas aventuras interessantes, o escritor teve contato com a religião, com pessoas que diziam ao contrário do que pensavam: “Mas os gabos se prolongaram, trouxeram-me desconfiança. Percebi afinal que elas zombavam, e não me susceptibilizei” (posição 1887); entendeu um pouco sobre sua família e uma irmã natural; foi preconceituoso algumas vezes, e solidário com o sofrimento de outros muitas vezes também, não entendendo alguns castigos infligidos a pessoas que não pareciam merecê-los.

Segundo Octavio de Faria, no posfácio “Em Graciliano Ramos o menino Graciliano é tudo. Seus heróis são o menino, sua timidez é a do menino, seu pessimismo é a do menino, sua revolta é a do menino.” (posição2534)

Segundo Oliveira (2022) “As doenças e o sofrimento psíquico maltrataram o narrador de Infância que se solidarizava também com as outras crianças que, como ele, também sofriam violência física e moral. Entretanto, apesar dos padecimentos por que passou, foi surpreendido com momentos imprevistos de satisfação, em que vivenciou descobertas cognitivas e afetivas. Dessa forma, Infância, através da rememoração, dá a medida dessas incongruências que parecem constituir o mundo, apreendidas pelo olhar do adulto, que está em permanente e sensível diálogo com o menino.” (pg. 174) E essas lembranças boas podem ser associadas à leitura no armazém do pai, o acesso aos livros do tabelião Jerônimo, a descoberta de livros que o faziam querer aprender a ler e interpretar de maneira livre, sem castigos e com lógica.

Bibliografia:
Graciliano Ramos: a melancolia e as ironias da memória de Ana Maria Abrahão S. Oliveira (2022)



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Ana Letícia 23/04/2020

É um livro muito bom pra se entender o Brasil da época em que se passa. Além disso, é muito interessante acompanhar as memórias do Graciliano.
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Paulo Sousa 11/07/2020

Leitura 34/2020
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Infância [1945]
Graciliano Ramos (Brasil, 1892-1953)
Record, 2020, 352 p.
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?Eu precisava ler, não os compêndios escolares, insossos, mas aventuras, justiça, amor, vinganças, coisas até então desconhecidas. Em falta disso, agarrava-me a jornais e almanaques, decifrava as efemérides e anedotas das folhinhas. Esses retalhos me excitavam o desejo, que se ia transformando em ideia fixa? (Posição Kindle 2306/62%).
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Infância, como o próprio título já diz, reúne as memórias mais remotas do escritor alagoano Graciliano Ramos. São capítulos curtos, primeiro publicados em periódicos da época (por isso mesmo, cada um termina com aquele macete apelativo instigando o leitor a esperar o próximo!) e que são uma espécie de unificação de retalhos da memória e o talento literário do autor.
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O livro reconstrói um pedaço da infância de Graciliano, quando sua família migrou de uma fazenda no interior de Pernambuco para uma vila em Alagoas. O olhar atento do menino vai sendo inundado por tipos humanos esquisitos, por detalhes de secas e cheias, por sentimentos nascentes, pelo nascimento de uma paixão infantil e, principalmente, pelo encontro da leitura e dos livros com o jovem Graça.
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Esses são os capítulos mais interessantes do livro, pois mostram um Graciliano arredio à escola, ao ato de ler, absorto em sua própria estupidez ignorante. As letras esparsas o deixava ainda mais acanhado, atordoado, até que, vencidos os métodos antiquados da alfabetização da época, o menino se apaixona pelos livros e pela leitura...
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Graciliano Ramos sempre foi um de meus escritores favoritos, ao lado de Jorge Amado, Zé Lins do Rego. Soube como ninguém retratar a vida do nordestino, suas mazelas e receios, seus medos e expectativas. Sua prosa seca, enxuta, exaustivamente reescrita, revela, além da economia de palavras, um esmero incomum onde cada palavra deve suficiente para dizer o que tem de dizer. Sem dúvida, um grande escritor!
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Rousa 22/10/2022

Infância
O livro conta a infância do autor Graciliano Ramos, seus sofrimentos, descobrimentos e como desenvolveu o seu amor pela escrita. O entendimento no início é um pouco dificil mas depois me acostumei, o livro dá enfase ao racismo da época e ao sofrimento do próprio menino que é abusado e surrado muitas vezes no decorrer da história.
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Jessi 27/12/2021

O livro é um pouco difícil no começo o que dificulta o entendimento, é meio enigmático, mas depois você se acostuma, há muitas passagens racistas da família, quando do próprio Graciliano, mas a passagens muito boas da história de vida do Graciliano recomendo
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Ana Claudia 25/03/2021

Segundo livro do Graciliano Ramos que eu leio. Muito interessante ver o mundo pelos olhos do menino.
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fabzes 01/10/2010

