limacag 23/03/2024
Você não está sozinho em sua solidão
Sempre que finalizo uma leitura, me pergunto o quanto de experiência ela me agregou. Não conhecia os trabalhos do Minois, e por muitas semanas achei que este fosse o único livro do autor, o que depois bisbilhotando melhor no site de vendas de livros me fez ver o quão sobre-humano ele deve ser, dada a quantidade de livros complexos e extensos de sua produção.
Sobre a experiência de entender a trajetória da solidão na história sob a ótica do Minois, o livro é uma perfeição: tedioso como a solidão em muitas dezenas de páginas, mas creio que mudarei de opinião em uma segunda leitura.
O livro se propõe a trazer dezenas de referências bibliográficas de outros escritores, poetas, pintores, músicos e o que mais estivesse disponível a tratar sobre o tema no passar dos séculos. Começamos no capítulo 1 na antiguidade, consolidando o estudo através dos séculos já do capítulo 2. Somos convidados a entender a evolução social dos padres do deserto no mais distante agrupamento de padres no começo da idade média; saímos das aglomerações solitárias de religiosos e passamos a adentrar na solidão das famílias, dos feudos, dos aristocratas, dos pobres, depois dos filósofos, dos artistas, dos escritores, dos personagens dos escritores, sempre reflexo do mundo ao redor?
Diferentemente de muitas leituras, este livro se torna um titã nos dois últimos capítulos, pois é quando saímos do fim do século XIX e entramos nos séculos XX e XXI.
De todo modo, o estranhamento e tomada de consciência em relação a definição do tema ocorrem logo no começo, e somos questionados desde as primeiras páginas: ?como assim um homem que vive só, no deserto, rodeado de escravos, que conversa com moradores vizinhos semanalmente, se declara um solitário??
E a conclusão que se chega é: nunca estivemos tão sós na história da humanidade; é uma solidão comunicativa, conectada, em que todos estão sós em uma multidão de solitários, todos conectados, e todos infelizes pela frustração de tentar ser gregário em uma sociedade que tem optado pelo isolamento cada vez mais severo.
Por fim, mas não menos importante, o autor traz várias constatações ao longo da história de que a solidão imposta, seja pela prisão, excomunhão, separação, expiação, é sempre a pior solidão que o ser humano pode enfrentar; a solidão forçada é quase sempre inesperada e terrificante; a verdadeira solidão do homem é a solidão voluntária.
Leiam, sejam sós, sozinhos ou solitários, seja na solitude voluntária ou na solidão imposta. O que não dá é viver na era da solidão da comunicação.