spoiler visualizarCida Zientarski 19/10/2023
A Filha da Fortuna (+16)
Meu primeiro contato com a Isabel foi com este livro, que apesar de não ter sido o melhor livro que li em minha vida, explica muito bem a fama da autora. É um clássico que narra a história de Eliza Sommers, uma jovem chilena que foi criada por uma rica família inglesa em Valparaíso. Miss Rose Sommers deu tudo do bom e do melhor para a filha adotiva, que teve, inclusive, acesso a uma educação que outras meninas daquela época não tinham. Então, quando Eliza se apaixona por Joaquín Andieta, um dos empregados do tio adotivo, ninguém imaginava que ela deixaria tudo o que aprendeu para embarcar nas aventuras do amor.
Joaquín é um jovem com os ideais liberais, ideologia que estava, aos poucos, se difundindo pela Europa. Apesar de corresponder aos sentimentos de Eliza, ambos sabem da impossibilidade do relacionamento: naquela época, uma moça bem apessoada casar-se com um "João ninguém" era, no mínimo, uma afronta à sociedade. Sendo assim, quando surge a notícia de que existe ouro na Califórnia, Joaquín não pensa duas vezes antes de ir tentar a sorte por lá, tendo como principal objetivo voltar e dar um casamento digno a Eliza. Meses depois, após uma descoberta que mudaria sua vida para sempre, a protagonista embarca clandestinamente para a Califórnia a fim de encontrar seu amado.
Para quem gosta de livros extremamente descritivos, este é perfeito. Allende fala muito sobre a cultura chilena e diversas outras que acabam surgindo enquanto Eliza viaja escondida no porão do veleiro, o que é legal e interessante até o ponto em que se torna chato e cansativo, pelo menos para mim. A primeira parte da narrativa, que é divida em três, é a mais lenta de todas. Em muitos momentos me deu uma vontade gigante de largar o livro e procurar outra coisa para ler. E é aí que entra o dom de Isabel, que começa a me ganhar no decorrer do texto, como quem não quer nada.
Além disso, eu senti muita, muita falta de diálogos. Eles custam aparecer e, quando finalmente alguém resolve conversar nessa história, não trocam mais do que algumas frases. Acredito que o fato de eu não ter conseguido ler mais do que um ou dois capítulos por dia foi devido essa ausência. Engraçado que a gente não percebe a importância das coisas até que elas nos são tiradas e essa premissa vale muito para os diálogos. Ah, os capítulos são um pouquinho grandes, o que pode incomodar àquelas pessoas que só param de ler quando chegam ao fim deles, como é o meu caso.
O mais interessante é que esse não é um livro sobre um casal que se apaixona e acaba se separando por algum motivo. É muito mais sobre a trajetória de Eliza até encontrar Joaquín do que sobre o encontro de fato. Para uma pessoa que achava que não conseguiria viver feliz e em paz sem um homem, se tornar uma mulher independente e capaz de sobreviver aos piores desafios sozinha foi o melhor aprendizado que Eliza poderia ter, principalmente em um romance histórico que se passa no século XIX.
Acredito que não é aquele tipo de livro que a gente senta e consegue ler de uma vez. Assim como a jornada de Eliza é longa, a nossa como leitores desse livro em especial também é, o que não é necessariamente ruim, afinal. Allende não deu um desfecho real para a história, o que me deixou irada até eu descobri que há uma continuação, Retrato em Sépia.
Quotes favoritos:
"se ela tivesse nascido mil vezes antes e tivesse que nascer mais mil vezes no futuro, viria sempre ao mundo com a missão de amar aquele homem da mesma forma."
"Não diga tontices, o mundo é grande a vida é longa. É tudo uma questão de atrever-se."
"De pouco serve o conhecimento sem sabedoria e não há sabedoria sem espiritualidade." Nem tudo é ciência.
"Nada é em vão. E na vida não se chega a lugar nenhum, Eliza; na vida só se faz caminhar."