Uma necessidade
Ler este livro é uma necessidade. Uma escrita de uma beleza incomparável, e um história maravilhosa.
Graciliano Ramos sem dúvida é um dos maiores escritores que este mundo já viu!
Uma pena que algumas pessoas acharam o livro nota 5-6, ou até menos! Mas....
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Daniele.Couto 10/05/2020

Apesar de ser um bom livro, achei a leitura muito cansativa!
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Raquel Lima 25/02/2013

Lembranças da Infância
Que delicia!...Não existe momento mais encantador que a infância!...E que ninguém acredite que é um momento alienado, que a criança não entende nada...Ela entende, sim. Mas de uma forma diferente...mais fantástica, mais encantadora, mais mágica. E o Graciliano, sabe contar como ninguém. Maravilhoso!!! Lido em 29/01/10
newton16 12/05/2014minha estante
Gostei muito de sua resenha, pois sinto que é exatamente assim. A infância é a fase da vida mais mágica, mais fantástica e mais cheia de encanto. Há todo um mundo particular; só deles - infelizmente não me incluo mais. Não há confusão com o mundo dos adultos; há dois mundos, mesmo. Ainda não li o livro, mas o tenho e o lerei.




Camila 04/03/2013

Maravilhoso!
Um livro nu e cru. Tão duro, seco e forte! E tão lindo! Tocante. Tão bem escrito. Uma obra prima em língua portuguesa.
Somente um gênio é capaz de fazer uma obra de arte como essa.
Amei, realmente, maravilhoso!
Um orgulho para nossa literatura e para nossa língua.

O ponto de vista de uma criança, que não foi criada com mimos e dengos, que vai crescendo como uma árvore, ao sabor da natureza.
É tão bonito ver um texto auto-biográfico, podemos ver como as memórias do autor foram construídas.
Impactante.
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@fabio_entre.livros 15/02/2019

Um Dostoiévski brasileiro
Pelo título e pelo tema, talvez o leitor devesse esperar de “Infância” uma obra saudosista que idealizasse essa fase da vida do autor. Ledo engano. Se em Graciliano Ramos raramente há espaço para expansões sentimentais, nestas memórias ele não foge ao rigor narrativo, seja por meio da linguagem seca que lhe é tão característica, seja pelo desprezo aos eufemismos e meias verdades ao citar fatos e personagens dos quais guarda lembranças bem pouco complacentes.
Acompanhando a vida do autor desde suas memórias mais remotas, em torno dos dois anos de idade, até o início da puberdade, “Infância” é genialmente construído de forma fragmentada. As recordações são do menino que ele foi, mas a narração nada tem de infantil; ao contrário, intercalada às lembranças – a maioria delas dolorosas, constrangedoras ou traumáticas – está presente a observação mordaz do adulto Graciliano, que apresenta um vasto panorama da sociedade nordestina no início do século XX, dissecando e criticando seus problemas: miséria, violência (inclusive dos adultos contra crianças), corrupção e manipulação política, coronelismo, hipocrisia, métodos educacionais retrógrados, desajustes familiares.
Crescendo oprimido por figuras autoritárias (desde a família ignorante e intransigente até professores que adotavam metodologias bárbaras), o autor não foi, nem de longe, um menino-prodígio. Como ele mesmo diz, “aos 9 anos era quase analfabeto”, além de admitir-se estúpido, parvo, imbecil e outros qualificativos pouco elogiosos, reforçados pelas pessoas grosseiras com quem ele conviveu na infância. Assim, é louvável que ele tenha encontrado nos livros, anteriormente associados a sofrimento e castigo, uma ferramenta poderosa na superação à mediocridade que o rodeava, a começar pela sua própria. E, de fato, as poucas pessoas por quem ele manifesta respeito e veneração são figuras associadas ao conhecimento formal: a primeira professora, o “rapaz feio do correio”, o professor Rijo, o tabelião que lhe apresentou ao mundo da literatura.
Particularmente, considero “Infância” uma obra que supera o rótulo simplista de “livro de memórias” ou autobiografia; embora se encaixe nos padrões da não-ficção, o livro constitui-se como um magnífico exercício de “autoimersão” que não fica a dever a criações fictícias de autores célebres na decifração da psique humana, como Dostoiévski (guardadas as devidas considerações). Trechos como os dois capítulos em que ele revela a angústia e o pavor causados pelos primeiros contatos com a morte, e o outro capítulo, no final, onde ocorre, “de repente”, o despertar sexual, são de uma perfeição psicológica só observada nos grandes clássicos.
Em síntese, “Infância” é uma obra fundamental para quem ainda não conhece Graciliano e, provavelmente, mais ainda para quem já tem familiaridade com ele, pois como esclarece Octávio de Faria no excelente posfácio, muitas das experiências pessoais relatadas nessas memórias tiveram influência crucial na posterior construção de seus trabalhos de ficção. Reitero: um livro fundamental.

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